Poucos dias depois de ter ganho pela primeira vez um grande festival de cinema (‘Leão de Ouro’ de Veneza com “The Room Next Door”) Pedro Almodóvar recebeu em San Sebastián o Prémio Donostia, o galardão instituído pelo festival basco como prémio de carreira.
Foi em San Sebastián que Almodóvar mostrou, na secção ‘Novos Directores’ e no já longínquo ano de 1980, o seu primeiro filme: “Pepi, Luci, Bom y otras chicas del montón”. Depois disso foram várias as obras do cineasta ‘manchego’ que passaram pelo festival, tanto na secção oficial (‘Labirinto de Paixões’ em 1982 e ‘A Flor do Meu Segredo’ em 1985) como alguns títulos significativos nas secções paralelas (por exemplo ‘Em Carne Viva’ (1998), ‘Tudo sobra a minha mãe’ sobre mi madre (1999) que recebeu o Grande Prémio Fipresci em San Sebastián, ‘Fala com Ela’ (2002), ‘Má Educação’ (2004), ‘Voltar’(2006), que também recebeu em San Sebastián o Grande Prémio Fipresci, ‘Abraços Desfeitos’ (2009), ‘Os Amantes Passageiros’ (2013), ‘Juçieta’ (2016) ou ‘ Dor e Glória’ (2019).
Também como produtor Almodóvar tem sido uma presença frequente neste festival basco.
Por três vezes foi ele que entregou o ‘Prémio Donostia’: em 1996 a Al Pacino, em 2004 a Woody Allen e em 2008 a Antonio Banderas. Finalmente chegou a vez do vencedor de dois Oscares com “Fala com Ela” receber o ‘Prémio Donostia’ das mãos de Tilda Swinton, intérprete de dois filmes do realizador espanhol: a curta “A Voz Humana” e “The Room Next Door”, o vencedor de Veneza, curiosamente o primeiro filme de Almodóvar falado em inglês.
“The Room Next Door” em que Tilda Swinton contracena com Julianne Moore, um drama que tem a eutanásia como tema central, foi exibido na sessão de entrega do prémio.
Prémio Donostia também para Cate Blanchett
A actriz australiana Cate Blanchett, o rosto do cartaz do festival e uma das intérpretes mais relevantes do cinema contemporâneo, recebeu outro dos Prémio Donostia da edição que hoje termina do Festival de San Sebastián.
Detentora de dois Oscares e outras seis nomeações, prémios em Veneza, Bafta’s e Globos de Ouro Blanchett, também produtora, leva uma carreira de mais de três décadas em que combina a presença em filmes de autor com a participação noutros de pendor mais comercial trabalhou com nomes como Martin Scorsese, Terrence Malick, Steven Soderbergh, Steven Spielberg, David Fincher, Ridley Scott, Sally Potter, Wes Anderson, Alfonso Cuarón, Alejandro G. Iñárritu, Woody Allen, Gillian Armstrong, Taika Waititi , Peter Jackson, Todd Haynes, Richard Linklater, Jim Jarmusch, Guillermo del Toro, Adam McKay ou Todd Field.
Na sessão de entrega do Prémio Donostia a Cate Blanchett foi exibido “Rumours”, filme que ela interpreta, co-produzido por Canadá e Alemanha, realizado por Guy Maddin, Evan Johnson e Galen Johnson. “Rumours” é uma ficção, uma comédia negra estreada no Festival de Cannes, que segue os líderes das democracias liberais mais ricas do mundo na cimeira anual do G7 depois de eles se perderem num bosque e enfrentarem perigos cada vez maiores enquanto tratam de redigir uma declaração acerca de uma crise global.
Cinema do passado evocado em duas retrospectivas
Se é certo que as principais atenções de quantos participam no festival estão dirigidas para as produções recentes este tipo de certames congrega também um público que tem interesse em rememorar o cinema do passado. É para esses que habitualmente a organização do Festival de San Sebastián programa ciclos de filmes que marcaram uma época ou que de algum modo se afirmaram na História do Cinema.
Nesta 72ªa edição foram dois os programas organizados para cumprir esse objecctivo. Um pequeno conjunto de filmes classificados como ‘clássicos’ e uma mostra temática, ‘Itália Violenta’, com filmes de um ‘cinema criminal’ ou ‘cinema policial’ produzido naquele país desde os anos 40 do século vinte até à actualidade.
No ciclo “Klasikoak” puderam ser vistos seis títulos:
- “Tasio” de Montxo Armendariz (Espanha, 1984);
- “Tatuaje, primera aventura de Pepe Carvalho” de Bigas Luna (Espanha, 1978);
- “Sha fu” / The Woman of Wrath de Tseng Chuang-hsiang (Taiwan, 1984);
- “Surcos” de José Antonio Nieves Conde (Espanha, 1951);
- “Un rêve plus long que la nuit” de Niki de Saint Phalle (França, 1976) e
- “O Piano” de Jane Campion (Austrália, 1993), vencedor de 3 Oscares e do Festival de Cannes.
O ciclo “Italia violenta” foi constituído por 22 filmes, de “Obsessão” de Luchino Visconti (1943) a “Inquérito a um Cidadão Acima de Qualquer Suspeita” ou “Em Nome da Lei” de Pietro Germi de Elio Petri (1970), passando por obras de Luigi Zampa, Mario Soldati, Francesco Rosi, Alberto Lattuada, Carlo Lizzani, Damiano Damiani, Marco Bellocchio, entre outros.