(Painel à direita) – Composição de forte estrutura geométrica, de gente rude e ao mesmo tempo elegante. São saltimbancos ganhando a vida difícil do povo.
Esta ousadia criativa, haveria de custar ao artista grandes dissabores pela audácia mal vista, de representar o povo na Arte. Foi tomada, aliás, a decisão de destruir a obra.
Infelizmente porque vivemos neste país concreto, onde a cultura é um parente pobre, encontram-se encerrados ao povo estas extraordinárias obras de Arte que Almada dedica… ao povo. Ele diria mesmo em 1953 ao Diário de Lisboa que esta era a sua obra “mais dele”.
Nota da Edição
Almada Negreiros (1893-1970)
Foi artista plástico, escritor e coreógrafo. Durante quase meio século ocupou um lugar de destaque na criação e no triunfo do modernismo em Portugal.
De sua actividade como escritor sobressai a colaboração nas revistas Orpheu (1915) e Portugal Futurista (1917), bem como o romance Nome de Guerra e a obra poética A Invenção do Dia Claro. Escreveu também artigos diversos em jornais e revistas, enquanto ensaísta e crítico.
É, porém, a sua actuação na pintura o que mais se destaca na sua produção artística, embora tenha igualmente executado vitrais, mosaicos e tapeçarias, entre outras artes plásticas, contribuindo para a formação e para o desenvolvimento do modernismo em Portugal.
Além de diversos quadros a óleo, distinguem-se os magníficos painéis dos portos marítimos de Alcântara e da Rocha do Conde de Óbidos. Nestes últimos, retrata a emigração portuguesa de forma realista e comovente, expressando-se como sempre em tons fortes e vibrantes, com predominância de amarelos e azuis. No entanto, os painéis da Rocha do Conde de Óbidos já apresentam um geometrismo de raiz cubista, que Almada irá desenvolver ao longo dos anos e que pode ser observado nos paradigmáticos retratos de Fernando Pessoa.