Queria ser também poeta e lembrou-se que já o era e para isso não precisava de voz…
Na catedral dos seus sonhos pintava quadros lindos com temas que ilustravam a liberdade e com plumas multicoloridas inundava o seu travesseiro…
Fazia poesia quando suas talentosas mãos deslizavam pelas curvas desencaminhadoras das modelos que prontamente concordavam em ser eternizadas pelos versos coloridos deste mestre, deste aspirante a cantor. Com seu talento articulado as pessoas aprenderam a ouvir e entende-lo, ponderando os seus feitos. Queria mais… não bastava os amores que despertará em corações antes impenetráveis e os aplausos que arrancará daqueles se faziam ouvir.
Foi mais além, ensinou as pessoas a sentirem a essência da vida, a chorar com quem chora e fazia revolução com suas ilustrações. Ora mendigos que reivindicavam um pedaço de qualquer coisa que devolvesse a sua integridade, ora analfabetos em que conseguia ler a sobrevivência de olhos fechados e o contraste entre o ser e não ter… queria ser a voz do povo e gritar que falta tudo, por isso sentava-se e com a sua varinha tornava tudo menos doloroso.
Desenhou um faminto esfarrapado que trajava uma nova camisola de um partido político qualquer sorrindo para abafar o estrondoso som dos intestinos que choravam por algo quente.
Desenhou um jovem que ostentava na mão direita uma garrafa de cerveja e na esquerda um canudo com certificados e às vezes, abusando das cores, pintava mentes escravizadas e sonhos ofuscados.
Perguntavam-lhe o que pretendia, podia responder, não tinha voz… apenas gesticulava que queria ser poeta…
Agora vou fazer poesias com imagens
A autora escreve em PT de Angola