A escalada de violência que os Acordos de Oslo não evitaram
Muitos cidadãos israelitas árabes apoiaram a Primeira Intifada ou Guerra das Pedras ( 1987-1983) e ajudaram os palestinianos na Cisjordânia e Gaza, fornecendo-lhes dinheiro, comida e roupas. A Primeira Intifada Palestiniana é um movimento palestiniano com protestos sucessivos e continuados, por vezes com violentos distúrbios de rua, e mostrava a revolta contra a ocupação israelita da Cisjordânia e de Gaza. Várias greves também foram realizadas por cidadãos árabes em solidariedade aos palestinianos nos territórios ocupados. Intifada significa revolta, agitação, rebelião. À Intifada os israelitas responderam com represálias pesadas e gerou-se um clima de ódio e violência que tornava muito difícil assegurar um futuro de paz para ambos os povos. A Irmandade Muçulmana em Gaza forma o movimento Hamas, que rapidamente se transforma em violência contra Israel.
Em Setembro de 1982 acontece o terrível massacre de palestinianos nos campos de Sabra e Shatila em Beirute, massacre feito pelos aliados de Israel no Líbano, os libaneses cristãos falangistas. Comissões governamentais israelitas consideram o ministro da Defesa Ariel Sharon responsável e recomendam sua remoção do cargo. Protestos em massa contra o massacre em Israel galvanizam o movimento anti-guerra.
Em Junho de 1985 Israel retira da maior parte do Líbano, mas continua a ocupar uma “zona de segurança” estreita ao longo da fronteira.
Outubro de 1991 a conferência de Madrid patrocinada pelos EUA e pelos soviéticos reúne representantes de Israel, Líbano, Síria, Jordânia e Palestina pela primeira vez desde 1949. Inicia negociações para normalizar as relações. A participação relutante de Yitzhak Shamir, sob pressão dos EUA, faz cair o seu governo minoritário. Mas em 1992 o partido Trabalhista volta ao poder com o mesmo Yitzhak Rabin. Há promessas para interromper o programa de expansão de colonatos judaicos, e são abertas conversações secretas com a OLP.
Os Acordos de Oslo em 1993 foram um período de otimismo para os cidadãos árabes. O acordo assinado em Oslo pelo mediador Bill Clinton e pelos Primeiro Ministro Israelita Yitzak Rabin e pelo representante da Autoridade Palestiniana Yasser Arafat previam, como pontos chave:
A retirada das forças armadas israelita da Cisjordania e da Faixa de Gaza.
Era reconhecido o direito dos palestinianos terem uma Autoridade Palestiniana como seu representante legal na administração dos territórios, durante cinco anos, de forma interina,até o estatuto definitivo ser acordado.
Problemas pendentes como o estatuto da cidade de Jerusalém, resoluções para proteção e defesa dos refugiados internos e na diáspora, a questão central do estatuto e futuro dos colonatos israelitas construídos nos territórios ocupados sobretudo depois da Guerra dos Seis Dias, questões de segurança de ambos os futuros estados e delimitação de fronteiras.
Estavam previstas três áreas:
- Área A – controle total pela Autoridade Palestina.
- Área B – controle civil pela Autoridade Palestina e controle militar pelo Exército de Israel.
- Área C – controle total pelo Governo de Israel.
A Paz seria o objetivo final do plano que assentava nos Acordos de Oslo.
Durante essa administração de Yitzhak Rabin, os partidos árabes desempenharam um papel importante na formação de uma coligação governamental. A participação crescente de cidadãos árabes também foi vista no nível da sociedade civil. No entanto, a tensão continuou a existir com muitos árabes pedindo que Israel se tornasse um “estado de todos os seus cidadãos”, desafiando assim a identidade judaica do estado.
Em Novembro de 1995 um extremista judeu mata Yitzhak Rabin em Tel Aviv. Shimon Peres assume o cargo de primeiro ministro.
Nas eleições de 1999 para o primeiro-ministro, 94% do eleitorado árabe votou em Ehud Barak. No entanto, Barak formou um amplo governo de centro esquerda-direita sem consultar os partidos árabes, dececionando a comunidade árabe.
A Segunda Intifada palestiniana, recomeçou em Setembro de 2000, depois da insultuosa e arrogante passeata de Ariel Sharon pela Esplanada das Mesquitas e no Monte do Templo, perto da Mesquita Al-Aqsa, (Jerusalém) zona religiosa e consagrada por muçulmanos e por judeus.
