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João de Sousa

Sábado, Dezembro 21, 2024

O pioneiro filme Crônica de um Verão

Apesar do título simples, esse Chronique d’ un Été, criado no final dos anos 50 por Jean Rouch e Edgar Morin, e lançado e premiado no Festival de Cannes de 1961, é uma das mais importantes obras do ponto de vista histórico para o cinema, tendo começado o cinéma verité (cinema verdade).

Certamente, ainda existem moradores em João Pessoa (PB) que lembram da passagem demorada de Jean Rouch pela cidade e muitos dos seus ensinamentos, que ficaram plantados para o pessoal dos anos 70. Mas todos os outros estudantes de cinema, não só da Paraíba, poderão retomar os debates da época se colocarem a obra Crônica de um Verão no acervo ativo das suas escolas.

Por sinal, o crítico e professor André Dib, que mora e atua na Paraíba, me avisa que o filme está programado para passar no próximo dia 1º de agosto em João Pessoa, às 18 horas, no IFPB Jaguaribe.

Foram dois cientistas sociais que criaram o nome cinéma verité a partir desse filme feito em Paris. Ambos eram ligados aos estudos sociais. Jean Rouch era antropólogo, e Edgar Morin, sociólogo e antropólogo. Nos anos 50, Edgar Morin já era conhecido no Brasil – e no Recife lemos alguns dos seus trabalhos.

Vendo o filme agora, sentimos que a presença de Rouch é preponderante para a criação de um contexto cinematográfico. Embora ele pense tanto no que deve ser o novo cinema, demonstra uma extraordinária capacidade para a criação de uma linguagem esteticamente notável.

Mesmo que o principal seja criar um conteúdo, isso não impede que o filme tenha em todos os momentos um muito bom ritmo narrativo. E tenha momentos de grande beleza plástica, como nas imagens em que uma das moças caminha pela praça Concorde e também quando segue por um imenso túnel e a cena termina com uma dança coletiva ao som de uma banda de harmônica.


Edgar Morin e Jean Rouch, a dupla por trás de Crônica de um Verão

Edgar Morin certamente influencia mais na composição conteudística, estabelecendo as pesquisas nas ruas de Paris sobre o que é felicidade e depois conduzindo os estudos mais aprofundados em torno do que cada um faz para construir suas vidas. Mas são muito importantes todos os debates que se desenvolvem durante grande parte do filme sobre como se comportar ou não diante das câmeras. É bom lembrar que a produção contou com Jean-Jacques Tarbès, Michel Brault, Roger Maurice e Raoul Coutard – este se transformou num dos maiores fotógrafos do cinema europeu.

Com o chamado “cinema verdade”, os cineastas ficaram dispensados de criar um roteiro acadêmico, um som para acompanhar todas as cenas, o ambiente conduzir a estrutura cinematográfica, e a câmera ou o cameraman ficou livre para criar movimentos no próprio momento da filmagem, o que modificou também muitos outros elementos fílmicos.

O filme é pensado com antecedência, mas durante a produção há sempre uma maior liberdade para criar. Artistas como Glauber Rocha e Jean-Luc Godard se interessaram muito pelos ensinamentos do cinéma verité.


por Celso Marconi, Crítico de cinema, referência para os estudantes do Recife na ditadura e para o cinema Super-8  | Texto original em português do Brasil

Exclusivo Editorial PV / Tornado


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