62 super-ricos têm a mesma riqueza que metade da população mundial
Desde o ano passado, os super-ricos do planeta enriqueceram, enquanto os pobres ficaram ainda mais pobres. Um pequeno grupo de apenas 62 pessoas é proprietário de um volume de riqueza igual àquele que está nas mãos de metade da população mundial. Estas são conclusões de um relatório apresentado pela ONG Oxfam no Fórum Económico Mundial, o encontro anual do mundo financeiro e das elites políticas em Davos, na Suíça.
A soma do património dos 1% mais ricos do mundo ultrapassou desde o ano passado o volume de riqueza dos 99% restantes com avanço sobre as previsões apresentadas em 2015 pela ONG britânica.
“O abismo entre a franja mais rica e o resto da população mundial aprofundou-se de forma espectacular nos últimos meses”, constata o relatório da Oxfam.
A desigualdade galopante criou um mundo onde 62 pessoas possuem tanto como a metade mais pobre da população do mundo, um número muito inferior aos 388 de há apenas cinco anos. O relatório “Uma economia para os 1%” descreve o modo como a riqueza da metade mais pobre da população mundial – mais de 3,6 mil milhões de pessoas – caiu um trilião de dólares (41 por cento) desde 2010. Enquanto isso, a riqueza dos mais ricos, 62 pessoas, aumentou em mais de meio bilião de dólares, para 1,76 biliões de dólares.
“O poder e o privilégio estão a ser usados para defraudar o sistema e aumentar o fosso entre os mais ricos e os mais pobres para níveis inéditos. Em vez de serem refreados, o lucro e a riqueza estão a ser reforçados a um ritmo alarmante”, afrimou Raymond C. Offenheiser, presidente da Oxfam América. “Enquanto essa desigualdade extrema é nociva para todos, são os mais pobres dentre nós que sofrem as consequências mais terríveis”.
Apesar de os líderes mundiais falarem cada vez mais da necessidade de combater as desigualdades, o fosso entre os mais ricos e o resto continuou a aumentar drasticamente nos últimos 12 meses. Na reunião de Davos do ano passado, a Oxfam previu que 1% da população mundial viria a possuir em breve mais riqueza do que o resto do mundo e esta previsão tornou-se realidade ainda antes do fim de 2015.
A Oxfam pede medidas urgentes para combater a crise da extrema desigualdade, que ameaça minar os progressos realizados na luta contra a pobreza a nível mundial durante o último quarto de século. A ONG insiste em especial na exigência de acabar com a prática dos paraísos fiscais. “Os paraísos fiscais são a essência de um sistema global que permite que grandes corporações e indivíduos ricos evitem pagar um contributo justo, privando os governos, ricos e pobres, dos recursos de que necessitam para prestar serviços públicos essenciais e enfrentar a crescente desigualdade”, sublinhou Offenheiser.
Em termos globais, estima-se que 7,6 biliões de dólares de riqueza particular estejam em offshore – um duodécimo do total. Se fosse pago o imposto sobre o lucro que gera essa riqueza, os governos poderiam dispor anualmente de um extra de 190 mil milhões de dólares.
A Oxfam destacou ainda que 9 em cada 10 parceiros corporativos do World Economic Forum deste ano estão presentes em pelo menos um paraíso fiscal, estimando que a fuga fiscal por empresas multinacionais custa aos países pelo menos 100 mil milhões de dólares por ano, traduzidos em atraso de desenvolvimento. O investimento das empresas em paraísos fiscais quase quadruplicou, entre 2000 e 2014.
A ONG frisa que é vital permitir aos governos recolher os impostos devidos de empresas e indivíduos ricos, se os líderes mundiais tencionam de facto cumprir o objectivo definido em Setembro passado de eliminar a extrema pobreza até 2030.
Embora o número de pessoas que vivem em extrema pobreza tenha caído para metade entre 1990 e 2010, o rendimento médio anual dos 10% mais pobres aumentou em menos de 3 dólares por ano no último quarto de século. Se a desigualdade dentro dos países não tivesse crescido durante esse período, um grupo adicional de 200 milhões de pessoas teriam escapado à pobreza.
Outra das principais tendências por trás da crescente desigualdade apontadas no relatório da Oxfam é a baixa do volume de rendimento nacional que é partilhado pelos trabalhadores em quase todos os países desenvolvidos e muitos países em desenvolvimento e o fosso cada vez maior entre a remuneração na parte superior e na parte inferior do escalão de rendimentos.