Poema inédito de Beatriz Aquino
O percurso
Também eu
escuto os caminhos ocultos.
Canso os pés
nessas mesmas pedras.
Entrego os anseios aos comandos geográficos.
No final do dia é a terra quem manda.
Nós nada sabemos.
Tolos pensantes em busca de um chegar.Encruzilhadas, atalhos, high ways de horizontes trêmulos.
Todos vítimas do mesmo delírio.‘Sê vulnerável.’
Diz Handke.“Vem para o espaço aberto.”
Disse outro.Não atendo.
Encurto o passo.
Abrevio o gesto.
É alto o grito na arena.
Estar alheio, por vezes, é tragedia bem desejada.Rascunho um poema no meio do caminho como mapa para algum sol.
Mas ele não me convence.Retomo o percurso.
Das janelas nenhum aceno.
Velhas cansadas, senhores de esperança manca.
O silêncio coletivo é hálito à espreita.
A morte senta-se à sala, tamborila os dedos na mesa.
Está nervosa.
E não espera.Nos muros,
feras raivosas e minúsculas brincam na hera.
E ali conchavam o futuro dos homens.
Ao longe, alguém entoa uma lenga lenga antiga para crianças que dormem um sono de cinzas.Em voz baixa, concluo:
É fatídico esse dia.
É tudo que sei…
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