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Sexta-feira, Novembro 22, 2024

Para quando o processo ao covidismo?

Paulo Casaca, em Bruxelas
Paulo Casaca, em Bruxelas
Foi deputado no Parlamento Europeu de 1999 a 2009, na Assembleia da República em 1992-1993 e na Assembleia Regional dos Açores em 1990-1991. Foi professor convidado no ISEG 1995-1996, bem como no ISCAL. É autor de alguns livros em economia e relações internacionais.

Tomar uma decisão errada no clima de histeria colectiva imposto pelo covidismo é mau, mas muito pior é, passado esse momento, recusar analisar o que se passou, quais os resultados obtidos e tirar as devidas conclusões do processo. No primeiro caso, pode-se alegar as circunstâncias, no segundo, só a má-fé permite uma explicação.

  1. O ruir da grande muralha da China

Foi apenas a 16 de Outubro que o Presidente Xi, no seu relatório ao Congresso do Partido Comunista da China, reclamou os louros da liderança mundial na política de pureza sanitária perante o COVID:

‘Demonstrámos o sentido de dever da China enquanto grande país responsável, participando ativamente na reforma e desenvolvimento do sistema de governação global e envolvendo-nos na cooperação internacional na luta contra o Covid-19. Tudo isto nos fez ganhar reconhecimento internacional generalizado. A influência internacional, a atração e o poder de impor padrões da China aumentaram acentuadamente.’

Mais ainda, Xi fez da continuidade do sucesso dessa política um dos temas fortes do seu discurso:

‘Respondendo ao súbito surto de Covid-19, colocámos as pessoas e as suas vidas acima de tudo, trabalhámos para prevenir a importação e os ressurgimentos internos, e prosseguimos tenazmente uma política dinâmica de zero-Covid. Ao lançar uma guerra total do povo à propagação do vírus, protegemos ao máximo a saúde e a segurança das pessoas e obtivemos tremendos sucessos, tanto na resposta epidémica como no desenvolvimento económico e social.’

Para a surpresa geral de todos ou quase todos os observadores, o discurso do senhor aparentemente absoluto do que é já para alguns o mais poderoso país do mundo, e sê-lo-á na opinião da maioria dos restantes nos próximos anos, foi virado do avesso perante uma explosão de protesto popular a que o país não assistia há décadas. O protesto teve como principal alvo esta forma de fascismo que em nome de uma quimérica pureza sanitária condenou os cidadãos a uma política de encarceramento civil conhecida como de ‘contenção’ ‘confinamento’ ou usando o jargão do documento comum da Organização Mundial de Saúde e da República Popular da China que lhe deu origem, ‘utilização intransigente e rigorosa de medidas não farmacêuticas’. (Ver jornal Tornado de 18 de abril de 2022)

Perante a rebelião popular, a 7 de Dezembro, a Comissão Nacional de Saúde da China anunciou a inversão total do paradigma, com o fim da política de pureza sanitária, apresentada como a mudança da política de contenção para a de mitigação, reconhecendo que os perigos colocados por este vírus são equivalentes aos da gripe, reconhecimento que antes levou à crucificação pública de quem o ousou fazer.

  1. Do negócio do poder ao poder do negócio

O relatório da ‘comunidade’ dos serviços de informação norte americanos, datado de 29 de outubro de 2021, ou seja, praticamente dois anos depois de começada a pandemia, revelou-se incapaz de determinar a origem do vírus, tornando públicas as divergências de opinião dos seus membros, acrescentando que ‘seria necessária maior cooperação por parte de Pequim para obter mais informação’.

A parte do relatório tornada pública é prolixa em matéria de quantificação de divergências ou de opiniões, mas é incapaz de explicar como é possível que a ‘comunidade’ que é tida por ser a maior máquina mundial de informação e análise, e que tem como principal missão, justamente, saber o que os adversários dos EUA querem esconder, conclua apelando às autoridades chinesas para revelar o que essa comunidade não consegue ou não quer ver.

Num país onde existem virtualmente milhares de mercados (sem falar de restaurantes) que comerceiam animais vivos, mas existe apenas uma única cidade com instalações capazes de analisar os vírus de morcegos que estão na origem do COVID-19 – cidade, por sinal muito longe de onde esses morcegos se encontram na natureza – a probabilidade de a origem ser outra que esses laboratórios é estatisticamente nula.

Para entender isso, não é necessário ter qualquer qualificação em epidemiologia e menos ainda trabalhar para qualquer agência de informação, basta apenas saber somar dois com dois. Não é necessário considerar a possibilidade de modificação genética – cujo debate, esse sim, exige conhecimento especializado.

As conclusões do relatório em matéria de relação da pandemia com uso militar iludem a questão, limitando-se a constatar que existe imensa desinformação produzida a propósito do tema, o que, sendo verdade, não significa que essa relação não exista.

