Nem o ex-furacão Joaquin, com as suas chuvas, afastou, no passado fim-de-semana, os muitos visitantes curiosos com mais uma edição do Open House Lisboa.
Open House Lisboa é um evento organizado anualmente desde 2012 pela Trienal de Arquitectura de Lisboa e está integrado no projecto Open House Worldwide e na sua rede mundial de cidades.
Foi originalmente criado em 1992 por Victoria Thornton para o Open House London. Após a estreia, em Julho, na cidade do Porto – com a colaboração das câmaras de Vila Nova de Gaia e Matosinhos – foi a vez de Lisboa na chegada do Outono.
Com visitas gratuitas e completamente esgotadas, os lisboetas tiveram a oportunidade de visitar locais e edifícios dos mais variados estilos arquitectónicos, muitos deles de acesso restrito ao público como por exemplo a coqueluche deste ano: as ‘entranhas’ da Ponte 25 de Abril.
As condições climáticas não ajudaram, é certo, mas mesmo assim poucos foram os que desistiram da oportunidade de ver de perto alguns locais lindíssimos da cidade. Palácios, casas privadas, museus, edifícios históricos, escolas, igrejas, hotéis e tantas outras construções estiveram de portas abertas para os fãs da arquitectura e da história.
Dezenas de locais abertos a visitas
Cerca de 70 locais de norte a sul da cidade: Ponte 25 de Abril, Fundação Champalimaud, Centro Cultural de Belém, Padrão dos Descobrimentos, Direcção de Serviços de Documentação e Arquivo da Presidência da República, Museu da Electricidade, Garage Films, Palácio da Ajuda, Observatório Astronómico de Lisboa, Pavilhão das Exposições, ETAR de Alcântara, Avenida Infante Santo, Palácio de Santos, Convento das Bernardas, Atelier-Museu Júlio Pomar, Apartamento em Santa Catarina, Apartamento no Chiado, Palacete do Relógio, Ribeira das Naus, Teatro Nacional de São Carlos, Banco de Portugal, MUDE, Supremo Tribunal de Justiça, Casa dos Bicos, Atelier Calçada do Correio Velho, Terraços do Carmo, Café Nicola, Reabilitação na Baixa, Estação do Rossio, Cervejaria Solmar, Pólo de Investigação da Faculdade de Ciências Médicas, Edifício Sede da Faculdade de Ciências Médicas, Casa no Príncipe Real, Príncipe Real ao Bairro Alto, Príncipe Real ao Colégio dos Nobres, Reservatório da Patriarcal, Edifício da Imprensa Nacional, Picadeiro do Real Colégio dos Nobres, Herbário e Laboratório Chimico – MUHNAC, Inspira Santa Marta Hotel, Panóptico do Hospital Miguel Bombarda, Igreja do Sagrado Coração de Jesus, Casa no Rato, Galeria do Loreto, Reservatório da Mãe d’Água das Amoreiras, Ritz Hotel, Estufa Fria, Palácio da Justiça, Palacete Henrique Mendonça, Aqueduto das Águas Livres, Fundação Calouste Gulbenkian, Igreja de Nossa Senhora do Rosário de Fátima, Pastelaria Versailles, Avenidas Novas, Apartamentos na Defensores de Chaves (Lisbon Stone Block), Casa da Moeda, Arco do Cego ao Areeiro, Biblioteca Nacional de Portugal, Complexo dos Coruchéus, Escola Rainha D. Leonor, Teatro Thalia, Escola Vergílio Ferreira, Escola Secundária Braamcamp Freire foram alguns dos locais da edição de 2015 do Open House Lisboa.
Desta enorme lista, tivemos a hipótese de descobrir dois locais distintos: O Observatório Astronómico de Lisboa e o Teatro de São Carlos.
Observatório Astronómico de Lisboa
O Observatório Astronómico de Lisboa encontra-se num dos lugares com melhor vista sobre a cidade e o seu rio Tejo: a Tapada da Ajuda. Está, actualmente, dentro dos terrenos do ISA (Instituto Superior de Agronomia) e a sua construção teve início em Março de 1861 no reinado de D. Luis I seguindo um projecto do arquitecto francês Jean-François Colson inspirado no Observatório de Pulkova, na Rússia.
