Algumas notas Circulares sobre “Os Remadores” de Augusto Esteve em jeito de Prefácio
“Dentro de mim há silêncios que cantam.”
DMG
Das misteriosas terras de Sofala ali mesmo junto ao Índico surge-nos um jovem autor moçambicano construtor da utopia da nação moçambicana.
Poesia com muita verve, musicalidade e melodia.
Uma utopia que se vai construindo no dia a dia repleta de contrastes e assimetrias, sempre com suor e labor. E há aqui uma ânsia da construção no edifício geracional da poesia, mas sem pressas, nem presunção.
O poeta constrói-se serenamente, mas num mar turbulento.
É sempre bom e seguro não confundir ânsia de escritor com ânsia de fama e visibilidade, sempre efémeras. Aqui há labor, humildade e despretensiosismo.
Nota-se uma inquietação constante contra a passividade dominante, fazendo lembrar Delmar Maia Gonçalves que diz convicto “Imigro constantemente de mim para mim mesmo”. Mais uma voz inconformada que nasce das entranhas do silêncio. Um silêncio da mortalha porque fere, porque dói, porque acorda, porque grita, porque reclama, porque chora, porque balbucia.
E as noites longas teimam em permanecer:
…Noites onde o silêncio é o nosso amigo,
Noites do eco silencioso,
Noites onde falamos com o ar…
Noites onde a escuridão nos abraça
Os homens nos abandonam,
As feras nos acolhem,
…”
Creio que a chave da leitura desta obra poética nos remete para a geografia microcósmica do poeta – remador que se confunde com o país real. Profético vai avisando este vate marejante:
Não importa se sabes remar
Se és do litoral
Se és do interior,
Quando o dia chegar todos temos
Uma canoa para remar,
Rumo ao alto mar.”
Estou certo que os remadores chegarão ao seu destino, na longa construção do edifício de um futuro que este ávido poeta – remador reivindica. Sem esquecer o que Delmar Maia Gonçalves diz : “A inteligência dos poetas e escritores precisa de viver num mundo mais amplo do que esse a que as sociedades em que vivemos traçaram tão mesquinhos limites.”
Por isso acredito piamente que ninguém ficará indiferente a esta poesia – “explosão e grito”, que se lê de um só fôlego e que nos obriga a ler, reler, degustar e reflectir.
De resto concordando com o que dizia Elbert Hubbard, “Não crie desculpas – fale menos, faça mais e realize algo na vida.”
Bayete poeta, em frente!
Receba a nossa newsletter
Contorne o cinzentismo dominante subscrevendo a Newsletter do Jornal Tornado. Oferecemos-lhe ângulos de visão e análise que não encontrará disponíveis na imprensa mainstream.