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Sexta-feira, Novembro 22, 2024

Para acabar com a violência política de gênero é preciso dizer “Isso Não”

Marcos Aurélio Ruy, em São Paulo
Marcos Aurélio Ruy, em São Paulo
Jornalista, assessor do Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo

Na quinta-feira (4) nasceu a campanha “Isso Não” contra a violência política de gênero no país. Uma verdadeira frente ampla se formou para conduzir e a campanha, que agrega diversos movimentos e coletivos que lutam pela emancipação feminina, por equidade, igualdade de direitos e respeito à diversidade e dignidade humanas.

“A campanha se soma à luta de todas as mulheres para acabar com a violência de gênero, que coloca o Brasil como o quinto país mais violento contra as mulheres e o primeiro contra a população LGBTQIA+”, afirma Celina Arêas, secretária da Mulher Trabalhadora da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB).

De acordo com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública uma mulher é agredida a cada 2 minutos no Brasil. Institutos de pesquisa comprovam que a situação piorou muito durante a pandemia ao mesmo tempo em que cresce a violência política de gênero. “Isso não pode mais continuar”, diz Gleicy Blank, secretária da Mulher da CTB-ES. “Somente unidas conseguiremos barrar a misoginia, o ódio, a violência e derrotar o bolsonarismo”.

Essa campanha, afirma Lenir Piloneto Fanton, secretária-adjunta da Mulher Trabalhadora da CTB, deve motivar uma maior participação das mulheres na vida política. “Precisamos ir além e disputar os cargos eletivos em todos os níveis para elevar o debate sobre a emancipação feminina nestes tempos sombrios”. Fiscalizar a aplicação da política de cotas nos partidos é um bom começo.

“A emancipação das mulheres virá quando ela ocupar a política”, diz Michely Coutinho, secretária da Mulher da CTB-GO e de Diversidade do SINT-IFESGO. Por isso, diz ela, “é fundamental que os movimentos sociais e o sindical priorizem o combate à violência política contra as mulheres”.

Acompanhe como foi o lançamento

Como uma das mulheres mais agredidas na política, Manuela D’Ávila acentua que “a violência política de gênero obstrui o debate sobre projetos e coloca no centro a nossa condição de mulher” e “essa ideia do debate obstruído, para nós, é o centro da construção dessa campanha”.

Além de Manuela participaram do lançamento da campanha transmitido pela Nave Coletiva, Marina Helou (Rede-SP), deputada estadual por São Paulo; Bruna Brelaz, presidenta da União Nacional dos Estudantes (UNE); Isa Penna, (PSol-SP), deputada estadual por São Paulo; Erika Hilton (PSol-SP) vereadora na capital paulista, Juliana Cardoso (PT-SP), vereadora em São Paulo e Paula Nunes, covereadora pelo PSol.

Valéria Morato, presidenta da CTB-MG, argumenta que “campanhas como a ‘Isso Não’ são fundamentais para coibir o ódio, o machismo, e valorizar a participação política das mulheres na vida do país e na construção de uma democracia que consolide, na prática, a igualdade entre os gêneros”. Porque “lugar da mulher é onde ela quiser”.

Ao concordar com Valéria, a secretária da Mulher da CTB-SP, Heloísa Gonçalves de Santana fala sobre a importância do lançamento da “Isso Não” no Mês da Consciência Negra e próximo ao período da campanha 16 Dias de Ativismo pelo Fim da Violência Contra as Mulheres, que “ocorre em mais de 160 países de 25 de novembro a 10 de dezembro”. No Brasil, “a manifestação se soma ao Dia Nacional da Consciência Negra – 20 de novembro – com 21 dias de ativismo”.

“Nós somos mulheres com diferentes trajetórias e todas temos uma coisa em comum: todas temos a nossa militância e nossos mandatos obstruídos por esses instrumentos”, diz Manuela D’Ávila na live de lançamento da campanha.

Segundo a pesquisa Visível e Invisível: A Vitimização de Mulheres no Brasil, feita pelo Datafolha para o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, 17 milhões – 1 em cada 4, acima de 16 anos – de mulheres disseram ter sofrido algum tipo de violência entre meados de 2020 e 2021.

“Compreender e enfrentar os mecanismos de machismo e misoginia na política brasileira é necessário” para que “não se repita parte do processo do golpe contra a presidenta Dilma, em 2016”, acentua Michely. “Nossa tarefa é conquistar a equidade de gênero na política, na sociedade e na vida”.

Valéria lamenta que “diariamente, somos vítimas de desqualificação, difamação, ameaças e xingamentos, muitas vezes em forma de fake news, nas redes socais, ou mesmo pessoalmente, através do deboche das nossas posições e da interrupção das nossas falas, do preconceito contra nossas roupas, maquiagem e forma física. Muitas de nós somos assediadas moral e sexualmente em plena luz do dia”.

Por isso, a campanha “Isso Não” pretende incorporar à luta política “o combate à misoginia, ao racismo”, diz Manuela. “Sem mulheres na linha de frente, não há democracia. Quando tentam nos invisibilizar politicamente, não existe democracia”.

Celina reforça a importância da “Isso Não” ao afirmar que “a CTB apoia integralmente essa campanha como forma de empoderar a luta da mulher por vida digna e com respeito às suas vontades e desejos”. Para ela, “ter mais mulheres na política significa fazer o Brasil andar para a frente”.


Texto em português do Brasil

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