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Segunda-feira, Fevereiro 24, 2025

Os poemas nunca são fechados

Delmar Gonçalves, de Moçambique
Delmar Gonçalves, de Moçambique
De Quelimane, República de Moçambique. Presidente do Círculo de Escritores Moçambicanos na Diáspora (CEMD) e Coordenador Literário da Editorial Minerva. Venceu o Prémio de Literatura Juvenil Ferreira de Castro em 1987; o Galardão África Today em 2006; e o Prémio Lusofonia 2017.

Poemas de Delmar Maia Gonçalves

I

Nas alcovas do cifrão
moram homens como nós
ao portão uivam lobos
canções sem melodia
A alcateia é um convite velado
à ilusão da utopia igualitária.

II

Minha dor
é o somatório de todas as dores.
Sinto a intensidade da dor
na pedra do meu vazio.

III

Ao vivermos o que vivemos
ao calarmos o que calamos
ao aceitarmos o que aceitamos
ao admitirmos o que admitimos
ao permitirmos o que permitimos
retiremos todos os pontos de interrogação existentes
abdiquemos de todas reivindicações
admitindo passivamente que já temos a resposta
e abraçando derrotados a morte.

IV

Os poemas nunca são fechados
Não sobreviveriam numa caixa de pândora.

V

O amor é incolor
por isso causa ardor
ao ódio.

VI

Assaltam-me dúvidas
neste mundo belo e cruel
Com a fadiga dos tempos
só receio ter de impregnar
pinceladas de prazer
aniquilando a monotonia
para pregar enfim
um tiro certeiro na palavra tristeza!

VII

Máscaras lúgubres
nos surgem em catadupa
quotidianamente
Que verdades se escondem
neste carnaval que não é?
Que mentiras mascaradas de verdades nos vendem?
Até quando do parecer ser que não é?

VIII

Mãe
O fogo que me invade
neutraliza qualquer mordaça!

IX

Quizumbas famintas
pululam assoberbadas
procurando justificar o injustificável
Tranquilamente o fantasma
que é vulto estranho do carnaval
observa desiludido
a verdade da mentira!

X

“Setara – uma mulher afegã”

O único pecado libertino de Setara
foi cantar e bambolear-se em palco hirta
e em directo perante homens de consciência amorfa
designados talibãs

O tamanho dos sonhos
não tem fronteiras

Condenada embora
ficará imortalizada
com seu grito rebelde.

XI

As árvores
são as vítimas
dos silêncios que cantamos.

XII

Já me embebedei
em demasia
com as loucuras
e devaneios alheios!

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