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João de Sousa

Domingo, Dezembro 22, 2024

Os meninos da mãe

Os meninos da mãe não lhe largam o saiote. E choram. Fazem birra. Esperneiam deitados em chão coberto com tapetes do mais fino que há para lhes amortecer a queda e não provocar hematomas quando caem ou, pura e simplesmente, para ele se atiram.
Esperam pelo pai para lamuriarem o mau dia que passaram e lhe cravarem uma nota de cinquenta euros a fim de, conjuntamente com outros meninos de outras mães acelerarem as suas viaturas topo de gama e rumarem a estabelecimentos hoteleiros junto à praia para beberem umas cervejas e petiscarem umas francesinhas. Que são uma espécie de sandes em pão de forma com queijo, bife alface e outros ingredientes no meio, banhadas num molho especial.

Deliciam-se os meninos da mãe.

Os meninos da mãe da mãe não sabem, nem querem saber, o quanto sua mãe amargou para os trazer até ao presente. Já lá vão mais de trinta anos. Continuam paulatinamente a fazer de conta que tudo lhes passa ao lado porque, para eles, os meninos da mãe, os únicos responsáveis pelo seu estado social são todos aqueles que lhes não legaram futuro de vida sem preocupações nenhumas.

Dizem umas asneiras com a maior das naturalidades convencidos de que estão a ditar bitaites de alto gabarito de forma a se evidenciarem perante as meninas de mães diversas, nalguns casos da mesma mãe, convencidos que essa é a melhor maneira de lhes chamar a atenção e conseguir levar por diante intenção de casal. Em regra o tiro sai-lhes pela culatra porque as meninas já não são da mamã nem sequer do papá. Já andam pelo próprio pé que é como quem diz:- já sabem muito bem o que fazem e o que querem. E, a intenção, fica-se pela intenção por falta de intenção da parte restante. Do citado casal, como é óbvio.

Pela madrugada voltam a casa. Tentam fazer o mínimo barulho possível ao entrar, da porta da entrada até ao quarto aonde se encontra a cama em que se deitam, devidamente arrumada pela sua mãe que também foi quem a escolheu quando eram bebés, completamente satisfeitos com a vida que levam.

Não os incomoda a vida que as suas mães levaram e continuam a levar para os sustentar, vestir e, acompanhar a sua evolução nos estabelecimentos de ensino, mas, sobre tudo, aturar.

O menino da mãe já tem idade para fazer alguma coisa de útil em benefício do agregado familiar em vez de assobiarem para o lado como se nada tivessem a ver com isso. Só porque partem do pressuposto de que, não pediram para nascer.

Os meninos da mãe, olham para todos os lados nomeadamente para trás, e congeminam em sede mental como é que hão-de levar uma vida autónoma sem grande esforço e de responsabilidade mínima.

Por entre umas pernas mais ou menos bem torneadas, uns decotes generosos e olhares de desafio concluem que a sua casa não é albergue eterno e que por isso tem de se fazer à vida.

Os meninos da mãe descobrem que há uma outra “mãe” que reúne melhores condições de “alojamento” social e económico: a “mãe”, cunha institucional.

Uma espécie de ponto de encontro em torno de um objetivo sem ideal algum mas recheado de interesses individuais aonde se divertem à brava e asseguram lugar proeminente e bem remunerado num qualquer gabinete de uma Câmara Municipal, Ministério ou outro qualquer estabelecimento publico ou privado sem que para isso necessitem de currículo e experiência profissional, bastando-lhes colocarem-se de cócoras e bajulação ao mestre a quem ajudaram através de travessuras a conquistar o poder na instituição que servem e através desta ascender na carreira sempre bem colocados em Listas candidatas aos Órgãos internos para se abalançarem para as Listas candidatas a lugares públicos do Estado de forma a se sentarem nas cadeiras do poder político sempre na esteira de poderem vir a ser eles a ocupar o seu lugar sem contemplações nem agravo porque essa escola é uma escola de valores pela qual sua mãe se regeu e que segundo pensam, não resultou em beneficio de nada. Por isso passam a dedicar à sua “mãe” adotiva toda a afeição de que são capazes.

Os meninos da mãe são uma espécie em ascensão profissional, mas em queda social precipitada por ser ofício de curta duração no tempo corrido e etário.

Talvez por isso tenham a preocupação dominante em acautelar tempos vindouros por todas as vias que se lhe oferecem em resultado de um sistema conveniente para eles, os meninos da mãe e, para os beneficiários indiretos os mestres subjugados aos interesses do poder financeiro que são os que diretamente tiram benefício e que para isso pagam principescamente aos seus servidores.

Que o poder político está a ficar cada vez mais vazio de conteúdo político. De ideias para o futuro. De valores que moldem essas ideias de forma a que os Homens não sofram as consequências das birras dos meninos da mãe que não olhando a meios para atingir fins atropelam tudo e todos para chegar ao topo de uma pirâmide construída sobre barro.

Os meninos da mãe não precisam de mais nada a não ser de uns euros no bolso para gastar e de muitos euros em contas bancárias algures espalhadas por paraísos fiscais. Na presunção de que o dinheiro não fala e o património fala de mais.

No entanto, é de todo conveniente registar que havendo mães diferentes é lógico que haja meninos também diferentes.

Os meninos da mãe materna que lhes seguem os princípios e, os meninos de outras mães não maternas, que por não terem princípios, cumprem esse papel na perfeição. As “mães” e os meninos!

 

Por opção do autor, este artigo respeita o AO90

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