Nos centros de interesse de pesquisa do nosso Núcleo, a prioridade é dada aos registos de conflitos, aos cenários de Guerra ou dela promotores e, porque a nossa anfitriã de acolhimento, a área de Ciência das Religiões da ULHT assim o justifica e quase torna prioritário, também aos motivos produzidos junto a acontecimentos que têm a ver diretamente com as religiões ou com a sua referência.Já não é a primeira vez que dizemos aqui – e noutros lados, é claro – que mais do que as Religiões são os homens e os seus interesses que determinam os excessos mais radicais e os confrontos mais sangrentos.
A fé, a religião, as formas como se praticam ou estruturam são fundamentalmente opções individuais. A sua “prisão” em estruturas organizadas pode conduzir o crente a becos sem saída, em especial se os responsáveis pela “prisão” se subordinam a interesses pessoais de poder e glória, muito para lá da fé que motiva os seus seguidores. Os exemplos são inúmeros. Mas as práticas, muitas delas criminosas, em nome desta ou daquela corrente de crença, servem invariavelmente interesses que estão muito para lá da sinceridade dos crentes. Virá isto a propósito dos debates mais recentes de práticas criminosas feitas pelas hierarquias de topo de uma Igreja que tem presença ativa em Portugal; mas também pode ler-se nos relatórios da detenção de uma portuguesa, em Inglaterra, suspeita de ligação a um grupo terrorista – desses que usam capas religiosas para atingir os seus fins assassinos – ou dos acontecimentos nas últimas horas na Tunísia.
Por partes, a detenção de uma portuguesa, de 38 anos, por suspeita de ligação a um grupo terrorista “está a ser acompanhada” pela Secretaria de Estado das Comunidades Portuguesas. Trata-se de Claudia Patatas, residente na localidade de Banbury, a 130 quilómetros a noroeste de Londres, com audição agendada no Tribunal Criminal Central de Londres para 19 de janeiro, juntamente com outros cinco homens, um dos quais será alegadamente o seu companheiro. O grupo reclama inocência, mas o Tribunal formula acusações de envolvimento na preparação e instigação de atos de terrorismo e de de serem membros da organização proscrita ‘Ação Nacional’, organização alegadamente neonazi, racista, antissemita e homofóbica, em suma, mais um grupo de extra-direita, de potenciais assassinos, sem motivação maior do que a da instrumentalização de interesses bem definidos. Violência pura.
Como no caso de Thomas Mair, condenado pelo assassinato da deputada Jo Cox, que foi aplaudido pela Ação Nacional e alegadamente inspirado por ideologia neonazi.
O terceiro caso de violência que seguimos – o primeiro é o dos elementos da Igreja que opera em Portugal e em que alguns dirigentes são alegadamente suspeitos de práticas criminosas, o segundo este dos neonazis a operarem em Inglaterra – é o levantamento urbano na Tunísia – para quem não sabe, a Tunísia fica a duas horas de voo da capital portuguesa.
É um outro tipo de violência, para muitos justificável e justificada. A poucos dias da evocação da “Revolução de Jasmim”, que ocorreu há sete anos e derrubou o regime do ditador Zine El Abidine Ben Ali em 14 de janeiro de 2011. Agora, os tumultos são contra medidas de austeridade. Centenas de pessoas foram detidas por roubo, pilhagens e fogo posto, bem como por bloqueios de estradas. Os confrontos são em diversas cidades da Tunísia, incluindo Siliana (noroeste), Kasserine (centro) e Tebourba, a 30 quilómetros a oeste da capital, Tunes.
Sob o ponto de vista Académico, interessa-nos muito seguir acontecimentos desta natureza, interrogando-os. As respostas surgirão, em conformidade, das leituras que outros fizerem.
Por opção do autor, este artigo respeita o AO90