As observações astronómicas começaram em 1867 mas foi Campos Rodrigues, oficial da marinha e engenheiro hidrógrafo, que durante 50 anos, evidenciou Portugal na comunidade astronómica mundial. Após a sua morte em 1919, o Observatório entrou numa fase de desinteresse e em meados dos anos 60 do século XX deixou de ser usado devido à desactualização do equipamento.
Actualmente é um local museológico com visitas temáticas e, também, encontros mensais (normalmente ao último sábado de cada mês) para observação do céu estrelado. É, também, a partir do Observatório que são feitos os acertos da Hora Legal através dos relógios atómicos.
É sede de um centro de investigação moderna, o Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço.
Em termos arquitectónicos, o edifício é constituído por uma sala circular com uma abobada decorada onde se ligam oito colunas. Juntam-se duas cúpulas exteriores a Sul e três salas de observação a Norte, Este e Oeste. Nestas salas, as paredes são de madeira para evitar reflexão da luz e manter o equilíbrio da temperatura do ar. A observação astronómica era feita pelas aberturas laterais e no tecto.
O edifício encontra-se deteriorado exterior e no interior
Duas curiosidades:
Foi do Observatório que foi feita a primeira chamada telefónica em Portugal. Da sala circular, uma orquestra tocou uma das músicas preferidas do Rei D. Luís I para que ele ouvisse do outro lado do telefone;
O Meridiano de Greenwich/Lisboa passa exactamente no centro do edifício e segue pela porta de entrada em direcção ao rio.
Teatro São Carlos
O Teatro de São Carlos (ou Teatro de Lisboa como é conhecido do estrangeiro) é actualmente o único teatro de ópera em Portugal e começou a ser construído em Dezembro de 1792 como homenagem à princesa espanhola Carlota Joaquina casada com o futuro rei João VI e grávida do seu primeiro filho. A verdadeira origem do nome do teatro está envolta em mistério sendo a mais usada a de que D. Carlota tinha como santo devoto, São Carlos.
Depois da destruição do teatro Ópera do Tejo no terramoto de 1755, a burguesia em ascensão juntou-se para criar um novo espaço dedicado à ópera e bailado. E muitos foram os que contribuíram monetariamente para a sua construção nomeadamente Joaquim Pedro Quintela (que cedeu o terreno) e vários outros negociantes ricos da época.
Em apenas seis meses, o edifício neoclássico e rococó desenhado pelo arquitecto José da Costa e Silva, abriu portas rivalizando com o famoso La Scala de Milão.
Foi inaugurado em 30 de Junho de 1793 pelo príncipe D. João com dois espectáculos: a ópera “La Ballerina Amante” de Domenico Cimarosa e o bailado “A Felicidade Lusitana” de Caetano Gioia.
Localizado no centro de Lisboa na zona do Chiado, o Teatro de São Carlos tem uma capacidade de cerca de 850 lugares sentados e a sua fachada – com três arcadas frontais e duas laterais e com uma larga varanda – está virada para o edifício onde nasceu o poeta Fernando Pessoa.
A exploração do espaço foi dada a empresários e em 1854 o Teatro São Carlos foi comprado pelo Estado Português. Foi ampliado em 1888 para acolher novas zonas necessárias para o crescente funcionamento do teatro tais como camarins, salas de ensaio e outros tantos espaços de arrumação. Passou a Monumento Nacional em 1928.
O Teatro é composto no seu interior pela sala de espectáculos (em forma elíptica com um primeiro piso de plateia e frisas, com piso de camarotes, um piso com varandas e com o tecto pintado por Manuel da Costa e Cirilo Wolkmar Machado) com a magnifica tribuna real de autoria de Giovanni Maria Appiani, pelo Salão Nobre, pelos camarins, pelas salas de ensaio e de logística, pela biblioteca e pelas arrecadações.
Franz Liszt, Sarah Bernhardt, Bolshoi, Royal Ballet, Ópera de Paris, Renata Tebaldi, Plácido Domingo, Alfredo Kraus, Monserrat Caballé e Maria Callas foram alguns dos nomes famosos e companhias de prestígio que passaram pelo São Carlos.
Uma curiosidade: conta a lenda que Callas teve de regressar ao palco mais de 100 vezes devido aos estrondosos aplausos aquando da famosa versão de “La Traviata” de 1958, versão essa que ficou conhecida como La Traviata de Lisboa.
Open House Lisboa, até para o ano!