A meu ver esse debate não tem sentido. Não há virtualmente nenhum avanço científico que não tenha relevância militar, começando na internet e acabando na física quântica. É obrigação de toda a estratégia militar seguir de perto o que se passa aqui, nem que seja para encontrar formas de defesa contra a utilização dessas armas pelo inimigo.

Contudo, isso não nos pode levar a concluir que uma instituição de defesa de qualquer grande potência tenha feito de uma das maiores e mais industrializadas cidades do mundo uma cobaia para a utilização de armas biológicas, sem tomar qualquer precaução sobre a possibilidade da sua propagação, e é essa a única constatação segura neste domínio. Seria de resto impensável que um programa dessa natureza fosse prosseguido em parceria pelos EUA e pela China.

O que é verdadeiramente extraordinário é que o relatório dedique a sua atenção a esta possibilidade de guerra biológica, mas não diga uma palavra sobre a ligação muito mais provável e abundantemente documentada entre a pandemia e a fuga laboratorial de material usado na pesquisa de vacinas antivirais, matéria em que a cumplicidade sino-americana aparece de resto como a questão essencial.

Se para as autoridades comunistas chinesas a pandemia foi uma oportunidade para tentar instaurar um sistema fascista de controlo social – e acabou por se revelar como a prova de que mesmo na China o autoritarismo tem limites – no Ocidente ela foi a oportunidade para testar o negócio do século, a imposição universal de vacinas vendidas a preço de oiro. Foi um golpe de génio! Em vez de se prestar contas pela falta de cuidado na manipulação do vírus, fez-se do desastre uma fonte milionária de lucros! Para uns tratou-se do negócio do poder, para outros foi a demonstração do poder do negócio.

  1. A comissão de inquérito ‘De Santis’

Nunca na minha vida assisti a uma campanha de desinformação tão vasta como a que foi feita para estimular o pânico, perseguir as vozes dissonantes, e condicionar a sociedade a render-se a pretensas soluções milagrosas. Basta atentarmos no que é público e que os poderes públicos não conseguiram evitar que se saiba, para entendermos a necessidade de escrutinar de forma rigorosa o que se passou.

Até agora, apenas o Estado da Flórida (EUA) tomou medidas para estabelecer uma comissão de inquérito destinada a averiguar as responsabilidades criminais das campanhas de vacinação.

A Comissão é completamente centrada na dimensão sanitária, mas a questão não pode ser apenas debatida em termos estritamente sanitários. É necessário investigar a extensão da máquina de desinformação montada e a penetração dos interesses do negócio no mundo da comunicação e da política para entender o que aconteceu.

Aquilo que permitiu que todos os procedimentos habituais necessários à colocação no mercado de novas substâncias farmacológicas fossem ultrapassados foi o sentimento de urgência assente em três pilares essenciais: (1) o perigo extraordinário colocado pelo vírus; (2) a suposta ineficácia ou mesmo perigosidade da medicação paliativa tradicional e (3) o carácter milagroso das vacinas propostas.

Nestas condições, o facto mais relevante é o de nada estar a ser feito para utilizar o tempo e os milhares de milhões de casos subsequentes para avaliar a decisão tomada.

Por outras palavras, se bem que só ao fim de dez ou quinze anos se poderá ter uma compreensão exaustiva sobre os efeitos sanitários desta campanha de vacinação, os dois anos que passaram são já uma fonte preciosíssima para se saber do acerto da campanha. Se bem que o debate profissional sobre o tema seja necessário, socialmente mais relevante, é que se responda à questão mais premente e mais fácil de responder: qual o efeito sobre a mortalidade da campanha de vacinação?

É verdade que existem já numerosas publicações e análises sobre o assunto que apontam, na generalidade, para o desmentir da capacidade salvífica da vacinação ou mesmo, pior ainda, para o seu prejuízo para a saúde pública, e são esses estudos que estão por trás desta iniciativa do Estado da Flórida.

Mas a questão é que a obrigação número um de todas as entidades públicas deveria ser a de saber qual o efeito sanitário da campanha de vacinação sobre a variável sanitária mais importante e de interpretação mais inequívoca, que é a mortalidade. Em consequência da lei dos grandes números e da enorme atenção dada a esta variável é relativamente fácil comparar a evolução da mortalidade de totalmente vacinados, parcialmente vacinados e não vacinados, por grupos de idade ou por qualquer outro critério com sentido. É incompreensível a razão pela qual isto não está a ser feito.

Tomar uma decisão errada no clima de histeria colectiva imposto pelo covidismo é mau, mas muito pior é, passado esse momento, recusar analisar o que se passou, quais os resultados obtidos e tirar as devidas conclusões do processo. No primeiro caso, pode-se alegar as circunstâncias, no segundo, só a má-fé permite uma explicação.

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