O Presidente Marcelo parece um jogador de futebol encarregado de, no campo, marcar o adversário. Mal o governo abre a boca sobre qualquer assunto relevante lá vem Marcelo interpretar ou pontuar o que é dito, de modo a que a sua versão se sobreponha ou anule a do governo.Ontem, porém, o Presidente foi mais longe num assunto sensível que devia tê-lo levado a ouvir o que foi dito e pensar antes de comentar. Mas a sua vocação de comentador impede-o do recuo que seria necessário à sua função de Presidente da República.
Foi o caso de o primeiro-ministro, que se encontra em Bruxelas, se ter referido à situação financeira de Portugal com as seguintes palavras:
O Presidente, à margem de um evento onde se encontrava e seguramente sem o contexto das palavras do primeiro-ministro, veio comentar e desdizer as suas palavras:
Esta atitude do Presidente, depois dos seus comentários à eleição do ministro Mário Centeno para o Eurogrupo, confirma que Marcelo pretende ofuscar os sucessos conseguidos pelo governo na área económica e financeira, chamando constantemente a atenção para a tragédia dos incêndios, como se os portugueses não pudessem mais ter um momento de alegria por um objectivo alcançado pelo governo e reconhecido internacionalmente.
O Presidente sabe que o primeiro-ministro não vai dizer-lhe o que outro no seu lugar talvez lhe dissesse e que seria algo assim:
“Descanse, senhor Presidente, que o governo não esquece a tragédia, como pode ver pelo trabalho que está a ser feito no terreno e no apoio às vítimas. Mas, senhor Presidente, o luto e a dor não precisam de tanto ruído e a memória dos que desapareceram não precisa de exibição antes requer recato e mesmo algum silêncio.”
O Presidente não quer que se esqueçam os incêndios, matéria que elegeu como desígnio do seu mandato. Ninguém, aliás, quer nem pode esquecê-los. Mas a exibição dos incêndios como tema e cenário de protagonismo político-mediático permanente é, no mínimo, de gosto duvidoso.
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