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Domingo, Novembro 24, 2024

Okja, um filme coreano

Produção confirma o que dizia o filósofo alemão Theodor W. Adorno: o capitalismo da segunda metade do século 20 se sofisticou.

Para se ver uma fundamental mudança na indústria do cinema nos últimos 20 anos, é só lembrar que o filme sul-coreano Okja – que concorreu à Palma de Ouro de Cannes em 2017 – custou a importância de US$ 50 milhões, o que significa, hoje, aproximadamente R$ 202 milhões. Talvez o orçamento médio do cinema brasileiro dos últimos 20 anos não chegue a isso. E por que um país asiático como a Coreia do Sul pode gastar tanto dinheiro num filme?

Na verdade, o diretor é coreano, Bong Joon-ho, assim como vários técnicos e intérpretes, mas a produção principal é formada ou vem dos Estados Unidos. Como dizia o filósofo alemão Theodor W. Adorno, pensador que mais estudou o sistema cultural moderno, o capitalismo da segunda metade do século 20 se sofisticou.

Bong Joon-ho é o mesmo cineasta que ganhou a Palma de Ouro em Cannes em 2019 com Parasita, um filme que deve ter custado muito mais dinheiro – e concorreu inclusive com o pernambucano Kleber Mendonça Filho com seu Bacurau. A indústria cinematográfica já vinha investindo nesse cineasta coreano e certamente vem tendo seus resultados. Bong Joon-ho tem se mostrado muito inteligente ao se equilibrar entre falar de sua terra coreana e ao mesmo tempo criar filmes que sejam entendidos pela população do mundo. Esse é o jogo do cinema hoje. Kleber também sabe disso.

Okja, apesar desse nome meio estranho, é um filme bonitinho. É uma fábula contemporânea e, como tal, deveria atrair mais as crianças. Penso que, entretanto, seu público é de maioria adulta. Gente maior de idade é quem o procura na Netflix. E ele está entre os produtos para o público em geral.

O filme conta a estória de um porco gigante, Okja, que está sendo tratado nos campos coreanos para concorrer ao prêmio de “maior porco gigante” num concurso em Nova York. A mocinha, interpretada pela atriz Tilda Swinton, vive com o avô e cuida do porco. Ela ganha tanto amor pelo bicho que começa a considerá-lo “da família”. E, quando sabe que Okja vai para Nova York, enlouquece.

Okja é uma história bem simples, criada pelo próprio Bong Joon-ho, mas suficiente para desenvolver a trama e o ritmo ágil que a produção tem. Daí vem a briga entre a empresa multinacional, que vende carne de porco, e a organização social que defende o direito dos animais, o governo e a mocinha apaixonada pelo estranho animal.

A indústria do cinema não precisa mais que isso para criar uma narrativa extremamente divertida – e, assim, ganhar milhões. O notável é como um cineasta consegue se equilibrar nessa trama, buscando até mesmo a denúncia contra os princípios humanos/humanitários que a trama envolve. O certo é que sem ter suficiente inteligência não se joga esse jogo.


por Celso Marconi, Crítico de cinema, referência para os estudantes do Recife na ditadura e para o cinema Super-8  | Texto original em português do Brasil

Exclusivo Editorial PV / Tornado

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