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Sexta-feira, Novembro 1, 2024

Onde estava a MINURSO?

Isabel Lourenço
Isabel Lourenço
Observadora Internacional e colaboradora de porunsaharalibre.org

Ou porque é que os Saharauis foram obrigados a ir para a Guerra

No dia 21 de Outubro de 2020 Homens, Mulheres e até crianças saharauis juntaram-se perante a brecha ilegal de Guergarat aberta por Marrocos na Zona Tampão entre o Sahara Ocidental ilegalmente  ocupado (Resolução da Assembleia Geral das Nações Unidas 37/34 em 1979 e 35/19 em 1980). Esta brecha foi aberta de forma ilegal pelo ocupante marroquino a pretexto da passagem do Paris-Dakar em 2001 e foi desde aí um foco de tensão, para o qual sucessivos Secretários Gerais da ONU alertaram e pediram o seu encerramento.

Chegou António Guterres e passou a chamar a brecha ilegal de rota de comércio e de pessoas como se estivéssemos a falar da Avenida da Liberdade, da Gran Via ou dos Champs Elisée.

Infelizmente muita gente anda desatenta, prefiro acreditar nisso do que na ignorância, e fala em estrada entre a Fronteira de Marrocos e da Mauritânia….

Marrocos não tem qualquer fronteira com a Mauritânia nem nunca teve, basta consultar o mapa oficial das Nações Unidas.

Há mais equívocos, mais uma vez prefiro acreditar que são equívocos, e chamam os saharauis de independentista, separatistas etc etc. O Sahara Ocidental nunca formou parte de Marrocos, é uma ocupação ilegal e, portanto, não pode ser, nem separado nem “independentizado”- perdoem a criatividade da palavra. Os Saharauis o que querem é recuperar a Soberania do seu País, a sua Autodeterminação.

Voltando ao local dos acontecimentos, El Guergarat. Desde o primeiro dia da manifestação dos civis saharauis a presença dos soldados da MINURSO (Missão das Nações Unidas para o Referendo no Sahara Ocidental) foi uma constante noite e dia.





Há que referir que a MINURSO nunca cumpriu até hoje o mandato que recebeu em 1991, a realização do referendo do Sahara Ocidental. Também aqui muitos dizem e escrevem, mais uma vez certamente por falta de leitura ou distracção, que não se realiza o referendo por haver um diferendo de quem pode votar, para que fiquem esclarecidos os leitores os Saharauis chegaram a aceitar a inclusão de colonos marroquinos como eleitores, mas Marrocos rejeitou. Assim como ignorou o facto dos Saharauis aceitarem a inclusão do plano de Autonomia como uma das opções.

Ora a MINURSO que esteve presente com soldados, veículos e helicópteros desde dia 21 de Outubro, desapareceu misteriosamente na madrugada de dia 13 de Novembro no dia em que Marrocos atacou pela calada da madrugada os civis saharauis. Que nem D. Sebastião na batalha de Alcácer Quibir.

Será que os funcionários e soldados da MINURSO são todos supersticiosos e têm medo das sextas-feiras 13? Não.

Segundo fontes no terreno a MINURSO apenas poucas horas antes do ataque partiu na integra para dentro dos territórios ocupados.

O SG António Guterres multiplica-se agora em telefonemas a dizer que quer salvar o plano de paz. E diz-se preocupado há muito tempo… No entanto, em final de Outubro fez um relatório ao Conselho de Segurança a dizer que a situação estava calma.

A calma do Sr. SG Guterres é diferente da calma que os saharauis querem, a calma que os saharauis querem não inclui detenções arbitrárias, sequestros, violações, encarceramentos, julgamentos farsa, empobrecimento forçado, roubo das suas riquezas naturais, cercos e invasões às suas casas, maus tratos e torturas aos seus filhos nas escolas, negligência médica intencional, assassinatos, destruição de bens, aniquilação de manadas de camelos, minas antipessoais, amputações, exilio forçado, separação de famílias, e o maior muro militar de separação do mundo com 2720km. Não Sr. SG Guterres isso não é uma situação calma.

Os saharauis pediram, respeitaram, apelaram, aguentaram desde 1991 uma promessa incumprida e traição após traição, perderam a fé nas negociações, nas Nações Unidas, na MINURSO. Traição após traição o sofrimento de um povo inteiro aumentou de tal forma que a guerra já era vista como um mal menor.

Uma guerra entre os Saharauis e os Marroquinos não é restrita, vai ter um impacto onda e afectará mais países.

Uma guerra que pode ainda ser travada poucos dias após se ter iniciado se o Conselho de Segurança implementar medidas prática e urgentes para fazer cumprir as resoluções das Nações Unidas e a promessa nunca cumprida.

Os Saharauis são um exemplo de respeito pela Paz mas são empurrados para a Guerra, vergonha para todos nós.



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