Relatório da Cepal indica que pobreza alcança 33,7% da população e pobreza extrema 12,5%. Sem medidas de proteção social, as taxas seriam de 37,2% e 15,8%, respectivamente.
Em 2020, cerca de 22 milhões de pessoas entraram na contabilidade da pobreza na América Latina e outros 8 milhões migraram para a pobreza extrema. Os números seriam ainda maios catastróficos caso políticas de proteção social não tivessem sido implementadas, como informa a Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL).
O relatório “Panorama Social da América Latina 2020”, publicado nesta quinta-feira (4), indicou piora dos índices de desigualdade na região e da taxa de ocupação e participação no mercado de trabalho, principalmente das mulheres. O PIB da América Latina em 2020 sofreu queda de 7,7%.
Na análise da Cepal, o baixo crescimento, aumento da pobreza e crescentes tensões sociais são reflexos da pandemia de Covid-19, que atingiu principalmente quem não tinha uma reserva econômica e seguridade social. O documento indica que 22 milhões se somaram aos atuais 209 milhões de pessoas na pobreza e que 8 milhões foram empurrados para extrema pobreza, um total de 78 milhões de indivíduos no fim de 2020.
Em termos relativos, a pobreza atinge 33,7% e a extrema pobreza 12,5%, índices que não eram vistos há 12 e 20 anos, respectivamente. A Cepal estima que 59 milhões de pessoas que estavam em estratos médios passaram a ser classificadas em um estrato socioeconômico mais baixo.
O aumento da pobreza e extrema pobreza seriam ainda maiores sem as medidas de transferência de renda, que alcançaram 49,4% da população, aproximadamente 326 milhões de pessoas. Foram 263 medidas de proteção social de emergência em 2020, contabilizando iniciativas com critérios distintos. Sem elas, a estimativa é de que a pobreza atingiria 37,2% da população e a extrema pobreza 15,8%.
A Secretária-Executiva da Comissão Regional das Nações Unidas, Alicia Bárcena, durante a apresentação do relatório, reforçou que é preciso “garantir o direito para cuidar e receber cuidados, bem como para reativar a economia a partir de uma perspectiva de igualdade e desenvolvimento sustentável”.
A Cepal identificou que a pobreza é maior nas áreas rurais, entre crianças e adolescentes; indígenas e afrodescendentes; e na população com menores níveis educativos. A taxa de desocupação regional ficou em 10,7% em 2020, um aumento de 2,6 pontos percentuais em relação ao ano passado. Os mais afetados foram as mulheres, trabalhadoras e trabalhadores informais, jovens e migrantes.
A pandemia evidenciou e exacerbou as grandes lacunas estruturais da região e, atualmente, vive-se um momento de elevada incerteza em que ainda não estão delineadas nem a forma nem a velocidade da saída da crise. Não há dúvida de que os custos da desigualdade se tornaram insustentáveis e que é necessário reconstruir com igualdade e sustentabilidade, apontando para a criação de um verdadeiro Estado de bem-estar, tarefa há muito adiada na região”.
Entre as regiões em desenvolvimento no mundo, a América latina é a mais afetada pela pandemia. A região, que concentra 8,4% da população mundial (654 milhões de pessoas), registrou 27,8% (507 mil) das mortes por covid-19 no mundo no ano passado. São mais de 20 milhões de casos e de 635 mil mortes.
Texto em português do Brasil
Exclusivo Editorial PV / Tornado