Talvez milhões de cidadãos do mundo, já atingidos nas suas vidas diárias pela crise do Covid 19, se interroguem sobre quais são as reais ameaças que enfrentam. E com que ajudas podem contar.
Como é que o meu governo me defendeu a mim e aos meus, como é que o meu governo defendeu os interesses nacionais, como vai o meu governo relançar a vida e a economia, devem ser medos e ou esperanças e dúvidas de todos.
Neste contexto uma questão se me coloca: tendo os EUA pretendido, desde a segunda guerra mundial, serem o líder do mundo dito livre, o mundo rico, o mundo das oportunidades, liberdades e da democracia, como é agora, neste preciso momento, percebida pela população mundial a sua ação face a este novo perigo que é a pandemia.
É difícil não concluir que as prioridades de segurança nacional do governo americano foram tão distorcidas da realidade que deixaram o país dramaticamente não preparado para a ameaça a milhões de pessoas que representa um novo vírus para o qual não temos imunidade. Isso irá refletir-se na nossa própria segurança como europeus e irá refletir-se na segurança de muitos países nos diferentes continentes.
O foco da anterior e da presente administração americana foi assinalar a vermelho dois perigos alvos de ação prioritária:
Primeiro, o perigo claro e imediato de grupos extremistas escolhidos pelos seus serviços de informações (e serviços de informação aliados) e segundo o perigo de regimes estrangeiros estrategicamente assinalados como hostis, principalmente no Oriente Médio. Nos últimos 20 anos os Estados Unidos gastaram triliões de dólares em guerras, ocupações e manutenção de bases militares em todo o planeta. Conseguiram fazer muitos inimigos e conseguiram ser olhados por milhões de pessoas como os polícias analfabrutos do planeta. No Irão, no Iraque, no Afeganistão, na Líbia, poucos serão aqueles a quem resta dúvidas de quem foram reféns nos últimos anos.
Mas o país que gastou biliões em guerras estrangeiras, revela-se incapaz de defender seus cidadãos de ameaças básicas como doenças e não será capaz de afastar um previsível colapso económico.
As últimas semanas revelaram um espetáculo de um governo federal errático, imprevisível, incapaz de fazer o que é necessário para impedir a propagação de uma pandemia em solo americano.
A capacidade de fazer testes de despistagem de infeção ficou muito atrás de países muito menores e menos ricos como Taiwan e Coreia do Sul, e a fragilidade de infraestruturas básicas de saúde provavelmente significará o excesso de mortes de centenas de milhares de americanos num futuro próximo, tal como foi a previsão do famoso estudo epidemiológico do Imperial College, que obrigou Trump e Boris Jonhson a arrepiarem caminha das suas estratégias definidas em bases cientificamente não comprovadas.
Confira a íntegra do estudo que teria influenciado os dois líderes:
Governadores de grandes estados pediram publicamente ao governo federal ventiladores, máscaras e outras ferramentas básicas para lidar com o surto. Há poucos sinais de que a capacidade exista atualmente para responder a essas solicitações. Mas já temos o inquilino da Casa Branca a culpar a Organização Mundial de Saúde pelos seus desaires. Afinal Trunp é o génio que percebia imenso de vírus e a OMS foi quem lhe tirou o tapete da cientologia.
As despesas militares que aumentaram exponencialmente desde o 11 de Setembro segundo estudos do projeto Costs of War da Brown University, que mostra que o governo dos EUA gastou 6,4 triliões de dólares nas guerras do Afeganistão, Iraque e Paquistão desde 2001. Esse número gigantesco, nem sequer responde pelos pagamentos de juros dos empréstimos necessários para pagar pelas guerras, que pode chegar a 8 triliões de dólares em meados do século, e muito menos os custos de oportunidade para a sociedade americana desses gastos maciços em aventuras no estrangeiro. Afeganistão, Iraque, Paquistão são um novo Far West para estes cow boys que já não entusiasmam as criancinhas do post guerra, hoje em dia transformadas em avós cépticos.
O fato de as guerras americanas de contraterrorismo terem matado centenas de milhares de pessoas, não terem trazido nenhum benefício político ou estratégico claro, e apenas transformando em desperdício uma riqueza que poderia ter sido muito melhor empregue.
O descalabro da infraestrutura americana não passou despercebido do resto do mundo nesta crise. Para a crise da pandemia originada na China, o Partido Comunista Chinês acabou por mostrar uma capacidade eficaz de controlar o surto dentro da região onde se iniciou e agora já é exportador de bens globais: máscaras, luvas, roupas, viseiras, testes, vacinas em preparação, medicamentos em fase de teste. Enviam equipas médicas e logística de desinfeção para a Europa.
Trump esbraceja para encontrar uma resposta adequada em casa, e vai subtraindo o que pode dos esforços de outros países para lidar com a crise. Exemplos: desviar recursos críticos de aliados como a França, enquanto tentava exacerbar a pandemia global por meio de sanções económicas contra inimigos como o Irão, apesar do pedido de seus aliados para mudar de estratégia.
Os Estados Unidos esvaíram as suas anémicas instituições de controle, prevenção da doença e promoção da saúde, e agora procuram bodes expiatórios no exterior, o que não lhe fará ganhar a imagem que já perderem.
Podem apontar o dedo que tiraram sujo do nariz e dizer que a bolinha de esterco foi feita pela OMS.
Podem transformar-se nos palhaços deste circo global.
E não nos vão fazer rir.
Por opção do autor, este artigo respeita o AO90
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