“Acho que do chão se levanta tudo, até nós nos levantamos. E sendo o livro como é – um livro sobre o Alentejo – e querendo eu contar a situação de uma parte da nossa população, num tempo relativamente dilatado, o que vi foi todo o esforço dessa gente de cujas vidas eu ia tentar falar é no fundo o de alguém que pretende levantar-se. Quer dizer: toda a opressão económica e social que tem caracterizado a vida do Alentejo, a relação entre o latifúndio e quem para ele trabalha, sempre foi – pelo menos do meu ponto de vista – uma relação de opressão. A opressão é, por definição, esmagadora, tende a baixar, a calcar. O movimento que reage a isto é o movimento de levantar: levantar o peso que nos esmaga, que nos domina. Portanto, o livro chama-se Levantado do Chão porque, no fundo, levantam-se os homens do chão, levantam-se as searas, é no chão que semeamos, é no chão que nascem as árvores e até do chão se pode levantar um livro”
José Saramago in o Tempo 1981
José de Sousa Saramago nasceu na Golegã, na Azinhaga a 16 de Novembro de 1922 e morreu em Tías, Lanzarote/Espanha no dia 18 de Junho de 2010.
Foi escritor, argumentista, teatrólogo, ensaísta, jornalista, dramaturgo, contista, romancista e poeta português, prémio Nobel da Literatura.
A sua extensa e notável obra literária – reconhecida com a atribuição, em 1998, do Prémio Nobel da Literatura – permanecerá como um marco na História da Literatura Portuguesa, da qual ele é um dos nomes mais relevantes.
Interveniente activo na resistência ao fascismo, deu continuidade a essa intervenção no período posterior ao Dia da Liberdade como protagonista do processo revolucionário que viria a transformar profunda e positivamente o nosso País com a construção de uma democracia que tinha como referência primeira a defesa dos interesses dos trabalhadores, do povo e do País.
José Saramago era militante do Partido Comunista Português desde 1969 e a sua morte constitui uma perda para o Partido que ele quis que fosse o seu até ao fim da sua vida.