Existe um ditado muito popular no Brasil: “se a carapuça serviu, vista-a”. Há tempos o mais alto líder da Igreja Católica, o papa Francisco, vem alertando os fiéis sobre o crescimento do fascismo no mundo e o risco de nascimento de regimes totalitários. Há poucos dias das eleições presidenciais no Brasil, o presidenciável Jair Bolsonaro (PSL) parece se sentir muito incomodado com os posicionamentos mais progressistas de líderes religiosos e chegou a acusar a CNBB de “parte podre” da igreja. Em nenhum momento o papa ou algum dos bispos brasileiros citou o nome de Bolsonaro para afirmar que ele representa uma ameaça à democracia. Porém, ainda assim, parece que as ‘carapuças’ jogadas pelo sumo pontífice nos últimos dias serviu tem servido ao capitão afastado que agora mira no Palácio do Planalto.
Há meses, Papa falou sobre como “começam as ditaduras”, segundo ele, é a partir de notícias falsas. “As ditaduras, todas, começaram assim, adulterando a comunicação, para colocá-la nas mãos de uma pessoa sem escrúpulo, de um governo sem escrúpulo”, explicou.
No Brasil, a campanha de Bolsonaro é marcada pelo fenômeno das “fake news”, notícias falsas amplamente compartilhadas através de mensagens em grupos do Whatsapp e outros aplicativos de comunicação. Além disso, o candidato do PSL se recusa a participar dos debates na TV para apresentar seu projeto de governo.
É inevitável pensar que as mensagens do Papa servem como uma luva para o momento político brasileiro. O líder religioso critica a disseminação de notícias falsas, a falta de empatia, o porte de armas. Coincidência ou não, este é o tripé que sustenta a figura de Jair Bolsonaro, cuja campanha é ancorada nas fake news, discursos que fomentam a violência e incentivo ao uso de armas.
Em uma missa recente, o Papa alertou os fiéis sobre líderes que buscam “submeter os mais frágeis, usar a força em qualquer de suas formas, impor um modo de pensar, uma ideologia, um discurso dominante, usar a violência ou repressão para oprimir”.
Segundo o líder religioso, assim se sustentam os regimes totalitários e cabe a quem “tem discernimento detectar a tempo qualquer reaparecimento dessa atitude perniciosa, qualquer sopro daquilo que pode manchar os corações de gerações que não viveram aqueles tempos e podem ser enganados por cantos de sereia”.
O Brasil é uma das dez maiores economias do mundo, dono de reservas de petróleo e outras matérias primas essenciais; maior país em extensão territorial no continente e, portanto, tem grande poder de influência sobre os demais. Um líder destemperado e imprevisível como Bolsonaro no mais alto cargo da república pode resultar numa catástrofe social.
Bolsonaro contra a CNBB
A CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) se manifestou na última semana em defesa da democracia. Bolsonaro, que nem tenta disfarçar sua veia antidemocrática já afirmou que a organização é “a parte podre” da Igreja porque atua em defesa dos indígenas.
Em resposta à ação desrespeitosa do presidenciável, o bispo emérito de Duque de Caxias e um dos idealizadores e percussores do programa Fome Zero, Dom Mauro Morelli, afirmou: O candidato Bolsonaro agrediu gravemente e de forma gratuita a Igreja Católica, taxando a CNBB de parte podre da Igreja. De sua boca jorram asneiras e impropérios, revelando um homem desequilibrado e vulgar. Se eleito acabará defenestrado em pouco tempo”.
Por Mariana Serafini | Texto em português do Brasil
Exclusivo Editorial PV / Tornado
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