José Andrade de Lemos é o primeiro Embaixador Extraordinário e Plenipotenciário da República de Angola a ser acreditado na República Democrática de Timor-Leste (RDTL).
A RDTL, pela primeira vez, tem um embaixador de Angola, um embaixador dos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP) e um embaixador de África, coincidências que se irão tornar históricas e são dignas de registo.
Efectivamente, no mês passado, no dia 23 de Maio, José Andrade de Lemos apresentou ao Presidente José Ramos-Horta as cartas credenciais que o reconhecem oficialmente como Embaixador Extraordinário e Plenipotenciário em Timor-Leste.
Ao nível da CPLP, a partir desta data, Timor-Leste passa a ter representações diplomáticas de Angola, Brasil e Portugal, provenientes de continentes diferentes, onde se fala a língua portuguesa, portanto, a lusofonia fica mais reforçada neste país do sudeste asiático, numa altura em que Timor-Leste prepara a sua adesão formal, em 2025, à Associação dos Países do Sudeste Asiático (ASEAN).
Quem é o Embaixador José Andrade de Lemos
O Embaixador José Andrade de Lemos, natural de Luanda, nasceu em 28 de Setembro de 1972.
O percurso académico deste diplomata é muito vasto, tendo percorrido universidades de vários países. Com a licenciatura em Estudos de Desenvolvimento de Gestão e Empreendedorismo (Womens´s University in Africa) e um mestrado em Liderança Empresarial, Governança, Paz e Ética (Universidade Calvary) fez estudos de doutoramento em Filosofia e Diplomacia em Relações Internacionais na Universidade de Stafford.
A trajectória diplomática e política do Embaixador de Angola em Timor-Leste teve início no período 1993-1995, no Consulado Geral da República de Angola em Faro (Portugal).
Entre 1995 e 2000 desempenhou funções de assessoria no Ministério das Relações Exteriores da República de Angola.
No período compreendido entre 2000 e 2013, cumpriu funções diplomáticas nas Embaixadas de Angola na Zâmbia, no Zimbabwe e na África do Sul.
Em 2013 regressa ao Ministério das Relações Exteriores da República de Angola com o cargo de Ministro Conselheiro.
De 2014 a 2019 cumpriu múltiplas funções e cargos. Foi Embaixador Extraordinário e Plenipotenciário nos Emirados Árabes Unidos, Representante Permanente junto da Agência de Energias Renováveis e Embaixador de Angola não residente no Reino da Arábia Saudita, no Kuwait, no Qatar e no Bahrain.
Após ter concluído a missão nos Emirados Árabes Unidos, até ser nomeado Embaixador de Angola em Timor-Leste, Andrade de Lemos exerceu funções no Ministério das Relações Exteriores da República de Angola, como Conselheiro, no Gabinete da Secretária de Estado das Relações Exteriores.
Angola sempre apoiou a luta de libertação de Timor-Leste
A República de Angola foi um dos países que de forma indefectível apoiou a causa de Timor-Leste, em termos diplomáticos, políticos e financeiros.
No domínio diplomático e político, os diplomatas de Angola e dos outros países dos PALOP, na Organização das Nações Unidas (Nova Iorque), sempre defenderam a autodeterminação e independência de Timor-Leste, em concreto, mediante a aprovação de resoluções da ONU a favor da causa de Timor-Leste e na apresentação de petições no Comité de Descolonização das Nações Unidas, em Nova Iorque, em defesa da autodeterminação e independência.
Portanto, é de elementar justiça enaltecer o apoio de Angola à causa de Timor-Leste.
Note-se que os representantes da Resistência Timorense no exterior, durante a luta de libertação, nomeadamente aqueles que estavam residentes em Angola (e em Moçambique) tinham o estatuto oficial de Embaixador e eram portadores de Passaporte Diplomático, beneficiando do mesmo status atribuído a diplomatas de outros países.
Um outro amparo fundamental de Angola foi o elevado auxílio financeiro entregue à Resistência Timorense no exterior para apoiar as despesas diplomáticas e a luta de libertação nacional.
Mas, o apoio político e diplomático à luta de libertação de Timor-Leste não se limitou à ajuda dos membros da resistência fixados em Angola com o estatuto de embaixador e aos timorenses que exerciam acções e actividades nas Nações Unidas, em Nova Iorque.
De facto, relembro, com elevada gratidão e reconhecimento, o apoio político e de ordem logística que recebi do Embaixador de Angola (José Patrício), na década de 90, em Washington, D.C., numa missão conjunta com o nacionalista Vicente da Silva Guterres.
Igualmente, recordo a disponibilidade do saudoso Embaixador Rui Mingas, em Portugal, o auxílio do saudoso Embaixador Assunção dos Anjos, em Espanha, as portas que se abriram por orientação do Gabinete da Presidência da República de Angola, entre outros apoios, numa demonstração inequívoca de ajuda à causa timorense.
É devido em grande parte a este passado histórico que o Embaixador Andrade de Lemos declarou haver um desejo de Angola em “estreitar as cordiais relações existentes entre os dois países”.
Numa nota pública, Andrade de Lemos referiu que o país está a proceder a “reformas políticas, económicas e legislativas” e destacou que uma das prioridades será iniciar o “intercâmbio de visitas ao mais alto nível, através dos Presidentes da República de Angola e de Timor-Leste” e também da mobilidade “entre membros do governo e empresários dos dois países”.