Quando o Partido Comunista de Mao Tsé Tung (ou Zedong) chegou ao poder em 1949, a China estava dominada pela pobreza e devastada pela guerra. Nesta terça-feira (1º), quando se completam 70 anos do triunfo da Revolução Chinesa, o país está radicalmente diferente: é uma potência mundial de primeira grandeza e aspira chegar ao topo da economia global.
O “milagre econômico” da China é um caso único na história. Quando Mao, o “Grande Timoneiro”, faleceu, em 1976, a Revolução estava consolidada e o país já iniciava tratativas com o Ocidente, notadamente com os Estados Unidos. Deng Xiaoping, o líder comunista que sucedeu Mao, impulsionou uma campanha histórica – a chamada “Reforma e Abertura” –, que conseguiu tirar 740 milhões de pessoas da pobreza, segundo dados oficiais.
Sob a ideia de um “socialismo com traços chineses”, as reformas de Xiaoping estavam centradas na agricultura, num ambiente liberal para o setor privado, na modernização da indústria e na abertura da China para o comércio exterior. Esse percurso “rompia as correntes” do passado, conforme as palavras do atual presidente chinês, Xi Jinping.
A mudança de curso começou em 1978. À época, a China era uma nação bem diferente do que vemos hoje, em que se equipara ao nível dos Estados Unidos e da União Europeia. Era um país pobre, com um Produto Interno Bruto (PIB) de US$ 150 bilhões para uma população de 800 milhões de pessoas. Hoje, são 1,38 bilhão de habitantes e um PIB de US$ 12 trilhões, segundo a Organização das Nações Unidas (ONU).
Foi sob um cenário de pobreza, portanto, que Deng Xiaoping, então secretário-geral do Partido Comunista da China, propôs suas reformas. Xiaoping optou pelas chamadas “quatro modernizações” e uma evolução da economia na qual o mercado teria um protagonismo crescente. Para ele, não importava se o sistema econômico chinês era visto como comunista ou capitalista – mas, sim, se funcionava. “Não importa se o gato é preto ou branco, desde que cace ratos”, afirmou o chinês em um célebre discurso na conferência da Liga da Juventude Comunista da China.
O programa, ratificado em 18 de dezembro de 1978 pelo comitê central do PC da China, tornou a modernização econômica sua principal prioridade. Nos anos seguintes, foram postas em prática mudanças que até então eram consideradas bastante ambiciosas e enfrentaram resistência de uma ala mais resistente do partido no poder. O setor agrícola, por exemplo, abandonou progressivamente o sistema de economia rural planificada, que permitiu incrementar a produtividade e tirar regiões do país da pobreza, fomentando a migração de mão de obra para zonas urbanas.
Também floresceram as cadeias do setor privado e, pela primeira vez desde a criação da República Popular em 1949, o país se abriu para investimentos estrangeiros. Em sua cruzada para modernizar e fazer crescer a economia, o líder chinês incentivou sua equipe a aprender com as potências ocidentais. Foram criadas zonas econômicas especiais, como a da cidade de Shenzhen, que sofreu uma transformação incrível e hoje é conhecida como o Vale do Silício chinês.
Essa abertura ao exterior contribuiu para aumentar a capacidade produtiva da China e fomentar novos métodos de gestão. Depois de um longo processo, as mudanças permitiram que a China conseguisse entrar na Organização Mundial do Comércio em 2001 – um ingresso que lhe abriu definitivamente as portas para a globalização e catalisou seu progresso econômico.
Em 2008, quando a crise econômica global estourou e o Ocidente saiu em busca de novos mercados, a China conseguiu se destacar entre todos os outros e se converteu na “fábrica do mundo”. Apesar do boom econômico, a China luta agora para se descolar dessa função: quer, especialmente, se tornar um país conhecido pela inovação.
À medida que o gigante asiático amadureceu, o crescimento do seu PIB desacelerou. Se em 2007 era de 14,2%, em 2018 esse índice de expansão foi reduzido para 6,6%. Mas se olharmos mais para trás, desde 1980, o tamanho da economia chinesa foi multiplicado por 42.
Economistas estimam que o crescimento do país será reduzido, até 2030, a cerca de um terço do percentual atual. Ainda assim, seria suficiente para superar os Estados Unidos como a maior economia do mundo.
No aniversário de 40 anos da “Reforma e Abertura”, em dezembro passado, o atual mandatário chinês, Xi Jinping, enfatizou a importância da “liderança” do Partido Comunista Chinês. Seu discurso foi feito no Grande Palácio do Povo de Tiananmen, a Praça da Paz Celestial, em Pequim, e deixou claro que a soberania China permanece como um dos pilares da vitoriosa Revolução de 1949.
Texto original em português do Brasil
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