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João de Sousa

Sexta-feira, Novembro 1, 2024

O Mudo poeta

Queria ser também poeta e lembrou-se que já o era e para isso não precisava de voz…
Na catedral dos seus sonhos pintava quadros lindos com temas que ilustravam a liberdade e com plumas multicoloridas inundava o seu travesseiro…

Fazia poesia quando suas talentosas mãos deslizavam pelas curvas desencaminhadoras das modelos que prontamente concordavam em ser eternizadas pelos versos coloridos deste mestre, deste aspirante a cantor. Com seu talento articulado as pessoas aprenderam a ouvir e entende-lo, ponderando os seus feitos. Queria mais… não bastava os amores que despertará em corações antes impenetráveis e os aplausos que arrancará daqueles se faziam ouvir.

Foi mais além, ensinou as pessoas a sentirem a essência da vida, a chorar com quem chora e fazia revolução com suas ilustrações. Ora mendigos que reivindicavam um pedaço de qualquer coisa que devolvesse a sua integridade, ora analfabetos em que conseguia ler a sobrevivência de olhos fechados e o contraste entre o ser e não ter… queria ser a voz do povo e gritar que falta tudo, por isso sentava-se e com a sua varinha tornava tudo menos doloroso.

Desenhou um faminto esfarrapado que trajava uma nova camisola de um partido político qualquer sorrindo para abafar o estrondoso som dos intestinos que choravam por algo quente.

Desenhou um jovem que ostentava na mão direita uma garrafa de cerveja e na esquerda um canudo com certificados e às vezes, abusando das cores, pintava mentes escravizadas e sonhos ofuscados.

Perguntavam-lhe o que pretendia, podia responder, não tinha voz… apenas gesticulava que queria ser poeta…

Quero ser poeta

Agora quero ser poeta
Para retratar sorrisos revelar desesperos
E com uma pincelada iluminar medos
A coragem ampliar

Mostrar o despertar do germinar da semente
A cor da alegria a tristeza poder maquilhar
O positivo do negativo de sonhar sem lutar
A dor de vencer e a alegria de perder

Agora vou fotografar o sabor da chuva
E o corpo da tempestade
Misturar cores e cheiros
Captar a esperança e abraçar a criação

Mergulhar na areia do deserto
Semear cores na brisa do mar
Traduzir as miragens

Mostrar o quanto sabe um abraço
Onde cabe a saudade…
Onde começa a ansiedade
Onde se perde a vaidade
Onde se ri sem verdade

Agora vou sair por aí
E viver cada dia como se fosse o último

Agora vou fazer poesias com imagens

A autora escreve em PT de Angola

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