“A Fundação Coelho & Oiticica se oferece para cobrir os gastos do Festival do Capão, solicitados via Lei Rouanet (R$ 145.000). Entrem em contato via DM pedindo a alguém que sigo aqui que me transmita. Única condição: que seja antifascista e pela democracia”, escreveu o escritor carioca em sua rede social.
Tudo isso porque a Fundação Nacional das Artes (Funarte) vetou, em nome de Deus, recursos da Lei Rouanet (Lei Federal de Incentivo à Cultura, criada em 1991) para o financiamento do 8º Festival de Jazz do Capão, que ocorre no Vale do Capão, na Bahia.
De acordo com a Funarte, postagens dos organizadores do festival, que existe desde 2010, se dizendo antifascistas e pela democracia desvirtuam o papel da cultura. Uma das postagens dos organizadores do festival diz que “não podemos aceitar o fascismo, o racismo e nenhuma forma de opressão e preconceito”.
O órgão do governo federal, ligado à Secretaria Especial de Cultura, comandada por Mário Frias, que trabalha armado e aos gritos, dizem as boas línguas, argumenta que “o objetivo e finalidade maior de toda música não deveria ser nenhum outro além da glória de Deus e a renovação da alma”, frase atribuída ao músico alemão Johann Sebastian Bach (1685-1750).
Depois de usar o nome de Deus em vão por diversos parágrafos, a entidade, que deveria defender a cultura, finaliza afirmando que “a candidatura deste que se postulou a Arte ao concorrer à categoria de Projeto Cultural, apresenta-se desconfigurada e sem acepção a esse atributo. Portanto, o sumário de propositura à chancela do MTur deve ser conduzido ao indeferimento, S.M.J. deste Ministério”.
O diretor artístico e idealizador do Festival do Capão, Rowney Scott disse ao G1 que “o parecer tende a reduzir a função e características da música a uma apreciação sob um aspecto unicamente religioso, cerceando a imensurável capacidade dessa forma de arte de expressar a humanidade em toda a sua complexidade e beleza. Isso nos causa muito estranhamento, sobretudo sendo o Brasil, sob a tutela da sua Constituição Federal, um Estado laico”.
O festival começou em 2010, patrocinado pelo Ministério da Cultura, extinto pelo presidente Jair Bolsonaro. Teve edição em 2011, retomando as atividades em 2013 e 2014. E posteriormente retornando em 2017, 2018 e 2019. Em 2020 o evento foi suspenso por causa da pandemia. Neste ano ocorre pela primeira vez virtualmente.
Já passaram pelo festival de música, artistas como Ivan Lins, Naná Vasconcelos, Hermeto Pascoal, Toninho Horta, João Bosco, Letieres Leite Quinteto, Dori Caymmi, Raul de Souza, Ricardo Castro, Egberto Gismonti, Débora Gurgel, César Camargo Mariano, a cantora estadunidense Michaella Harrison, o grupo alemão Kapelle 17 e artistas locais.
A programação deste ano ainda está sendo definida. Tomara os organizadores entrem em contato com o escritor Paulo Coelho e o festival aconteça mesmo contra a vontade de Frias e sua turma.
Texto em português do Brasil