O livro é mau, é fraco, a personagem exibe dotes perversos, o livro é desinteressante, não presta, é medíocre, como o líder do Chega. O problema é que há gente que não “lê” convenientemente, não interpreta, não compreende, é ignorante e acha que o Sr. Ventura é um bom livro.
Maria Vieira, a Parrachita, por estes dias mandatária nacional da candidatura de André Ventura à presidência da República e putativa amante do candidato, suspeita quase aumentada para certeza depois de Parrachita ter cantado os “Parabéns a você” em inglês e imitado (muito mal, como seria de esperar) Marilyn Monroe que, toda a gente sabe, era amante de John Fitzgerald Kennedy, o presidente dos Estados-Unidos da América da altura, e de ainda lhe ter dado um beijo na nuca, reagindo Ventura com um mal-disfarçado desdém e um trejeito de lábio como tentativa desesperada de esconder o revelado por tal beijo e pela “sedutora” dança de osga lúbrica que Parrachita fizera para excitar a obscena mente de Ventura.
Veio Parrachita dizer que os famosos insultos de Ventura durante o comício recente em Portalegre se deveram ao simples facto do líder do “Chega” ter estado “bem-disposto” e “que não fez por mal”, esclarecendo ainda que o Ventura não estava alterado por ingestão descontrolada de bebidas alcoólicas: “Não, nem pensar nisso, ele até nem bebe muito”. Talvez a actriz quisesse dizer que Ventura estaria embriagado de amores por ela e que este estado de loucura emocional o terá feito desviar-se do seu habitual polido e educado discurso, pois ele não é mal-intencionado nem pretende maltratar ninguém, às vezes dá-lhe é para a graçola inconsequente e sem qualquer intenção de ferir a sensibilidade dos visados.
Aliás, dentro do círculo mais privado dos acólitos mais devotos do candidato, como Fernando Jorge Serra Rodrigues, salazarista devoto, defensor da ditadura fascista do Estado Novo e famoso autor da saudação nazi num jantar de apoio a André Ventura, no Porto, Luís Filipe Graça, ex-dirigente do PNR e do Movimento de Oposição Nacional, embrião dos neonazis da Nova Ordem Social, que apareceu em vídeos com skinheads em protestos, Jaime Nogueira Pinto que, segundo Steven Forti, na sua obra «Chega, la nueva ultraderecha portuguesa», é “o grande pai da extrema-direita portuguesa desde o fim da ditadura salazarista”, Paulo Lalanda de Castro, empresário, referenciado nos “Panama Papers”, “Operação Marquês” e nos “Vistos Gold”, acusado de corrupção no processo Máfia do Sangues, dono da “Intelligent Life Solutions”, empresa que André Ventura ajudou a ilibar no pagamento de mais de 1 milhão de Euros em IVA, enquanto Inspetor Tributário, entre outros de igual e insuspeita qualidade, já se comenta este hipotético enleio sem qualquer desassombro e até com sinais claros de aprovação de mais esta afirmação da qualidade de macho alfa do Ventura, havendo alguns mais malandrecos que até já chamam a Maria Vieira a “Pachachita bem-aventurada”.
Eu concordo com Maria Vieira, pois Ventura é um homem de palavra, de convicções e ideias, nunca se desviando do que disse, comprovando esta sua rectidão (e desmascarando o impropério que a ele foi dirigido pelo seu “primo” ideológico, o candidato Tiago Mayan Gonçalves, que o apelidou de “troca-tintas”) com estas sinceras e sentidas palavras que publicou no “Tweet” no dia 6 de Maio de 2019: “O insulto e a difamação pública sempre foram e sempre serão as armas dos que não têm razão.“ Embriagado de forma clássica ou embriagado de amores adúlteros pela Parrachita, eu acredito na palavra desta, pois, depois de Trump publicar todas as verdades sobre falsos jornalistas, falsas notícias e de dizer que houve fraude nas eleições presidenciais dos Estados-Unidos, a ninguém restará dúvidas de que Ventura é um homem da verdade e nada demagógico, sinuoso ou invertebrado. Percebe-se até que, na verdade, Ventura não proferiu verdadeiros insultos a ninguém, pois nas redes sociais só se comenta e apoia a candidata Marisa Matias, a quem este se referiu como tendo “lábios muito vermelhos” que, como insulto, não parece muito ofensivo (embora reconheça que ele pretendia ridicularizar a sua adversária ou referir, como ele gosta, que aquele vermelho vivo era sinónimo de extrema-esquerda), comparado com os outros que proferiu, praticamente ignorados pela população das redes sociais e dos órgãos de comunicação, como chamar a João Ferreira “operário beto de Cascais”, “avô bêbedo” a Jerónimo de Sousa, “fantasma” e “esqueleto” a Marcelo Rebelo de Sousa, “contrabandista” a Ana Gomes, se bem que, neste caso, alguma razão lhe assiste, pois o – o Infarmed, a Autoridade Nacional do Medicamento e Produtos de Saúde, IP, recordou que a importação de medicamentos para uso pessoal é proibida e que existem “riscos para a saúde” associados a essa prática, apesar do exagero do insulto.
