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Sexta-feira, Dezembro 20, 2024

O Pai Natal

Beatriz Lamas Oliveira
Beatriz Lamas Oliveira
Médica Especialista em Saúde Publica e Medicina Tropical. Editora na "Escrivaninha". Autora e ilustradora.

O Pai Natal acordou tarde e atrasado. Nos últimos anos isso acontecia-lhe cada vez com maior frequência.

Tentava deitar-se cedo, metia-se no meio dos lençóis bem cheirosos e quentinhos, mas depois, era uma desgraça. Uma ruga no pijama vermelho incomodava-o, uma pena do edredon picava-o, o piar de um mocho fazia-o arrepiar. Com a idade parecia-lhe que estava a ficar guloso. Dentro da cama começava a lembrar-se das bolachas de gengibre ou do bolo rei. Salivava. Chegava-lhe o cheirinho a doce ao nariz, mesmo pelo meio dos bigodes tão bastos! Era obrigado a levantar-se. Não queria ir, mas era atraído para o armário onde guardava os alimentos para o pequeno almoço! E tudo o que devia comer pela manhã, à meia noite estava já na barriga, que essa sim, crescia.

Tudo isto fazia com que adormecesse cada vez mais tarde e acordasse quase ao meio dia. Mas como é que um Pai Natal, digno desse trabalho, podia subir para o trenó depois de aparelhar, nada mais nada menos, do que dez renas buliçosas e chegar a horas de colocar as prendas nos sapatinhos de todas as crianças? As crianças eram outro problema insolúvel: cada vez havia mais meninos e meninas que iam à escola, sabiam ler e escrever, e as cartas que lhe chegavam eram cada vez mais numerosas. Assim era impossível cumprir horários, agradar a todos, satisfazer milhões de crianças e despachar todos os brinquedos e utilidades produzidos na Pai Natal & Cª, que tinha sido fundada pelos seus ricos antepassados há uns milhares de anos. Tudo estava comprometido! A tradição, a alegria das crianças, o sapatinho cheio de alegrias.

Ilustração: A Rena, de Beatriz Lamas Oliveira

O Pai Natal pensou e subitamente sentiu-se inspirado: Ia enviar uma mensagem a todos os Pais do mundo, ia explicar-lhes que estava já muito velhinho e não conseguia dar conta da missão que lhe estava confiada. Poderiam os excelentíssimos pais, substituírem-no, pelo menos durante alguns anos, e comprarem as prendas que os filhos desejavam ou necessitavam? Podiam manter este acordo em segredo. O Pai Natal tiraria uma longuíssima soneca e , enquanto isso os pais tomavam conta da noite da consoada. Todos receberam a mensagem. Todos compreenderam as dificuldades do Pai Natal. E todos concordaram que quem quisesse não contava nada disto aos meninos e meninas.

Podiam continuar a apontar para o céu e a dizer:

_Já ouço os sinos das renas. Ele está a chegar! Amanhã procurem nos sapatinhos a surpresa que ele vos vai deixar.

 

Ilustração: Lareira da Pai Natal, de Beatriz Lamas Oliveira


Por opção do autor, este artigo respeita o AO90



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