Um break-up provoca uma recaída que deveria levar a ajuda profissional. Mas ainda não leva.
O álcool e outras substâncias alteradoras do humor são responsáveis por mais suicídios do que é normal pensar-se ou saber-se.
A percepção que as pessoas têm em geral sobre o suicídio é que este acto é reservado sobretudo a quem sofre de alterações de humor, depressão ou bipolaridade. Ou então, pessoas que sofreram uma perda muito grande na sua vida, como a morte de um familiar, um grande amigo ou mesmo um divórcio. Mais recentemente devido à crise, a perda de trabalho ou um grande decréscimo da qualidade de vida provocam situações graves e que ajudam à perda de controlo.
Mas as estatísticas contam uma história diferente.
De acordo com o National Violent Death Reporting System (NVDRS) dos Estado Unidos, em 2014, 27 a 30% de todas as pessoas que morreram por suicídio tinham álcool no sangue em quantidades que já se consideram tóxicas pelos parâmetros da OMS. E que, ao contrário do que se faz em Portugal (menospreza-se e minimiza-se esta questão das quantidades), é factual.
Citando Jill HarKovey-Friedman, o vice-presidente de Pesquisa da American Foundation For Suicide Prevention, “o que sabemos sobre o suicídio é que 90% têm um diagnóstico de uma desordem mental que é potencialmente passível de ser tratada. Com frequência existe no organismo uma ou mais substancias tóxicas, como o álcool e outras”.
Todos deviam poder pedir ajuda, saber como o fazer e, mais importante, ter para onde o fazer.
As linhas de apoio profissionais ainda não existem em Portugal. A página suicidologia.pt reporta emergências para… o 112!
Quem atende uma chamada desta natureza deve ser uma pessoa formada em gestão de crises e ter ferramentas para responder à altura. Isso inclui planos de segurança e estratégias para lidar com o pensamento e sentimentos de um suicida, que existem. Uma linha de apoio é fundamental quer para a pessoa, mas também, e sobretudo, para familiares, amigos ou quem encontrar uma pessoa em risco de suicídio.
Voltando aos estudos, este feito em 2014 pelo Substance Abuse and Mental Health Services Administration, refere que as visitas aos serviços de Hospitais relacionados com drogas subiram, nos EUA, 51% desde 2005.
Em Portugal não só não existem esses serviços especializados nos Hospitais, como não há estudos focados e credíveis. Muito porque não se articulam factores, se evita falar verdade, ou puro desconhecimento/ ignorância. Nem existem organismos realmente adequados. Mas fala-se muito, muito…
Além dessa subida, o mesmo estudo revela ainda um dramático crescimento do suicídio na ordem dos 58% em jovens e jovens adultos (pessoas entre os 18 e os 29 anos), chegando aos 104% nas pessoas entre os 45 e os 64 anos. Nesta faixa etária, as principais substâncias encontradas nos corpos foram analgésicos, anti-depressivos, comprimidos para dormir e, mais uma vez, álcool.
O suicídio envolvendo medicamentos prescritos e outras drogas subiu, entre 2005 e 2011, 51% entre indivíduos com 12 e mais anos. “Estamos a assistir a um incremento enorme de suicídios onde o uso ou abuso de drogas, medicamentos ou álcool estão sempre relacionados”, diz-nos Peter Delary, director do Center For Behavioural Health Statistics and Quality. “As pessoas têm acesso a medicamentos prescritos e usam e abusam. É claro que há mais drogas a circular lá fora do que havia nos últimos anos”.
Em 2011, jovens e jovens adultos somavam 60% dos suicídios relacionados com drogas, incluindo o álcool.
Entre os 45 e os 64 anos, neste mesmo estudo, já somam menos os que se encontram com drogas ilícitas no organismo (11% dos suicidas), mas em oposição, registavam o uso de medicação: anti-depressivos ( 22%); analgésicos (29%) e comprimidos para dormir (48%).
“Há quem diga que um defeito de carácter é um mecanismo de defesa que deixou de funcionar. Eu descobri que o humor é a minha droga. As boas e más notícias é que é barato, muitíssimo viciante, mas toda a gente gosta mais de mim quando estou sob o efeito.” Até Even Gandhi disse que “se não tivesse sentido de humor, já há muito teria cometido suicídio”. E eu não posso concordar mais!” conta Amy Dresner. Se a adição envolve o evitar sentimentos desconfortáveis, não podemos tornear o facto existem milhões de adictos no Planeta Terra, mesmo que os não queiramos ver.
O certo é que, perante as mesmas situações, meio-ambiente, crises, doenças ou situações de luto, há pessoas que reagem de uma maneira, conseguindo vencer ou superar, enquanto outras procuram diferentes abrigos, sobretudo químicos. Não é possível dizer, com honestidade, que determinado factor é determinante na taxa de subida de suicídios. Nem o frio da Islândia, nem a crise em Portugal ou na Grécia. Porque pessoas diferentes reagem a estímulos diferentes.
O que podemos afirmar, com toda a certeza, é que todas as drogas, incluindo o álcool, potenciam os estados de mais tristeza, desolação, baixa de auto-estima e até de depressão. Com a ajuda deles, é um pulinho até ao desespero.
Afinal, acreditando na já citada Jill Harkavy-Fridman, os ressentimentos e as emoções negativas potenciadas ao máximo, traduzem-se na espiral que termina nos pensamentos suicidas. Mas também sabemos que 90% dos suicídios são pessoas que, potencialmente, podiam ser tratadas.
E para mais informação sobre as causas do suicídio, sugiro como leitura de fim-de-artigo a obra não editada em Portugal mas “encomendável”, de Patrick L. DeChello PhD, “Understanding Sel-Injury”. Trata-se de um dos mais incisivos e credíveis estudiosos do tema Suicídio, onde nunca falta a matriz dos químicos e das adições comportamentais, a maior parte delas desconhecidas pela própria pessoa. E aí reside o fundo do problema.
Com consulta a:
http://www.cdc.gov/violencePrevention/NVDRS/index.html
“Making Effective Mental Status Exams and Suicide Assessments”, Patrick L. DEChello
ttps://www.afsp.org/about-afsp/our-organization/staff-directory/jill-harkavy-friedman-ph.d