O que mais admira é que poucos se terão indignado com os insultos a Marcelo e a Jerónimo de Sousa ou João Ferreira. Penso que alguns ainda terão pensado em colocar nas suas contas das redes sociais algumas fotos secretas em que aparecem completamente embriagados, mas seriam muito degradantes e além dos “likes” de riso poderiam expor-se em demasia e arruinar a reputação de gente bem-comportada. Isso ninguém quer (nem a carbonização da sua reputação nem poucos “likes” ou muitos “dislikes”). Para apoiar o João Ferreira, como fizeram a Marisa Matias, ficaria bem a estes internautas e postadores inveterados tirar uma foto com uma foice numa mão e uma mala Gucci no braço ou com um martelo na mão e um Rolex no pulso. Sei bem que muitos poucos terão malas Gucci ou relógios Rolex, que é muito mais fácil adquirir um batom vermelho, mas com um bom programa de edição de fotos seria muito simples colocar um destes objectos numa fotografia. E para apoiar Marcelo nada melhor do que recorrer ao Photoshop e cortarem no perímetro abdominal, nas coxas, nos braços ou esticarem excessivamente um foto e escrever uma legenda a dizer “Orgulhosamente esqueleto” ou meter a cara num prato de farinha, levantar a cara, tirar uma “selfie” e postar a foto com um “Eternamente fantasma”. Creio, até, que o insulto de Ventura a Marisa Matias terá gerado mais votos para a candidata do BE do que a sua relativamente apagada campanha política.
Na verdade, depois de há uns tempos ter lido o livro de Miguel Torga, “Senhor Ventura”, nunca pensei encontrar um personagem tão parecido em carácter e nome com o protagonista como é este André Ventura, líder do CHEGA (o nome do partido é um acrónimo que resulta das seguintes palavras ou expressões: “C” de Cu Clux Clan (sempre saudosos do Estado Novo continuam a seguir o Acordo Ortográfico ratificado pela Ditadura de Salazar em 1945, que não considerava a inclusão das letras K, W ou Y), “H” de Homofobia, “E” de Etnofobia, “G” de Gacista (consta que um dos criadores deste acrónimo sofria de dislalia e trocava o “R” pelo “G”) e “A”, em homenagem aos inspiradores António (de Oliveira Salazar) e Adolf (Hitler) ).
O protagonista do livro de Miguel Torga, o “Sr. Ventura”, é o pícaro luso que se aventura pelo mundo, que encantou amigos e companheiros e que ficou “agarrado” ao grande amor da sua vida, Tatiana, a russa que nunca lhe retribui a grandiosidade do seu amor. Mas este não é um herói clássico. É mais um anti-herói. As suas aventuras envolvem sempre a matreirice, aquele carácter “desenrascado” que muitas vezes não hesita em sair dos limites da lei. Um malandro, em suma. Mas, como qualquer malandro, o Senhor Ventura também se apaixonou… O “Sr. Ventura” é o único suspeito da morte de um homem, mas acaba absolvido. Foge ao serviço militar, é um desertor que viaja para a China. Por causa do seu filho, envolve-se na produção e tráfico de heroína e é expatriado pelo governo chinês. Livro escrito ainda nos alvores da juventude por Miguel Torga e só tardiamente publicado, em nada se assemelha em génio, interesse e qualidade literária ao genial poeta que foi Miguel Torga. O livro é mau, é fraco, a personagem exibe dotes perversos, o livro é desinteressante, não presta, é medíocre, como o líder do Chega. O problema é que há gente que não “lê” convenientemente, não interpreta, não compreende, é ignorante e acha que o Sr. Ventura é um bom livro.