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Domingo, Novembro 3, 2024

Osvaldo Carneiro Chaves: A Honra dos Maridonos

Ainda no mês de Março, mês do Dia Internacional da Mulher, recomenda-se a leitura do poema A Honra dos Maridonos, do padre cearense Osvaldo Carneiro Chaves. “Mulheres do mundo inteiro, / Uni-vos / E decidi-vos!”, provoca o poema, claramente feminista. “Abaixo a pretensão de propriedade / Sobre a mulher, com rótulo de amor.”

Nascido na cidade de Granja, no norte do Ceará, Osvaldo Carneiro Chaves é um sacerdote. Estudou no Seminário da Betânia, em Sobral, onde foi posteriormente professor, no próprio seminário e no Colégio Sobralense, de propriedade da Diocese de Sobral. Homem à frente do seu tempo, questionador, instigante, foi educador de várias gerações, que o reverenciam até hoje.

Poeta, aos 95 anos de idade continua em Sobral, na mesma casa em que mora há décadas, e na qual, na parede defronte à porta da entrada, encontram-se pendurados quatro quadros, de quatro homens que mudaram a história da humanidade, nas palavras do velho sacerdote: Marx, Einstein, Freud e Cristo.

Mulheres, de Klévisson Viana

Na década de 1980, o padre Osvaldo, irritado com os homens que se consideravam donos das mulheres, parafraseia a célebre consigna de Marx e Engels no Manifesto do Partido Comunista, e escreve um poema chamado A Honra dos Maridonos. É um libelo, um chamamento e um incitamento à rebeldia das mulheres, surpreendentemente atual, com uma carga de ira mal contida e irônica contra o machismo.

Confira abaixo o poema, que foi publicado em 1986 no livro Exíguas (organizado pela Secretaria Municipal de Cultura e Desporto, Fortaleza): 

A Honra dos Maridonos

por Osvaldo Carneiro Chaves

Mulheres do mundo inteiro,
Uni-vos
E decidi-vos
A enfeitar a testa aos maridonos
Com dois chifres, no mínimo, por mês.

Eles merecem mais.
Porém virtude
É vigiar para evitar excessos.

Abaixo a pretensão de propriedade
Sobre a mulher, com rótulo de amor
E pública escritura nos cartórios!

Abaixo a tirania do poder
Do homem sobre a mulher
─ Mulher-fazenda ─
Onde o homem cultiva a própria honra,
E em cuja cara está sua vergonha
Como o leite nos úberes das vacas,
Como o toucinho e a banha nos suínos!

Se alguém quer ser honrado, tenha honra
No próprio proceder, tenha vergonha
Na própria cara, ou não tem honra alguma
Nem direito a ser tido por honrado.

Mulheres do mundo inteiro,
Uni-vos
E decidi-vos!


Texto em português do Brasil

Exclusivo Editorial PV / Tornado


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