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Sábado, Agosto 24, 2024

Obras na Cidade

Rui AmaralLisboa está transformada num grande estaleiro tal como aconteceu aquando da Expo 98.

Desta vez não se trata do lançamento de nenhum evento mas sim da antecipação das eleições autárquicas de 2017. É um fenómeno característico da nossa democracia.

A marcação horizontal das avenidas e ruas das cidades (Lisboa não é caso único) só se faz em vésperas de eleições. Traduz a falta de planeamento e de alocação racional de recursos e é um sinal da tradicional incapacidade de gestão classes dirigentes, publicas e privadas, do nosso país.

As actuais obras na cidade de Lisboa estão a ser aproveitadas, e bem, para se actuar nas infra-estruturas subterrâneas.

Infelizmente, à superfície, continua a ser patente a falta de soluções normalizadas, com os inerentes custos acrescidos, e, mais grave, insiste-se em soluções comprovadamente inadequadas.

A utilização do empedrado na via de rodagem é uma delas. Ao fim de pouco tempo transforma-se num sobe e desce, desgastando as suspensões dos carros, prejudicando a coluna dos motociclistas, dificultando a utilização da bicicleta e contribuindo para a poluição sonora.

No caso da Ribeira das Naus houve que substituir o piso de madeira sem que os responsáveis tenham sido, ao que se sabe, responsabilizados. O empedrado já é uma verdadeira montanha russa. Junto ao Palácio de Belém já houve que reparar o empedrado, insuficientemente, inaugurado há bem pouco tempo.

O cidadão paga!

Estando algumas zonas de Lisboa com um nível de ruído elevado (acima do máximo permitido pelas regras da UE) não se percebe porque se insiste em soluções geradoras mais ruído.

Tanto a não impermeabilização dos solos como a estética, que podem ter justificado a adopção desta solução, têm alternativas que não passam por soluções mistas de colocar o empedrado nas paragens dos transportes públicos e nas passadeiras de peões. Neste caso basta observar que muitos automóveis mudam de via para não terem de passar pelo empedrado e se a paragem muda de sítio … mais obras?

As obras são realizadas sem o necessário levanto das necessidades da população utilizadora, que são os clientes para quem se deve trabalhar. Conceito diferente de utente. Aquele pressupõe uma atitude de servir enquanto este realça o direito de usufruir.

É o caso dos lugares de estacionamento.

Frequentemente, após as obras, há menos lugares de estacionamento, quando os que existiam já eram exíguos face às necessidades.

O argumento da dissuasão da utilização do transporte privado não colhe quando isto se verifica em zonas eminentemente residenciais. Resulta o estacionamento nas faixas de rodagem e em segunda fila dificultando a fluidez do trânsito.

A polícia, sensível aos problemas da população, tem dificuldade em actuar e autuar porque tem consciência da inexistência de alternativas.

Os novos lugares de estacionamento (mais uma falta de normalização ou normalização errada) são mais pequenos levando a que se estacione, muitas vezes, com duas rodas na faixa de rodagem.

No domínio da política de implementação de medidas destinadas à acalmia do trânsito, em linha com as políticas seguidas noutras cidades da UE, assistimos a incongruências várias.

Não se sobre-elevam as passadeiras de peões o que é uma medida adequada para acalmar o trânsito reduzindo a velocidade e protegendo o peão. Pelo contrário, baixam-se os passeios, na zona da passadeira.

Esta solução não baixa a velocidade de circulação e representa uma incomodidade para os peões, em especial os idosos, que já têm que se confrontar com pisos irregulares ou com a malfadada calçada portuguesa artesanal (podia ser industrial sem estes inconvenientes).

Acresce que a calçada tem um custo maior, tem elevados custos de manutenção e passado pouco tempo o piso fica irregular sendo responsável por muitas quedas. Não só de idosos.

Num país com uma boa lei de indemnizações estas soluções, lesivas do cidadão, já tinham acabado.

A falta de respeito para com o “cidadão peão” é tal que em passeios com dois tipos de piso, um adequado ao peão e outro com calçada portuguesa, este último é situado na zona de circulação do peão e aquele entre as árvores.

Outra incongruência está no lancil dos passeios na zona de acesso a garagens. Inventou-se um lancil demasiado alto para os carros mais baixos. Acontece o mesmo que nos estacionamentos cobertos: ninguém se preocupa em ver as paredes riscadas e interrogar-se sobre o porquê da situação para melhorar soluções futuras.

A par do peão também o motociclista não se encontra na lista de preocupações. Sendo os carris de eléctricos um dos mais perigosos inimigos as obras de repavimentação vão deixando, aqui e ali, estes vestígios de civilização passada certamente para não nos desabituarmos de ver quedas mais ou menos aparatosas.

A classe dos burocratas e técnicos de secretária insistem em que o seu mundo é o real e o real é imaginação do pobre cidadão.

Dito de outra forma, nós temos funcionários públicos e os anglo saxónicos têm “civil servants”.

Consequência? Eles estão mais avançados!

Rui G. Amaral
Gestor Reformado

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