Poema de Yvette Centeno
Orfeu
lendo Miguel Serras Pereira
Cresceu nos campos da infância
tinham no meio um jardim
onde ele ia procurar
fosse de noite ou de dia
as flores que preferia
guardava sempre o perfume
até chegar outro dia
dos campos não tinha medo
nem das brisas que sentia
indo a caminho do rio
um rio tão manso aquele
tão cheio de submissão
ali embalava amores
que se escondiam na onda
ali sonhava viagens
que só trariam saudades
longe de dissabores
a amada não fugia
não tinha medo do mocho
do seu pio ouvido ao longe
entre folhagens distantes
onde a amada tecia
as suas coroas de flores
Eurídice dizia ele
num sussurro temeroso
o mocho é ave da noite
o seu apelo é fatal
dá-me a pedra que te dei
em segredo junto ao rio
da nossa infância perdida
vem comigo desta vez
deixa essa noite infernal
dá-me o beijo que é só nosso
o do Jardim imortal
17 de Julho de 2021