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Segunda-feira, Novembro 4, 2024

Os dias negros de Outubro – II

Arnaldo Xarim
Arnaldo Xarim
Economista

Coincidência, ou não, os piores crash bolsistas (designação usada nos mercado de capitais para uma descida grande e inesperada do valor das acções que se traduz num impacto negativo na economia) registados no século XX ocorreram quase sempre no mês de Outubro, ou muito próximo dele.

O Crash de 1929 e o início da Grande Depressão

O dia 24 de Outubro de 1929 ficou marcado para a História como Black Thursday (Quinta-feira Negra), o dia que iniciou uma derrocada histórica na mítica Wall Street. As quebras então registadas nas cotações dessa praça financeira mergulharam as economias, primeiro a norte-americana e depois as restantes, numa profunda crise, que ficaria registada como a Grande Depressão.

Recuando ainda um pouco mais no tempo, recorde-se que a actual função de gestão das crises financeiras desempenhada pelos bancos centrais resultou de em finais do século XIX e em consequência da falência de um banco inglês se ter revelado evidente a necessidade de uma instituição que desempenhasse a função de emprestador de último recurso. No caso concreto, quando o banco que habitualmente fornecia liquidez ao conjunto da banca comercial, o Overend & Guerney, entrou em situação de falência em 1866 e arrastou consigo outros bancos que não encontraram alternativa de financiamento. Esta situação demonstrou a necessidade de uma estrutura que garantisse a liquidez no sistema financeiro e a sua aplicação prática em breve revelou toda a sua utilidade quando em 1890 o Barings Bank entrou em crise na sequência de investimentos ruinosos que realizara na Argentina e no Uruguai. Graças à actuação do Banco de Inglaterra, que organizou com a restante banca um fundo de vários milhões de libras e cobriu os prejuízos do Barings garantindo o normal funcionamento de toda a banca, a situação foi ultrapassada sem significativas dificuldades.

Mas o que parecia ser uma história de sucesso foi brutalmente abalada em 1929 quando na sequência do Black Thursday as quebras registadas em Wall Street mergulharam a economia mundial numa profunda crise, que mais não representou senão o pico de uma fase de acentuada especulação bolsista (lideradas pelos sectores da rádio e da indústria automóvel as cotações caíram nesse dia 13%) que nem a intervenção do FED logrou debelar. De queda em queda e de falência em falência o mercado de Wall Street atingiu o seu mínimo três anos depois quando as cotações se situaram 90% abaixo dos valores máximos. A par com esta crise financeira, que paralisou completamente o sistema bancário, a economia americana registou entre 1929 e 1932 uma quebra de 50% e uma taxa de desemprego da ordem dos 30%.

Como se vê os efeitos na economia foram desastrosos atingindo todas as camadas da população. Segundo a opinião dos mais variados economistas a Grande Depressão, como ficou conhecida a época, talvez pudesse ter sido minimizada se o FED não tivesse adoptado uma medida tão desadequada como a da subida das taxas de juro. Mas foi essa a opção tomada no intuito de proteger o valor internacional do dólar e o seu padrão-ouro, que então ainda vigorava.

Apenas em 1933 com o lançamento de uma nova estratégia económica pela Casa Branca, que ficaria conhecida pelo New Deal, e o deflagrar da II Guerra Mundial é que a economia americana viria a recuperar. Para muitos observadores as medidas de apoio social introduzidas pelo New Deal – aumento dos gastos públicos como forma de compensação para a retracção do investimento privado – foram até contraproducentes, mas datam dessa época a criação de alguns mecanismos de controle e regulamentação sobre o mercado de capitais, tais como a SEC (Securities and Exchange Comission), e a banca em geral no sentido de minimizar novos movimentos especulativos.

Se é verdade que a crise seguinte demorou mais de meio século a produzir-se, as opiniões dividem-se sobre se tal se deveu à nova regulamentação ou principalmente ao efeito expansionista sobre a economia que teve o deflagrar da guerra em 1939 e o seu epílogo em 1945 com os EUA numa posição de hegemonia político-militar com o controlo total do comércio mundial e do sistema financeiro dele emergente.

Certo é que o mês de Outubro voltaria a ser marcante na história económica do século XX quando no dia 19 de Outubro de 1987 o índice Dow Jones caiu mais de 20%, numa única sessão.

 

 

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