Manet funciona para esta juventude frenética e com pressa de “atingir o céu” (entenda-se quanto à liderança revolucionária que sabia – ou acreditava – estar possuída) a mola impulsionadora de que era possível cavalgar o sonho.
Ele é um precursor no sentido em que os jovens visionários acreditaram no seu trabalho, reconheciam-lhe atributos respeitáveis quanto à sua pintura. Unia-os pontos de vista de grande generosidade planetária, creio poder afirmá-lo. Contra os “pequenos deuses caseiros”, mandaram às urtigas a oficialidade dos cânones académicos. Manifestaram-se contra o objecto protagonizado, privilegiaram a paisagem e as naturezas-mortas e elegeram trabalhar “en plein air“, relacionando as cores complementariamente.
Homens (e algumas mulheres) que se recriaram na exclusividade da sensação visual, poetas luminosos da emoção, alcandoraram a pintura até patamares jamais suspeitados, tendo tido, todo esse grupo, pensamentos diversificados de recusa de uma cartilha, que é uma assumpção teórica levada ao limite nos meandros matemáticos do Neo-Impressionismo de Seurat e Signac.
Baudelaire recomenda-nos que a arte só pode ser vista como uma actividade espiritual, negando a importância artística do meio mecânico. Negava o poeta da “vida moderna” uma eventual compatibilidade com a fotografia. O conhecimento básico da câmara obscura remonta à Antiguidade. Aristóteles fez uma descrição detalhada do fenómeno do princípio óptico e, como indica o seu próprio nome latino, significa um compartimento totalmente escuro com apenas um pequeno orifício numa das suas paredes, através do qual se projecta a imagem invertida da vista exterior sobre a parede oposta.
Já Courbet, individualidade com outra consciência que derivava da sua visão realista, e militante marxista, apoia-se na força de trabalho que emana da fotografia e que pode produzir o quadro. A vida não daria razão ao pensamento “baudelairiano”, e o Impressionismo pode conviver solidariamente com a fotografia como demonstra o momento simbólico da amizade de Nadar com os amigos impressionistas e vice-versa.
O Neo-Impressionismo procurou dar uma resposta mais avançada e científica (Seurat e Signac) àquela onda de transbordante cromatismo, onde a matemática terá um peso decisivo. As cores chegam aos nossos olhos como luzes de diferentes comprimentos de ondas misturados na retina. Ter-se-à concluído, assim, que não se devia misturar os pigmentos na paleta, mas justapor as cores primárias, ponto por ponto.
Levado por Signac, é no meio destas tertúlias teóricas, que Seurat cria a sua obra-prima Um Domingo à Tarde na Ilha da Grande Jatte, e com isso ousa fundar um outro movimento artístico: o Pontilhismo.
Monet é o patriarca do Impressionismo, é o único que faz o percurso sem falhas e não vacila. Em nenhum momento Monet renuncia às suas conquistas. É o comandante, por excelência, da sua Revolução. Pintor sem ligações à tradição e sem entraves culturais inibidores, é o artista do instante fugidio mas ao mesmo tempo dá ao espaço uma nova vastidão.
Monet ou Manet? Monet. Mas é a Manet que devemos este Monet. Bravo Monet. Obrigado Manet.