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Quinta-feira, Novembro 21, 2024

Os fundamentalismos: do protestantismo (progenitor) aos outros

NINM
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Colaboração do Núcleo de Investigação Nelson Mandela – Estudos do Humanismo e de Reflexão para a Paz (integrado na área de Ciência das Religiões da U.L.H.T.)

Confissões protestantes de tradição anglo-saxónica, no ano de 1910, quando refletiam sobre o património sagrado insusceptível de negociação, fizeram nascer o Fundamentalismo. Mais corretamente: o documento fundador do fundamentalismo protestante nos EUA, um conjunto de 90 tópicos publicado entre 1910 e 1915, chamava-se The Fundamentalism, e procurava responder ao liberalismo teológico europeu (alemão) que vinha do século XIX.

Não só o étimo, também a semântica – e a postura política que encerra. Adiante explicaremos esta firmação.

Sabemos hoje que o Fundamentalismo é associado ao Islão. O que para muitos islâmicos continua a ser uma religião integradora, abrangente e (relativamente) tolerante estabeleceu na opinião pública não islâmica uma realidade oposta. A vergonha para a esmagadora maioria dos islâmicos é ter de confrontar-se com um punhado de criaturas radicais, marginais e assassinas que, agindo em seu nome, traem a Sharia (a lei islâmica) e as Hadite (as tradições, e o respeito ao Profeta) e passando por cima dos dogmas de fé (Chabada) evocam o Deus (omnipotente, único e misericordioso) sujando o Seu nome com sangue, destruição e atos desumanos inqualificáveis. O Islão constrói os seus ensinamento a partir dos Profetas, dos quais o último foi Maomé (Cristo o penúltimo), das Sagradas Escrituras (incluindo o Antigo e o Novo Testamento), nos Anjos, na Predestinação e na Ressurreição do Juízo final. Para além dos dogmas da fé culto islâmico assenta em mais quatro colunas: a oração (Salat), a esmola (Zakat), o jejum do Ramadão (Saun) e a Peregrinação a Meca (Hajj). Estes cinco pilares são aprendidos nas interpretações das 114 sunas do Alcorão, o Livro Sagrado. A esmagadora maioria dos fundamentalistas que operam nos piores cenários do mundo, desconhecem o valor da construção da Umma, a comunidade, e oferecem o terror onde os crentes constroem o melhor da atividade pública humana.

O integrismo católico, politicamente radicado na direita ideológica, é a expressão mais intensa do Fundamentalismo da Igreja Católica. Parece ser herdeiro do conjunto de ideias e práticas levadas a cabo pelo arcebispo Marcel Lefebre que analisava as “enfermidades” da sua Igreja com um diagnóstico político: o modernismo e o liberalismo contribuíam para a destruição da Igreja Católica e impunha-se um regresso às origens e um forte contra-ataque. Lefebre fundamentou, escrevendo uma obra que ainda hoje é uma Bíblia (passe-se o paradoxo) para os católicos extremistas: Acuso o Concílio. Um livro duro e sintomático, onde denuncia os anti Cristos, que operavam à sombra do Concílio Vaticano II. Entre os erros apontados, a passagem de uma Igreja Monárquica a outra, Colegial e Episcopaliana por Direito Divino (através da consagração dos Bispos) e cedências de “índole protestante”, como abandono: do latim, na liturgia, o catecismo e o seu ensino, a versão ecuménica da Bíblia, o direito canónico. Pior ainda, para Lefebre, era a substituição do rigor moral pela aceitação de um consciência individual. A Igreja Católica estaria a deixar de ser católica.

Também o Sionismo é um Fundamentalismo. E revela-se em três aspetos, sendo o primeiro difícil de rodear: não é judeu quem quer, nem quem pratica a religião judaica. É judeu quem nasce de mãe judia.  A este fundamentalismo, acresce o segundo, o da predestinação: a nação judaica equivale ao povo eleito por Deus para continuar o seu projeto na Terra. E a terceira é a mais antiga: há seis mil anos, isto é, quatro mil antes de Cristo pelo calendário assim contado, Javé assegurou a Abraão a Terra Prometida: Israel.  O movimento sionista internacional (nascido no século XIX), tem três variantes e um objetivo comum: os socialistas/marxistas, apoiados nas experiências dos Kibbutzim, dos Moshavim e no sindicalismo; os religiosos; e os neonacionalistas. Aos neonacionalistas equivale a ala mais militante e radical, apoiando uma políticadical com sustentação militar e uma ativa recolonização de Israel “de acordo com as fronteiras bíblicas” (recorde-se que é em 1917, com a Declaração de Balfour, que o Governo Britânico promete solenemente um território nacional na Palestina para acolher o povo judeu, promessa que é confirmada em 1920 na Conferência de São Remo).

Tudo nasceu, no entanto, etimologicamente (e não só) com os Protestantes. A colectânea de textos escritos em 1910 por protestantes nos Estados Unidos, compilando artigos de natureza doutrinário, chamava-se Fundamentalism, e daí a geração do termo – e das conotações que o acompanham.

Ali, promoviam-se duas linhas determinantes: as do literalismo bíblico, que determina um princípio radical: A Bíblia nunca se engana. E outro, de natureza política, recusava qualquer cedência às atualizações e às modas.

Na Reforma – na Dieta de Worms em 1521 – definia-se a recusa e rejeição da mediação eclesial (Cristo é o único mediador), o Sacerdócio Universal, todos os batizados são munidos do sacerdócio pleno (neste entendimento, todos os batizados “são” teólogos, sacerdotes, bispos e papas. Melhor dizendo: sobre os papéis do teólogo ou das hierarquias, os protestantes baseiam-se não no Sacerdócio Universal mas noutros textos das Escrituras e noutros conceitos – teológicos – como os dons de ministério ou ministérios espirituais). O clero não é possuidor, assim, de qualquer carácter sacramental distinto dos restantes membros da comunidade cristã).

Acresce o Biblicismo Exclusivista,  só as Sagradas Escrituras são Lei Sagrada. E – de acordo com Lutero – Só a misericórdia e graça de Deus pode torna digno o ser humano de conquistar a salvação.

Estas quatro premissas abriram campo aos fundamentalismos – com os argumentos habituais e contraditórios da fé e da razão – , às frações e dissidências, que os Fundamentalism tiveram o condão de acentuar, quando aplicados na própria estrutura interna, autoritária e monista, e nos diversos entendimentos feitos dos textos aprovados.

Por opção do autor, este artigo respeita o AO90

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