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Domingo, Novembro 3, 2024

Obituário de sons e casas secas

Vitor Burity da Silva
Vitor Burity da Silva
Professor Doutor Catedrático, Ph.D em Filosofia das Ciências Políticas Pós-Doutorado em Filosofia, Sociologia e Literatura (UR) Pós-Doutorado em Ciências da Educação e Psicologia (PT) Investigador - Universidade de Évora Membro associação portuguesa de Filosofia Membro da associação portuguesa de Escritores

A norte, imbondeiros enfeitados como divas num disfarce para estrofes quem escreverá um dia este encanto sem formas, se desenhos nas paredes da Prússia ou na álgebra dos meus mais antigos ditongos a quem chamavam de fundos para secar à tardinha.

Os lutos vergam a sombra, o ritual desfila enfadonho onde só lágrimas sorvidas apenas pelo tempo e mesmo assim será breve. De resto, já folhas secas na planície deste resto de texto inacabado, a morte levou consigo todo o meu ideal do sonhar e cantar, contar as palavras para que não atinja limites extremos, sim, embora nunca me canse de estar sempre à volta dos meus vultos.

E ler jornais, quais jornais qual quê, sentir na pele a voz do obituário do tema, enfatizar o tipo morreu era desviado frequentava ambientes inadequados e morremos afinal todos, mesmo sem esses rituais descritos numa página qualquer desses jornais de velhas já sem nada para fazer na vida, basta ver televisão e o noticiário e já o mundo a informou de todas as mais sabedorias de todos os fundos de mares por descobrir ainda. E amanhã desminto, ou melhor corrijo, não era intenção aquilo, mas por lapso o editor nem reparou, pois é, jogava o benfica e isso era mais importante que valorizar a vida, sentir a morte, aquilo que nos consubstancia enquanto seres. Tudo isso são folhas secas, já todas secaram e a memória morreu, mexemos apenas os braços para o deleite do bife bem tenro e adocicado que bela era a vaca que nos deu.

Que entenderão então quando me refiro ao

“obituário de sons e casas secas”

pois, palavras só palavras. Mas a vida não são só palavras. Mas que ninguém fale, entenderei que de facto as palavras de nada valem.

Nasci rico de silêncios e de nada ouvir. Cansam-me as melodias repetitivas das imensidões. O som do silêncio tem uma melodia que nem sequer imaginam, debrucem-se e pensem, caso queiram, ah. Como cansa ter de ser diferente, as multidões enchem estádios, concertos de músicas enfadonhas de barulhos que me fazem sentir loucuras pelas veias nesta casa de onde nunca saio. Prefiro secar-me adormecido já que terei mesmo que morrer, que importa a viagem maravilhosa a Paris se no dia seguinte já não existo para a contar?

Sento-me de vez em quando nos bruços deste mar que me incendeia vontades e viagens, contá-las ei garanto nestas resmas para ninguém, para as revistas do

“era o tal!”

Inscrito agora no obituário de um diário qualquer. Uma foto e pouco mais. Que adianta chorarem?


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