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Terça-feira, Dezembro 24, 2024

O que o primeiro-ministro não vai dizer ao Presidente…..

Estrela Serrano
Estrela Serranohttps://vaievem.wordpress.com/
Professora de Jornalismo e Comunicação

O Presidente Marcelo parece um jogador de futebol encarregado de, no campo, marcar o adversário. Mal o governo abre a boca sobre qualquer assunto relevante lá vem Marcelo interpretar ou pontuar o que é dito, de modo a que a sua versão se sobreponha ou anule a do governo.Ontem, porém, o Presidente foi mais longe num assunto sensível que devia tê-lo levado a ouvir o que foi dito e pensar antes de comentar. Mas a sua vocação de comentador impede-o do recuo que seria necessário à sua função de Presidente da República.

Foi o caso de o primeiro-ministro, que se encontra em Bruxelas, se ter referido à situação financeira de Portugal com as seguintes palavras:

“Foi um ano particularmente saboroso para Portugal.” (…) Há um ano estávamos aqui, apesar de tudo, já a celebrar não nos terem sido aplicadas sanções, estávamos aqui com alguma esperança de que iríamos conseguir mesmo sair do procedimento por défice excessivo. Mas, a verdade é que podemos olhar para o ano de 2018 já sem receio de sanções, já sem receio de termos de ter novas discussões sobre décimas nominais ou estruturais para o procedimento de défice excessivo (…)”

O Presidente, à margem de um evento onde se encontrava e seguramente sem o contexto das palavras do primeiro-ministro, veio comentar e desdizer as suas palavras:

“Haja memória daquilo que aconteceu” (…) Não haja ideia de que o ano foi todo muito bom, com um pequeno problema que foram as tragédias. Não é verdade. Houve neste ano o melhor e o pior.” 

Esta atitude do Presidente, depois dos seus comentários à eleição do ministro Mário Centeno para o Eurogrupo,  confirma que Marcelo pretende ofuscar os sucessos conseguidos pelo governo na área económica e financeira, chamando constantemente a atenção para a tragédia dos incêndios, como se os portugueses não pudessem mais ter um momento de alegria por um objectivo alcançado pelo governo e reconhecido internacionalmente.

O Presidente sabe que o primeiro-ministro não vai dizer-lhe o que outro no seu lugar talvez lhe dissesse e que seria algo assim:

“Descanse, senhor Presidente, que o governo não esquece a tragédia, como pode ver pelo trabalho que está a ser feito no terreno e no apoio às vítimas. Mas, senhor Presidente,  o luto e a dor não precisam de tanto ruído e a memória dos que desapareceram não precisa de exibição antes requer recato e mesmo algum silêncio.”

O Presidente não quer que se esqueçam os incêndios, matéria que elegeu como desígnio do seu mandato. Ninguém, aliás, quer nem pode esquecê-los. Mas a exibição dos incêndios como tema e cenário de protagonismo político-mediático permanente é, no mínimo, de gosto duvidoso.

Exclusivo Tornado / VAI E VEM

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