Viagem ao interior do MPLA. Memórias pessoais de Hugo Azancot de Menezes.
Lançamento do livro terá lugar no próximo dia 25 de Julho, terça-feira pelas 1800 horas no Auditório da Biblioteca Nacional, em Lisboa.
Na sessão intervirão o historiador Carlos Pacheco, que fará a apresentação do livro, o editor e alguns familiares do Autor.
Editora Nova Vega
Azancot no início da escrita deste livro confessava-me exactamente o seu enorme desconforto e tensão emocional, não tanto pela árdua tarefa que tinha pela frente, para ele absolutamente vital para se manter vivo, mas pela obrigação histórica de pôr a nu os registos de veracidade duvidosa que amiúde saltavam para a ribalta a optimizar o passado em toda a sua extensão. Dizia-me ele que os criadores dessa “glorificação estética do passado” pretendiam, por exemplo, fazer passar a luta armada de libertação nacional por um majestoso conjunto de acções épicas e os seus protagonistas dotados de qualidades excepcionais. E mais: que, em nome desse “património heróico de luta”, os mesmos propagandistas forçavam impor legitimidades partidárias (exclusivas) nos seus países e investir-se no papel de entidades históricas redentoras. A estes inimigos viscerais da história, Azancot entendia ser necessário, pelos caminhos da memória, responder com a verdade da sua experiência militante, sem concessões, por ser o melhor contributo a prestar às futuras consciências colectivas, ajudando-as a defender-se de novas utopias fundamentalistas e de novos fanatismos. Esta é essencialmente a linha de pensamento que vai servir de motor à narrativa de Azancot. Em crescendo o autor vai cravando diante dos nossos olhos, sem disfarces, a realidade hiperbólica do MPLA. Há realmente coisas únicas (jamais lidas ou faladas noutros espaços) que chocam neste livro.
Documento da PIDE
Angola: Documento da PIDE sobre Hugo Azancot de Menezes
Nasceu em São Tomé e Príncipe a 2 de Fevereiro de 1928 e desde a primeira infância passou a viver em Angola por força da situação jurídica do seu pai (também médico e tenente miliciano), a quem o regime de Lisboa transferiu compulsivamente na década de 1920 para aquela colónia por actividades políticas relacionadas com a sua malograda tentativa de se candidatar a membro do Conselho Colonial por proposta da Liga dos Interesses Índigenas de São Tomé e Príncipe.
Enquanto herdeiro da fibra política do progenitor, fundou e foi dirigente da casa dos Estudantes do Império (CEI) e do Grupo Desportivo do Ultramar (GDU).
Após a sua formatura em Lisboa expatriou-se em Londres onde selou boas relações pessoais com distintos dirigentes políticos do Committee of African Organisations, em especial com Dennis Phombea.
Graças à influência e à caução política desta e doutras personalidades junto do governo de Sékou Touré, estabeleceu-se na Guiné Conakry a 5 de Agosto de 1959 e ali ajudou a organizar o Movimento (ou Comité Nacional) de Libertação dos Territórios Africanos Sob Domínio Português (MLTADP), constituído por refugiados políticos da Guiné-Bissau e de cujo Bureau directivo fez parte. Do mesmo modo ajudou a criar as condições necessárias à instalação da FRAIN (ex-MAC) em Conakry, bem como à entrada de Amílcar Cabral, Lúcio Lara, Mário Pinto de Andrade e outros destacados membros do PAI e da UDENAMO, em diligências para as quais foi determinante a excelente relação que tinha com Diallo Saifoulaye, secretário político do Partido Democrático da Guiné.
Em Túnis, na última semana de Janeiro de 1960, contribuiu para a fundação do MPLA e integrou o seu quadro de militantes com o estatuto de membro do Comité Director.
Em meados de 1962 mudou-se com a família para Accra, no Gana, para preencher o posto de representante do MPLA naquela cidade. Devido à grave ruptura interna no Movimento em Julho de 1963, que se saldou em prisões e espancamentos de militantes, demitiu-se do seu cargo partidário e converteu-se em locutor da Rádio Ghana, na secção de língua portuguesa.
Em 1966 exilou-se no Togo e aqui contou com o providencial valimento de bons amigos que tinha no regime de Nicolas Grunitzky. Em meados de 1967 o país foi sacudido por um golpe militar que o obrigou a fazer as malas e a rumar para o Congo-Brazzaville.
Em Novembro de 1968 Agostinho Neto, presidente do MPLA, ofereceu-lhe o posto de responsável dos Serviços de Assistência Médica na II Região Político-Militar .
A sua experiência de quatro anos em Dolisie foi tão desanimadora (do ponto de vista político e institucional) que, a custo, se viu forçado para uma espécie de auto-exílio. Renunciou ao cargo e acolheu-se à protecção do PNUD em Brazzaville onde, com a família, sobreviveu em condições precaríssimas.
Em 1974 aderiu ao grupo de contestação interna do MPLA, denominado Revolta Activa, que criticava o génio imperioso e autocrático de Agostinho Neto na condução do Movimento.
Depois da independência nacional de Angola requereu o vínculo de cidadania ao novo Estado e aceitou dirigir o Hospital Central de Luanda.
Faleceu a 1 de Maio de 2000 às sete horas da manhã no hospital Fernando da Fonseca (Amadora-Sintra, Portugal), após doença prolongada.