66.º Festival Internacional de Cinema de San Sebastián
Quem estiver no Festival de San Sebastián e se interrogue sobre alguns destaques de Cannes e Veneza tem bom remédio. Basta atentar na programação da secção “Perlas” (em basco, “Perlak”) e procurar aceder às respectivas sessões (algo que poderá não ser muito fácil tendo em consideração a enorme afluência que se verifica em praticamente todas as projecções do certame).
Este ciclo é apresentado pela organização do “Zinemaldia” como uma “selecção de destacadas longas-metragens do ano, inéditas em Espanha, que foram aclamadas pela crítica e/ou premiadas em outros festivais internacionais”.
Como muitas delas serão, provavelmente, exibidas em Portugal nos próximos meses julgamos ter interesse a divulgação da lista dos títulos que a constituem:
Cannes / Secção oficial
- “Blackkkklansman” / “BlacKkKlansman: O Infiltrado” de Spike Lee (E.U.A), já em exibição nos ecrãs portugueses – Grande Prémio do Júri;
- “Capharnaüm” de Nadine Labaki (Líbano) – prémio do Júri;
- “Zimna Wojna” / Cold War, produção de Polónia / Reino Unido / França, do cineasta Pawel Pawlikowski, vencedor de um Oscar para o melhor filme estrangeiro com “Ida”. “Cold War” recebeu o prémio para o melhor realizador no festival francês e já está em exibição em Portugal;
- “3 Faces” de Jafar Panahi (Irão) – prémio para o melhor guião;
- “Leto” / Summer de Kirill Serebrennikov (Rússia / França);
- “Netemo Sametemo” de Ryusuke Hamaguchi (Japão);
- “Ash is Purest White” de Jia Zhang-ke (China / França / Japão).
Cannes / “Un Certain Regard”
- “Girl” de Lukas Dhont (Bélgica / Holanda) – Prémio FIPRESCI, “Câmara de Ouro”, Queer Palm e Prémio do Júri para a melhor interpretação para Victor Polster;
- “El ángel” de Luis Ortega (Argentina / Espanha).
Cannes / Quinzena dos Realizadores
- “Pájaros de verano” de Ciro Guerra e Cristina Gallego (Colômbia/México/Dinamarca/França);
- “Petra” de Jaime Rosales (Espanha/Dinamarca/França);
- “Mirai” de Mamoru Hosoda (Japão).
Veneza
- “Roma” de Alfonso Cuarón (México) – “Leão de Ouro” (melhor filme);
- “The Sisters Brothers” de Jacques Audiard (França/Bélgica/Roménia/Espanha) – prémio para o melhor realizador;
- “First Man” de Damien Chazelle (E.U.A.) – filme de abertura da secção oficial;
- “A Star is born” de Bradley Cooper (E.U.A.) – apresentado fora de concurso no festival italiano.
Completa a lista de filmes de “Perlas”/”Perlak” o filme de animação “Un dia más con vida” de Raúl de la Fuente e Damian Nenow (Espanha / Polónia) que também esteve na secção oficial de Cannes, mas fora de competição. Este é um trabalho muito interessante sobre a guerra civil em Angola, entre o “25 de Abril” de 1974 e a declaração de independência daquele país, em 11 de Novembro de 1975, e no período que se lhe seguiu com a invasão sul-africana e o início da participação de tropas cubanas no conflito. A narrativa está centrada na acção do repórter polaco Ryszard Kapuściński que acompanhou aqueles acontecimentos. Uma visão unilateral e comprometida, a partir do lado do MPLA, que alterna os minutos de animação com imagens reais de documentários da época e depoimentos actuais e apaixonados do General Joaquim Farrusco (um comando paraquedista que depois de servir no exército português veio a ser figura proeminente das tropas do MPLAe dos combates no sul de Angola) e dos jornalistas Artur Queiroz e Luís Alberto Ferreira que há algumas décadas pontificaram na comunicação social portuguesa, por exemplo, no Jornal de Notícias, Diário Popular, RTP e também na imprensa desportiva (A Bola, Mundo Desportivo,…). Os dois continuam, julgamos, a trabalhar no Jornal de Angola, e Luís Alberto Ferreira, a caminho dos 90 anos, será mesmo o mais velho jornalista angolano em actividade.
Com o Festival praticamente a meio “Un dia más con vida” lidera, destacado, o Prémio do Público.
Zabaltegi/Tabakalera
Espaço de descoberta, tal como a mostra “Nuevos Realizadores” (referida em texto anterior) esta é uma secção histórica do festival. É, de acordo com a organização “a secção competitiva mais aberta do Festival de San Sebastián, onde não há normas, nem limitações de estilo ou tempo: curtas, médias e longas, ficções, não-ficções, animações, séries, instalações audiovisuais, descobrimentos de futuro e clássicos contemporâneos. É uma secção em que cabe o cinema que procura novos olhares e formas, uma autêntica zona aberta e de risco.”
Da abordagem ficcional do drama dos Rohingya em “Kraben Rahu”, co-produção Tailândia/França, de Phuttiphong Aroonpheng, vencedor do prémio para o melhor filme na secção ‘Orizzonti’ do Festival de Veneza, à curta-metragem, “The Men Behind the Wall” de Ines Moldavsky, Urso de Ouro do Festival de Berlim, que em 28 minutos conta a história de uma mulher israelita se dispõe a conhecer homens da Cisjordânia que a lei a impede de ver; do esperado documentário “Bergman- A Year in a life” de Jane Magnusson ao “Le Livre d’Image” de Jean-Luc Godard; de “Trote”, co-produção hispano-lituana de Xacio Baño, um drama familiar ambientado na Galiza, a “Sobre Cosas que me han passado”, um projecto do chileno José Luis Torres Leiva baseado num livro do escritor Marcelo Matthey, que conta a sua provia vida num estilo que remete para as “redacções escolares”, muitos são os motivos de interesse que “Zabaltegi” proporciona aos cinéfilos mais inveterados, porventura mais interessados em filmes experimentais ou com temáticas e abordagens menos comuns.
Também de ciclos como este se faz um Festival.
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