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Domingo, Dezembro 22, 2024

Papiniano Carlos

Helena Pato
Helena Pato
Antifascistas da Resistência

(1918 – 2012)

Um nome gravado a ouro na luta pela Liberdade. Fez parte do grupo dos poetas neorrealistas portuenses que ficaram conhecidos como a Geração de 50. “A menina gotinha de água” é a sua obra mais célebre. Publicada em 1962, seria sucessivamente reeditada, com um amplo acolhimento junto do público infantil. Publicou com abundância nos anos 50 e 60, período em que escreveu títulos marcantes como “Poema da fraternidade”, “Estrada nova” ou “As florestas e os ventos”.

Fervoroso combatente antifascista, foi preso três vezes pela PIDE, colaborou nas revistas “Seara Nova” e “Vértice” e integrou os corpos dirigentes do Círculo de Cultura Teatral do Teatro Experimental do Porto. Participou em várias reuniões do Conselho Português para a Paz e Cooperação, deslocando-se clandestinamente ao estrangeiro.

Aspirações literárias

Papiniano Manuel Carlos de Vasconcelos Rodrigues nasceu em Lourenço Marques (actualmente Maputo), a 9 de Novembro de 1918 e faleceu em Pedrouços, Maia, no dia 5 de Dezembro de 2012.

O seu pai era militar destacado em Moçambique, facto que determinou a sua permanência em África, até completar o ensino primário. Papiniano veio então para Portugal, para Cinfães, onde residiam os avós maternos, o que lhe possibilitou um contacto com as gentes do campo e a inspiração para as personagens de “Terra com Sede”.

Depois, fixou-se no Porto, onde concluiu os estudos secundários no Liceu Alexandre Herculano, começando, entretanto, a escrever em jornais escolares. Chegou a entrar na universidade, frequentou os cursos de Engenharia Electrotécnica e Engenharia Mecânica na Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, e o de Ciências Geofísicas, na Faculdade de Ciências da mesma universidade. Na Universidade do Porto conheceu Jorge de Sena mas, contrariamente a este, Papiniano Carlos não chegou a concluir o curso (continuamente preterido pelas suas aspirações literárias).

Pseudónimo Garcia em homenagem a Garcia Lorca

O clima de opressão que se vivia no país, com a censura prévia e a polícia política, foi aproximando Papiniano Carlos, ainda jovem, do Partido Comunista Português. Entre as décadas de 1960 e 1970, viajou pelo estrangeiro, representando o PCP em diversas encontros, nomeadamente no Congresso Mundial da Paz, que teve lugar em Moscovo, em 1973. Entrava e saía clandestinamente do país, o que lhe valeu três prisões pela PIDE. Assim aconteceu quando regressou de um congresso realizado na Argélia, acabando encarcerado pela PIDE no Algarve, ao desembarcar numa praia de pescadores. Na militância clandestina usava o pseudónimo Garcia, em homenagem ao poeta andaluz Garcia Lorca.

A actividade política na Oposição permitiu-lhe conhecer de perto algumas das personalidades mundiais da época, entre elas o chileno Nobel da Literatura Pablo Neruda (então embaixador do Chile em Paris) e a astronauta soviética Valentina Teráshkova .

Participou no 3.º Congresso da Oposição Democrática, que teve lugar em Aveiro na primeira semana de Abril de 1973, e apresentou a tese “Europa Nova: Portugal Novo”.

Pertenceu ao grupo de poetas da Geração de 50

Poeta, contista e autor de numerosos livros para a infância, “A menina gotinha de água” é a sua obra mais conhecida.

Colaborava regularmente em publicações literárias que assumiam papel importante na Resistência: Seara Nova, Vértice, Bandarra. Chegou a dirigir Notícias do Bloqueio.

Em 1942 publicou o seu primeiro livro, uma colectânea de poemas intitulada Esboço. Seguiram-se: Ó Lutador (1944), Poema da Fraternidade (1945) e quatro anos depois, em 1946, editou Estrada Nova – Caderno de Poemas, com capa de Júlio Pomar, uma obra bem acolhida pelo público, mas rapidamente apreendida pela PIDE, devido à inspiração social e democrática do autor. Naquele ano foi também publicado Terra com Sede, que marca a sua estreia na ficção. Não tardou a destacar-se nos poetas neorrealistas portuenses da “Geração de 50″. .

Estreou-se como contista em 1946 e prosseguiu com As Florestas e os Ventos (1952). Com uma obra poética bastante dispersa, conta com algumas publicações de sucesso, como Caminhemos Serenos (1957), Uma Estrela Viaja na Cidade (1958) e o célebre A Menina Gotinha de Água (1962), vocacionado para o público infantil, pelo qual Papiniano Carlos nutria grande estima. Também para crianças, compôs Luisinho e as Andorinhas (1977), O Cavalo das Sete Cores e o Navio (1980), O Grande Lagarto da Pedra Azul (1986) e A Viagem de Alexandra (1989). De referir também o seu único romance, O Rio na Treva (1975), e uma crónica, A Rosa Noturna (1961).

A paixão pela literatura africana foi uma constante na sua vida e era um divulgador incansável da poesia africana de expressão portuguesa. .

O poema infantil “A menina gotinha de água” tem sido reeditado em edições ilustradas e musicadas.

Papiniano Carlos encontra-se representado em diversas antologias poéticas, desde a década de 1960; o poema “Canção de Catarina” foi musicado por Fernando Lopes Graça, em “Canções Heróicas II”, em 1973; “A menina gotinha de água” serviu de texto para um filme com o mesmo nome, realizado por Alfredo Tropa, para a RTP.

 

1998

  • No Centro de Trabalho da Boavista do PCP (Partido Comunista Português), nas comemorações dos seus 80 anos

2007

  • Na 77ª edição da Feira do Livro do Porto, juntamente com Vasco Graça Moura; na Biblioteca Municipal Dr. José Vieira de Carvalho, na Maia
  • Mostra documental de Papiniano Carlos na Quinta da Caverneira, na Maia.

2008

  • Por um grupo de intelectuais e artistas, de diferentes tendências políticas e sensibilidades artísticas, numa festa realizada no Ateneu Comercial do Porto para celebrar os seus 90 anos de idade.
  • Papiniano Carlos foi ainda homenageado pela editora Campo das Letras

Filmografia

  • Filme baseado n’ A Menina Gotinha de Água de Alfredo Tropa, da RTP

Discografia

  • Papiniano Carlos por Papiniano Carlos, Porto, Orfeu
  • A Menina Gotinha de Água lida por Cármen Dolores, Lisboa, RR Discos Lda

 

Papiniano Carlos com a mulher, Olívia Vasconcelos, numa homenagem

 

Papiniano Carlos com a mulher, Olívia, na sua casa da Maia (Foto de Biblioteca Municipal Vila do Conde – José Régio)

 

Os dias da Revolução – à porta da PIDE, no Porto. Vêem-se: Virgínia Moura, Óscar Lopes, Papiniano Carlos, Olívia Vasconcelos.

 

Meados dos anos 50. Foto tirada após almoço de convívio de anti-fascistas ligados ao T.E.P . (Teatro Experimental do Porto) De pernas flectidas: Luis Veiga Leitão e Vasco Lima Couto. Entre eles, em pé a Salomé filha de Papiniano Carlos. Em pé Papiniano Carlos, Olívia, sua mulher, Fernando Gaspar e esposa.
Foto de Alberto Ferreira, partilhada no grupo Fascismo Nunca Mais.

 


Dados biográficos:

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