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Sábado, Novembro 2, 2024

Os conselheiros preferidos pela Casa Branca

Beatriz Lamas Oliveira
Beatriz Lamas Oliveira
Médica Especialista em Saúde Publica e Medicina Tropical. Editora na "Escrivaninha". Autora e ilustradora.

Prós e Contras

Apresento-lhes DAVID WURMSER que defendeu e apoiou a guerra com o Iraque, em 2003, no governo Bush. Conseguiu o que queria com os resultados que conhecemos. Qualquer iraquiano entrevistado na rua, por exemplo, pela Fátima Campos Ferreira, diria certamente que vive hoje muito melhor, com um belo emprego, serviços de saúde, os filhos na escola e grande segurança no seu país. O mesmo David Wurmser é atentamente ouvido por Donald Trump. Foi consultor para o Oriente Médio do ex-vice-presidente dos EUA Dick Cheney, como assistente especial de John R. Bolton na primavera de 2019 no Departamento de Estado e como pesquisador do Oriente Médio no American Enterprise Institute.

Monumento em Persepolis, Irao

Só mudou de objetivo_agora pretende que seria excelente atacar o Irão.

Este ultra conservador é agora, dezassete anos depois, consultor informal do governo Trump, revela entre outras fontes a Bloomberg News.

Apoiou ataque de drones que assassinou o general iraniano Qassim Soleimani. Opinava que matar Soleiman abalaria o frágil equilíbrio interno de forças de que depende a sobrevivência do governo iraniano. Trump, tem sempre ouvidos vulneráveis para as palavras dos ultraconservadores, e a visão de David Wurmser sobre o Irão é mais uma evidência de que o neo conservadorismo que exerce influência sobre a Casa Branca a exerce também sobre a direita dos EUA.

Não lhes interessa a realidade dos resultados desastrosos da invasão do Iraque, e não querem saber das sucessivas declarações bombásticas de Trump que insiste em não querer guerras.

Os conservadores têm uma visão peculiar e fantasista sobre a realidade iraniana. Nem que assistissem ao Programa Prós e Contras, e depois de terem ouvido as opiniões da arraia miúda desistiriam das suas convicções, que passam por exemplo pela ideia peregrina que matando um chefe militar se acaba qualquer guerra e o regime que a mantém. Já depois da reeleição de Bush em 2005, a direita conservadora alojada dentro e fora da Casa Branca tinha uma mira telescópica voltada para Teerão. Sempre sonharam mudar o regime da República Islâmica, mas uma invasão em larga escala não seria necessária para conseguir uma vitória tão certa e segura. Seymour Hersh, um jornalista agora com 82 anos, em 2005, escrevia que uma campanha de bombardeamento contra as instalações nucleares do Irão estimularia uma revolução liderada por “nacionalistas seculares e reformadores”. Uma visão particularmente estúpida, resumida por ele mesmo nesta frase:”No momento em que a aura de invencibilidade de que os Mullah gozam for destruída, e com ela a capacidade de enganar o Ocidente, o regime iraniano entrará em colapso.”

A perspectiva de Wurmser parece ser a mesma. Ele aconselhava John Bolton, a quem referiu que os EUA não precisarão de “botas no chão” porque “os iranianos ficariam impressionados e potencialmente encorajados por um ataque dirigido a símbolos de repressão”.

É possível que quando Trump declarou que podia transformar em alvos de bombardeamento os sítios históricos Património da Humanidade do Irão tivesse esse conselho em vista. Que melhor símbolo de REPRESSÃO que um monumento de Persépolis?

A ideia dos neoconservadores de que um regime cai se forem abatidos os seus dirigentes e bombardeados alvos nucleares, com os seus Prós e os seus Contras, fica mesmo para um programa na televisão portuguesa.

Por estranho que pareça David Wurmser tem um Ph.D. em assuntos internacionais e trabalhou para o Instituto de Washington para a Política do Oriente Médio.

Em 1999, Wurmser escreveu um livro intitulado “Aliado da Tirania: o fracasso dos EUA em derrotar Saddam Hussein”, e no qual considerava que “Armas químicas, biológicas e até nucleares são os pilares do regime de Saddam”, e se os EUA não o removerem do poder essa ameaça só pode aumentar. Após os ataques de 11 de setembro, Wurmser foi nomeado para uma unidade de inteligência de apenas dois homens pelo então subsecretário de Defesa Douglas Feith.

Feith é talvez mais conhecido por ser chamado de “o tipo mais estúpido à face da terra” pelo general Tommy Franks, que liderou a invasão do Iraque.

Entre outras, as ideias de Wurmser, seriam de que os EUA deveriam responder à Al Qaeda atingindo um “alvo que não seja da Al Qaeda como o Iraque”.Wurmser tornou-se consultor sénior de Bolton, que naquele momento era subsecretário do Departamento de Estado e um dos campeões mais vociferantes de um país.

De qualquer forma, nada na realidade dos últimos 17 anos impressionou David Wurmser. Apesar dos resultados dos seus conselhos terem sido péssimos um artigo sobre os sucessos atuais de Wurmser, do jornalista neoconservador da Bloomberg Eli Lake, não menciona nenhuma história de Wurmser que tenha corrido mal.


Por opção do autor, este artigo respeita o AO90


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