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Terça-feira, Julho 16, 2024

PM paulista mata cada vez mais e com mais brutalidade

Marcos Aurélio Ruy, em São Paulo
Marcos Aurélio Ruy, em São Paulo
Jornalista, assessor do Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo

Mônica Bergamo publica dados preocupantes em sua coluna da Folha de S.Paulo, nesta quinta-feira (5). De acordo com a Ouvidoria da Polícia Militar paulista, de janeiro a outubro deste ano, 697 pessoas foram mortas por fardados. Número superior ao mesmo período do ano passado quando ocorreram 686 homicídios. Em 2018, foram 861 registros.

Em serviço, até outubro deste ano, os PMs mataram 585 pessoas, cinquenta a mais do que o mesmo período de 2018. Em folga, foram 151 assassinatos contra 112 no ano passado. Apenas onze foram classificados como homicídios. Em sua coluna, a jornalista informa ainda que de janeiro a outubro deste ano, a Polícia Civil matou 18 pessoas, dez a menos que em 2018.

Pela estimativa da Ouvidoria, a PM deve quebrar o triste recorde de letalidades de 2017, ano em que ocorreram 940 registros de mortos por policiais militares. “Resultado da irresponsabilidade do governador do estado João Doria, que preconiza a violência policial como política de segurança pública”, afirma Vânia Marques Pinto, secretária de Políticas Sociais da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB).

Para a sindicalista baiana, principalmente os governadores de São Paulo e Rio de Janeiro precisam rever suas políticas de segurança pública. “A liberação para matar está ampliando o genocídio da juventude negra, pobre, da periferia.”

A comoção toma conta de Paraisópolis, favela paulistana onde a ação truculenta e desastrada da PM ocasionou a morte de nove jovens em um baile funk. A moradora Débora Pereira disse ao UOL que “esta forma de ação da PM precisa ser revista. A gente não pode achar que todo mundo que questiona uma ação violenta é bandido.”

Para Valdete Severo, presidenta da Associação Juízes para a Democracia (AJD), “a Polícia militar tem agido com violência desde sempre contra as populações mais vulneráveis.” Ela acredia que a novidade está em que “ao elegermos um governo cuja campanha foi baseada na violência, essa característica foi potencializada.”

De acordo com a juíza e professora universitária, “a Polícia Militar em vários países serve para defender a nação de inimigos externos”, enquanto “no Brasil, segue tendo como missão, mesmo na Constituição de 1988, ‘manter a ordem’” e “nesse aspecto, a Constituição mantém a lógica da ditadura”, portanto, “extinguir a PM sem alterar a lógica de Estado repressor que temos no Brasil (há muitos anos, diga-se de passagem) não vai resolver nada.”

Os protestos pelo abuso policial condenam o governador que libera a PM para matar. “Doria repete Witzel (governador do Rio de Janeiro) autorizando a matança na periferia. Se afinam com o presidente Jair Bolsonaro para quem todo pobre é inimigo, se for preto então, é bandido”, acentua Luiza Bezerra, secretária da Juventude Trabalhadora da CTB.

Raquel Cruz, mãe de Gustavo Cruz, de 14 anos, um dos mortos na ação policial, mostra sua revolta ao questionar a violência policial gratuita. “Quero saber por quê. Qual o motivo, Por que num baile funk, mas não fecha rave que dura três dias. Quero respostas. Eles eram jovens.”

Vânia se mostra inconsolável com as idades dos mortos e defende ações da sociedade civil organizada para pôr um fim a esse estado de coisas. “Precisamos ouvir essas mães, que perdem seus filhos ainda tão jovens, sentir a dor que elas sentem e com essa força lutar contra a violência venha de onde vier”, diz.

“Não se pode aceitar como conduta normal, policiais baterem em pessoas já dominadas e xingarem como se isso fosse natural da sua função”, assinala Luiza. Ela cita o caso da jovem I.S., de 17 anos, que acusa um policial de ter dito: “Agora corre, vagabunda” e lhe desferido uma garrafada no rosto, no qual a menina diz ter levado 50 pontos.

Para Luiza, a juventude precisa de políticas públicas que promovam o acesso à cultura, ao esporte, ao lazer. “Ninguém pode mais ficar passivo diante do verdadeiro genocídio da juventude que ocorre no país”, acentua. “Com essas matanças de jovens, as famílias choram, as cidades perdem, o país perde, a civilização perde. Até quando vamos suportar tantas atrocidades?”


Texto em português do Brasil


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