Eu não percebo nada de sistemas financeiros liderados por gente incompetente, por isso o leitor pode já passar ao cronista ao lado, caso tenha vindo à espera de uma análise profundíssima sobre os milhões (dizer milhões como se tivesse uma batata doce quente na boca, para parecer ainda mais monstruoso). Mas percebo outras coisas.
Um banco é uma loja de vender dinheiro. Vende o crédito, vende investimento, vende produtos de dinheiro. Não vi, até hoje, tanto dinheiro público empregue a salvar padarias ou empresas de aviação, sapateiros ou uma Lisnave.
Ao salvarmos, com os nossos impostos e com a nossa própria dívida os desmandos dos homens e mulheres que abriram lojas de dinheiro estamos a perdoá-los na má gestão do que, dizem, é o mais importante elemento da sociedade capitalista.
Eu não consigo culpar o PSD ou o CDS, o PS ou o PCP pelo espatifanço. Por princípio os políticos deviam ter uma só bitola para as empresas privadas: faliu, chatice. protecção social para os desempregados e mãozinha de bom senso enquanto credor.
Mas exijo aos políticos, pessoalmente, que não sejam promíscuos com as lojas de iogurtes ou com as de dinheiro. O agiota não perdoa ao devedor e a subserviência da classe dirigente política dá neste trinta-e-um em que nos entalam sem termos sequer passado a porta, como o Martim Moniz.
Se este jornal, O Tornado, falir, não vem aqui ninguém dar-nos graveto para o passivo e vender-nos ao Washington Post – embora a gente possa estar aberta a essa opção, ó sr. Jeff Bezos. Senão, teremos que exigir, sempre que uma empresa seja mal gerida e vá à falência, que deve o sr. primeiro-ministro à meia-noite, a correr, na TV, dizer assim:
INTERIOR, SALÃO NOBRE, NOITE
PRIMEIRO MINISTRO, FATO E GRAVATA, UM QUADRO DE PAULA REGO POR TRÁS:
“Portuguesas e portugueses. A situação do Cabeleireiro A Bela Ninfa era insustentável e o Governo anterior sabia-o. Duas das cabeleireiras estavam de baixa e um dos secadores estava estragado há seis semanas. Por isso, em conselho de ministros, decidimos esta noite vender por dois mil e quinhentos euros as cadeiras, os cremes, os pentes e as escovas à empresa El Pelo Doiradito. As duas empregadas doentes e o secador estragado ficam numa empresa que vamos criar, pública, chamada A Ninfa Fanada, que vai custar muito aos contribuintes”.