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Quarta-feira, Dezembro 25, 2024

Os lotadores

Onélio Santiago, em Luanda
Onélio Santiago, em Luanda
Bacharel em Ensino da Língua Portuguesa pelo Instituto Superior de Ciências da Educação de Luanda, é jornalista do semanário angolano Nova Gazeta.

lotadores em Luanda

Ninguém consegue precisar quando é que surgiram. Sabe-se apenas que, conforme vão aumentando os candongueiros, os lotadores também se vão multiplicando.

Antigamente, eram só miúdos. Miúdos de rua, sobretudo. 12, 13, 14 anos!

Com o tempo, no entanto, as coisas mudaram. A profissão agora é disputada por matulões em idade eleitoral. Serão os tais adolescentes que cresceram? Ou serão os kotas que viram na ‘lotação’ a maneira mais fácil de amealhar kwanzas para o kafokolo? Sinceramente, não sei! Eis, talvez, mais um tema de trabalho para o batalhão de sociólogos que as universidades lançam todos os anos.

Pois, como ia dizendo, os lotadores criaram um submundo de barbaridades nas paragens de táxis de Luanda, particularmente nas periferias: Avó Kumby, Golf 2, Vila de Viana, Kikolo, Mabor, etc.

Antes, só actuavam quando os cobradores, cansados de tanto gritar, precisavam de ajuda para chamar pelos passageiros e, deste modo, encher o ‘azul e branco’. O lotador era, portanto, um auxiliar do cobrador. Ajudava a lotar o carro e recebia um valor simbólico.

Hoje, os lotadores, mesmo quando não ajudam a encher o carro, exigem dinheiro. E também vendem fichas para estacionamento! O taxista que disser “não!”, além de umas boas bofetadas, vê os vidros estilhaçados como se fossem diamantes falsos.

Muitas vezes, os passageiros também levam do focinho.

Há tempos, vi uma cena. No Kalemba 2, três lotadores exigiam que o taxista desse 200 kwanzas a cada um deles. Como o taxista estava renitente, os lotadores arrancaram-no do volante aos pontapés. Em vez dos 600 kwanzas, levaram todos os 14 mil que o jovem levava na carteira.

Depois de os lotadores babularem com o kumbo, os passageiros começaram a criticar o taxista pela teimosia. Entre os comentários, houve um que me marcou tanto que até hoje consigo reproduzi-lo na íntegra:

“Meu irmão, evita sempre refilar com esses gajos. Quando te pedem dinheiro, entrega só. Eu tou aqui tipo civil, mas sou polícia. Olha o meu passe! Sou agente da ordem, mas não reagi porquê? Porque já lhes conheço. Num brinca com esses gajos. São bandidos, mas ficam tipo demónio!”

O autor escreve em PT Angola

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