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João de Sousa

Sábado, Novembro 2, 2024

Perceba Portas e ganhe um bilhete para o cinema!

João Vasco AlmeidaPaulo Portas abandona o CDS na Primavera porque sabe ter-se tornado muito perigosa a falta de espaço para surpreender. Genial estratega, lançou a sua candidatura ao palácio de Belém em 2024 com a frase “não tenham medo”, que é o que se diz aos filhos quando estes fazem a primeira viagem de autocarro sozinhos.

Senhor de uma atitude pública mutável irrepreensível, Portas soube aprender como jornalista os truques das políticas partidárias, até ao dia que inventou Manuel Monteiro e o CDS barra Pepê. Como criador, tirou o tapete à criatura no momento certo, granjeando graças e admirações. Bem pôde Monteiro, qual Seguro, queixar-se de traições – de nada lhe valeu.

A receita Portas é fabulosa. Sobre a vida privada, nem um pio, a não ser o óbvio: a família mediática, a paixão pelo cinema. As bocas foleiras sobre o resto soube Portas, bem e justamente, deixar para trás, porque não interessavam nada. Só ele e Francisco Louçã conseguiram esta coerência.

Foi tudo o que quis do PSD, menos seu líder. O desprezo que tem ao amolecimento dos sociais-democratas levou-o a construir não um novo CDS mas uma redacção de “O Independente” transformada em partido. Nuno Melo e Assunção Cristas não são políticos, mas repórteres de elevado gabarito que aprendem rápido e não largam os temas. Engoliu os sociais-democratas, que ainda têm um líder espantalho, ontem ferido de morte pelo cônjuge político.

Portas percebeu que o seu panache se esgotou há meses. Não pode surpreender mais, nem de boina nem de fato de giz, e precisa de uma cura como os enchidos, que só o tempo dá. O que fará a seguir, só ele sabe. Senador emérito, tanto escolherá ir comentar o mundo para a TVI aos domingos como realizar um filme.

“Não tenham medo” é uma frase assustadora de se ouvir da boca de um adulto, dirigida a outros adultos. Só deve ser usada por generais que condenam à morte os seus soldados a pé. Neste melodrama, diga-se, só Ribeiro e Castro percebeu isso – o único que nunca tomou Paulo pelo seu valor facial.

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