As tensões entre árabes e Israel um mês depois, outubro de 2000, quando 12 cidadãos árabes e um homem de Gaza foram mortos enquanto protestavam contra a resposta do governo à Segunda Intifada. Foi aí sobretudo que muitos árabes residentes em Israel se perguntassem para que lhes servia tal cidadania israelita , sem direitos correspondentes. Decidiram boicotar e ignorar as eleições israelitas de 2001 em protesto, o que teve o efeito perverso de ajudar o provocador Ariel Sharon a derrotar Ehud Barak.
De facto, como referido mais acima, nas eleições anteriores de 1999, mais de 90% da minoria árabe de Israel votou em Ehud Barak. A inscrição nos cadernos eleitorais de cidadãos beduínos de Israel caiu significativamente.
Em Maio de 1996 o Likud volta ao poder com Benjamin Netanyahu, que promete interromper quaisquer outras concessões aos palestinianos.
Em Maio de 1999 Maio a coligação liderada por trabalhistas eleita com a liderança de Ehud Barak, promete avançar com as negociações com os palestinianos e a Síria.
Avanços e recuos que para os Palestinianos e para os árabes israelitas nunca trouxeram grande proveito, mas sim grande frustração.
A Guerra do Líbano de 2006, um conflito militar que durou 34 dias no Líbano, Norte de Israel e Colinas de Golã. Os principais adversários em presença foram as forças paramilitares do Hezbollah e as Forças de Defesa de Israel.
Terminou com um cessar-fogo mediado pelas Nações Unidas, na manhã de 14 de agosto de 2006, embora o conflito só tenha terminado formalmente em 8 de setembro de 2006, quando Israel suspendeu o bloqueio naval ao Líbano. Devido ao apoio militar iraniano ao Hezbollah antes e durante a guerra, alguns consideram guerra por procuração entre Israel e o Irão.
Durante esse conflito as organizações árabes de defesa reclamaram que o governo israelita, que investia e se preocupava em proteger os cidadãos judeus dos ataques do Hezbollah, negligenciava os cidadãos árabes. Os abrigos antiaéreos em cidades e vilas árabes eram escassos ou nulos , e não havia informação de emergência em árabe. Muitos judeus israelitas viam a oposição árabe à política do governo e a sua simpatia pelos libaneses como um sinal de deslealdade, o que em nada ajudou ao clima entre os dois povos a viverem lado a lado em conflito e desconfiança permanente.
Em outubro de 2006, as tensões aumentaram quando o primeiro-ministro israelita, Ehud Olmert, convidou um partido político de direita, o Yisrael Beiteinu, para uma coligação de governo. O líder deste partido, Avigdor Lieberman, defendeu uma troca de território baseada na etnia, o Plano Lieberman, transferindo áreas árabes densamente povoadas para o controle da Autoridade Palestina e anexando os principais colonatos judeus na Cisjordânia, perto da linha verde como parte de uma proposta de paz. Os árabes que preferissem permanecer em Israel em vez de se tornarem cidadãos de um estado palestiniano poderiam mudar-se para Israel. Todos os cidadãos de Israel, judeus ou árabes, seriam obrigados a fazer um juramento de lealdade para manter a cidadania. Aqueles que recusarem poderiam permanecer em Israel como residentes permanentes.
Em janeiro de 2007, o primeiro ministro árabe não druso da história de Israel, Raleb Majadele, foi nomeado ministro sem pasta (Salah Tarif, um druso, tinha sido ministro sem pasta em 2001). A nomeação foi criticada pela esquerda, que achou que era uma tentativa de encobrir a decisão do Partido Trabalhista de se unir com Yisrael Beiteinu no governo, e criticado pela direita, que via isso como uma ameaça a Israel como Estado judeu.
Raleb Majadele, agora com 66 anos, é um creditado político árabe israelita com uma conhecida carreira política. Foi o primeiro ministro muçulmano do país, nomeado Ministro sem Pasta em Janeiro de 2007. Membro do Knesset pelo Partido Trabalhista em três períodos entre 2004 e 2015.
Os últimos vinte anos não foram anos de esperança. E o Negócio do Século de Trump em nada vem ajudar a situação.
A radicalização muçulmana para onde foram lançados os Palestinianos que lutavam pela sua dignidade e pelo seu território foram consequência de sucessivas tentativas como como por ex as negociações diretas Setembro de 2010 retomadas entre Israel e a Autoridade Palestina, que falharam por causa dos colonatos israelitas ilegais. O mesmo acontece as tentativas de negociação em 2013.
Os governos de Bibi Netanyahu foram desastrosos, as posições da Europa em nada ajudaram, mas a esperança parece voltar a surgir com estas novas eleições de 2 de Março de 2020.
Por opção do autor, este artigo respeita o AO90