Um certo dia, andando um pastor apascentando o seu rebanho, acompanhado pelo seu cão sempre atento a movimentos estranhos, de cajado robusto bem seguro para o seu apoio e auxilio na marcha, deparou-se com um precipício impossível de transpor.
Olhou para o cão.
Olhou para o rebanho.
Olhou para o cajado.
Olhou por entre a vegetação composta por tojo e carrasca.
Olhou para o Céu.
Olhou para todos os lados.
Olhou para tudo aquilo que vislumbrava e não conseguiu nada daquilo que pretendia: uma solução para a situação que se lhe deparava, transpor o precipício.
Com o amontoar do rebanho em torno de si, o pastor corria sério risco de ser empurrado para o precipício pelo seu próprio rebanho.
E assim, sem que nada o fizesse prever, o caos estava instalado:
No rebanho por falta de espaço.
No pastor que de cajado firmemente preso nas suas duas mãos o elevava vociferando impropérios, completamente desorientado e assustado com o que lhe podia acontecer.
O cão, que tinha aprendido a ver o rebanho sempre junto, e que por isso não fez qualquer alarido aguardando pacientemente que o rebanho rumasse a uma qualquer pastagem devidamente agrupado e o pastor lhe desse uma qualquer indicação da direção a seguir, descansava.
O precipício não sentiu qualquer necessidade ou obrigação que fosse, que determinasse, por artes de magia, forjar a ilusão de que não existia, atraindo assim para o seu seio todo o rebanho, o pastor e o seu cão.
Desta forma, todos estavam inocentes porque não haviam provocado prejuízo a outrem.
Simplesmente, o imbróglio mantinha-se. O impasse era a evidencia.
A solução não aparecia.
Eis senão, quando, uma das ovelhas se tresmalhou desatando a correr em sentido inverso.
O cão seguiu-a com o intuito de a não deixar fugir.
O rebanho seguiu a ovelha tresmalhada e o cão que havia ido no seu encalço.
E, o pastor, respirou de alivio seguindo o rebanho para longe do precipício.
Porque, não raramente, mesmo no reino dos inocentes, é necessário arrepiar caminho, reorganizar o rebanho e procurar pastagens onde não hajam precipícios.
Que os inocentes farão sempre caminho por entre os seus ideais.
Por opção do autor, este artigo respeita o AO90
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