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João de Sousa

Quarta-feira, Julho 17, 2024

O plumitivo Carreiras, Dona Mentira e Dona Hipocrisia

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E, de caminho, continuar a tentar pôr nos carris o negócio da Linha que, como inadvertidamente confessa no cerzido artigo, borregou com o enterro do seu governo. E borregou não porque faltasse o dinheiro necessário para a Linha, que existia em boa parte coberto por fundos comunitários, mas porque o seu defunto governo não teve tempo de concluir a negociata privada com os Barraqueiros&Cia na barganha do “quanto me dás tu, se eu te der”!

Começa por, condoída e solidariamente, nos dizer daquilo que dezenas e dezenas de milhar de cascalenses, diariamente, são obrigados a passar nas intermináveis filas de pára-arranca-pára, por força da força que os impele a ter que ir ganhar a vida fora de Cascais porque aqui, mais que noutros concelhos vizinhos, escasseiam as empresas e os empregos.

Acerca do nosso calvário diário, sem nos dizer que começa nas ruas mal planeadas do concelho onde ele e os seus correligionários mandam há décadas até ir desaguar na estrada Marginal e na A5, onde, já apropriadamente, nos sabe dizer que só nesta última via o número de veículos é muito provável que seja igual ou até maior do que o número de passageiros nas carruagens da CP na Linha de Cascais. Comboiando, logicamente, a conclusão de que a culpa é do comboio.

A pior rede de transportes colectivos

Nada dizendo acerca da culpa de quem fez de Cascais o concelho que em toda a área metropolitana de Lisboa tem a pior rede de transportes colectivos; Concelho que além de ser por ele presidido é também já há mais de quatro décadas (com um intervalo de partilha de más politicas com o PS) “gerido” pelo partido que sempre foi o seu e do qual é vice-presidente.

E não diz nada sobre a directa e interessada responsabilidade que tem no estado de degradação da Linha e dos comboios para que aqueles a que “empreendedoramente” chama de “clientes”, e que eu chamo de passageiros, se sintam desconfortáveis, mal transportados e inseguros, levando-os a abandonarem aquela que era racional que fosse a primeira opção para saírem e entrarem na terra onde moram.

Disse “interessada responsabilidade” porque é, efectivamente, essa a estratégia do Sr. Carreiras para fazer maturar as “razões” que convêm aos intuitos e aos interesses dos seus privados amigos: – Que os “clientes” dos comboios culpem o Estado – que, para aquilo que lixa o povo, quando é a vez deles estarem ao leme nunca se chama “o Governo” – pelos “investimentos orçamentados e que em cada ano foram sempre desviados para outros lados”, como muito bem, mas pouco seriamente, confessa o político.

Calando o muito que sabe sobre os tais Governos do Estado marteleiro, e sobre os ministros e secretários de estado que desviam para “ramais” de via larga os fundos que deviam estar a circular na ferrovia.

Porque cresce o transporte individual?

Sobre o recurso cada vez maior ao uso do automóvel individual em vez do autocarro, primeiro, e do comboio depois, o Presidente da Câmara de Cascais esqueceu-se de contar aos seus leitores que tal não fica a dever-se ao aumento do poder económico dos munícipes, que nos últimos anos perderam milhares e milhares de empregos ou daqueles que ainda os conseguiram manter mas que viram cair em trambolhão os seus rendimentos.

Que não foi, pois, a ascensão à classe de mais favorecidos, o que levou os munícipes de Cascais a deixarem de andar nos plebeus autocarros e comboios para os trocar pelas já mais económicas e embora lentas estradas marginal e A5.

Se a Verdade não fugisse da boca do Sr. Carreiras como Maomé foge do toucinho, o presidente da CMC teria que nos falar da sua cumplicidade na decisão do então Secretário de Estado dos Transportes do seu defunto Governo PSD/CDS, quando, em Janeiro de 2015, decidiu eliminar 40 por cento dos comboios que diariamente circulavam na Linha de Cascais. Isto depois de, para não ficar mal no retrato dos protestantes e, como convém a um “político” da sua craveira, atempadamente e nos meios propagandisticamente mais proveitosos, ter feito uma careta de aparente desagrado pela medida que encarreirou mais uns tantos mil passageiros para a A5, para dias depois vir secundar o SE na afirmação de que essa era uma medida boa para a Linha e para os passageiros!

Se a verdade soubesse onde mora o Sr. Carreiras, lhe batesse à porta e se, por uma milagrosa distração do morador conseguisse entrar, então lá teria o inquilino que nos dizer que sim, que o ter mandado cercar as estações de comboios com florestas de parquímetros que escaldam os bolsos a quem lá deixa o carrinho em que teve que se deslocar de casa porque para ali chegar não existe um autocarro; que essa floresta de caça-euros é também outra das causas responsáveis pela parcela que ele somou e que dá os 2.900 clientes por dia que a Linha de Cascais perdeu nos últimos anos. – in “i” de 26-10-2016.

Se a Mentira e a sua irmã Hipocrisia não andassem de braço dado com o presidente de Cascais, este teria que vir confessar as ocultas razões que o levaram a permitir que os seus eleitos na Assembleia Municipal votassem a favor da proposta do PCP para que na Assembleia da República fosse aprovada uma disposição que conduzisse à implementação de um passe social intermodal, que incluía todos os operadores de transportes, públicos e privados, e que assegurava aos cascalenses o direito de circular sem interrupções e sem custos acrescidos em toda a área metropolitana de Lisboa, incentivando-os ao uso de transportes colectivos em vez do carro individual.

O negócio da linha

E quanto a preocupações com o negócio da Linha, que pouco têm a ver com as dificuldades de circulação, o desconforto e o custo dos bilhetes que os clientes do comboio que são cidadãos munícipes de Cascais suportam convinha-nos que não esquecesse de dizer como andou e anda a propor-se resolvê-las: através da gestão privada feita pelos amigos mas só depois do Estado (nós, os “clientes”) lá termos investido 135 milhões de euros na renovação da via e de mais 124 milhões em novos comboios; e só depois de termos garantido aos privados amigos aquilo que o PS, o PSD e o CDS sempre souberam garantir através das PPPs, as mesmas garantias que se deram já ao Sr. Barraqueiro&Cia para “gerir” a travessia dos comboios na ponte 25 de Abril, que depois dos muitos milhões que investíamos ainda lhes pagaríamos todos os anos as “rendas” pela “digestão” dos nossos comboios.

O que o PCP defende e defendeu para a Linha de Cascais é que os Governos, os de ontem e o de hoje, cumpram com o seu dever para com os portugueses e, neste particular, para com quantos que residem ou trabalham ao longo desta Linha, que deixem de desviar para os amigos os milhares de milhões que são nossos porque saem dos nossos bolsos, deixando que seja a CP, a única empresa que em Portugal sabe de comboios e que é pública, a conduzir os comboios que nos transportam, pondo à frente desta gestores que sejam amigos do que é publico.

Que o façam, ao invés de continuarem a maquinar para sermos nós, os exauridos contribuintes e passageiros, a pôr na bandeja mais “filets mignons” para satisfação da gula dos “experts”, sobretudo na maneira como se angariam os sócios especialistas no engodo de “clientes” aos quais, no final do banquete e da festança, deixam chupar uns ossos.

Clemente Alves | Vereador da CDU na Câmara de Cascais

Nota do Director

Os artigos de Opinião apenas vinculam os respectivos autores.

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