Diz o discurso politicamente correcto que ser um candidato “independente” a uma qualquer eleição é uma garantia de seriedade, competência, rigor, e outras maravilhas à face da terra. Ninguém pergunta o que significa ser “independente” porque se pressupõe que quem se declara “independente” pretende demarcar-se dos partidos políticos.
Rui Moreira, o independente mais famoso do momento, deixou recentemente numa sessão de aconselhamento de outro candidato dito independente, o ex-bastonário da Ordem dos Médicos, José Manuel Silva, candidato à câmara de Coimbra, algumas ideias sobre o que é ser independente. Disse Rui Moreira:
Moreira apontou também as “vantagens das candidaturas promovidas por grupos de cidadãos eleitores”:
A crer em Rui Moreira, o conceito de “independente” define-se exclusivamente face aos partidos políticos. As suas palavras contêm subjacente um pensamento anti-política, apesar de não o assumir claramente e, pelo contrário, aconselhar o ex-bastonário a “não abrir guerra aos partidos” e a “não dizer mal” deles. Trata-se de um conselho retórico como se provou com a afirmação de que convidaria Manuel Pizarro para a sua lista se este abdicasse da sua condição de membro de um partido político (o PS). Isto é, Moreira reconhece que Pizarro é leal e competente mas essas qualidades são prejudicadas e mesmo anuladas pela sua qualidade de membro do PS.
Os conselhos que deixou na prelecção ao seu “colega” candidato a Coimbra ficam mais claros quando lhe recomenda que deve “afirmar-se como “apolítico”” e, pasme-se, não deve “revelar todas as ideias que tem”. Por isso, “não deve dizer mal dos políticos” mesmo que, como é o caso do próprio Moreira, pense mal deles. Quem pensava que os políticos são dissimulados e mentirosos e que é nos independentes que reside o rigor e a transparência tem aqui motivo para reflexão.
O conceito de “independente” de acordo com o presidente da câmara municipal do Porto exclui assim ligações a negócios e empresas nacionais ou multinacionais, a instituições públicas ou privadas, a credos religiosos, a associações empresariais ou desportivas, etc. etc.. Em sua opinião, apenas os partidos políticos provocam “dependências” e tratam de “mercearias” e quotas partidárias”. Isto é, as “mercearias” e as “quotas” dos independentes são para os seus e aí deixam de ser “mercearia”. Serão “gourmet”?
Será que Rui Moreira sonha com uma democracia sem partidos, ao menos ao nível local? Ideias perigosas, dir-se-ia, se elas não viessem de um independente que caíu nas graças de comentadores e analistas.
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