O futebol é o desporto mais popular do mundo, mas continua a ter uma maior expressão na Europa e na América do Sul, apesar do esforço de outras confederações e federações de vários países para desenvolver a modalidade e a qualidade dos seus praticantes.
É o caso da China, por exemplo, presente em vários clubes portugueses, como o Torreense SAD, propriedade de um empresário chinês há alguns anos. Os adeptos já se habituaram a ver no plantel jovens jogadores chineses, que estão em Portugal para aprender. Dois deles (Lingfeng e Feng Boxuam) estão já a alinhar em equipas de topo da China Super League, o principal campeonato daquele país asiático.
Não obstante este investimento, a verdade é que não chega ainda ao nível das ligas europeias. Mesmo as sul-americanas acabam por estar um degrau abaixo, em virtude da vinda dos melhores jogadores para os principais clubes da Europa.
Soccer ou futebol?
O caso dos Estados Unidos da América é outro exemplo. Tem havido investimento para desenvolver a MLS (Major League Soccer), sobretudo com contratação de estrelas do futebol pelos principais clubes, à semelhança do que acontece na China.
Na América existe uma forte concorrência de outras modalidades desportivas, como o futebol americano (para os americanos este é o verdadeiro futebol), o hóquei no gelo, o basquetebol ou o basebol. Surpreende até o êxito do futebol feminino naquele país, em oposição ao masculino. A selecção feminina norte-americana de futebol já foi três vezes campeã do mundo e nas seis edições que tiveram lugar desde 1991 ficou sempre nos três primeiros lugares, para além de ter acolhido por duas vezes a fase final. É a actual campeã do mundo, título que vai defender este ano em França.
A explicação está no facto de nos Estados Unidos a formação desportiva passar essencialmente pelos campeonatos escolares (ao invés dos clubes, como acontece na Europa). Os rapazes escolhem várias modalidades mais masculinas, como o basebol, o hóquei no gelo ou o futebol americano. Há, portanto, mais raparigas a escolherem o soccer como modalidade desportiva na escola e daí o sucesso da vertente feminina em oposição à masculina.
Mas há muitas excepções e o futebol masculino tem vindo a crescer imenso no país, quer a nível de espectadores, quer no que diz respeito aos praticantes. São sobretudo jovens latino-americanos, que herdaram da família o gosto pelo futebol.
Futuros craques
São os casos de dois jogadores da equipa de juniores do Torreense, a disputar a série D da 2ª Divisão Nacional do escalão. Ambos têm 18 anos, oriundos de Filadélfia, e estão desde Julho do ano passado em Torres Vedras, ao mesmo tempo que estudam. Nick é lateral direito e filho de pai português. Marcelo é avançado, filho de pai chileno e mãe alemã.
Por influência da família, Nicholas Alexander Santos e Marcelo Josef Ibarra cedo começaram a gostar de futebol. São amigos de infância e juntos jogaram nas equipas dos colégios onde estudaram, tendo em mente uma oportunidade na Europa. Ambos querem ser jogadores profissionais e vão sonhando com o futuro. Nick confessa ser adepto do Benfica, revelando a sua costela portuguesa. Já Marcelo prefere a liga inglesa.
Há um ano fizeram testes no Benfica, mas em virtude de ainda terem 17 anos acabaram por não ficar, devido a dificuldades burocráticas. Entretanto, já com 18 anos e maiores de idade, vieram treinar ao Torreense. Tudo aconteceu através de José Pedroso, antigo jogador do Torreense e a residir na mesma cidade norte-americana dos dois jovens. Os contactos foram estabelecidos e ambos acabaram por vir defender a equipa de juniores do Torreense, ao mesmo tempo que estudam em Lisboa, no CIAL – Centro de Línguas, onde estão a aprender português.
A língua foi o principal obstáculo destes atletas em Portugal. Nick é filho de um português mas não falava uma única palavra na língua lusitana. Marcelo diz apenas algumas coisas em castelhano. As saudades da família é outra dificuldade, por isso os familiares vieram já duas vezes a Torres Vedras visitá-los e no Natal foram eles que fizeram umas férias em Filadélfia.
Os dois jogadores sentem-se bem em Torres Vedras, uma pequena cidade, pacata e agradável, que lhes tem facilitado muito a integração na comunidade. Consideram que na equipa de juniores o grupo é muito bom e tem ajudado muito na adaptação deles.
Do ponto de vista técnico, entendem que em Portugal o futebol é diferente daquele praticado nos EUA. Aqui é mais intenso e mais competitivo. Mas vão conquistando o seu lugar. Marcelo, como é avançado, tem tido mais espaço na equipa. Nick encontra mais concorrência no plantel, mas vai-se impondo. Para já ficam no Torreense até ao final da época, depois logo se vê até onde podem ir estes futuros craques.
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