O engenheiro Marcus Suassuna revela que, desde a entrada em vigor da política de isolamento social, a expansão da epidemia no Brasil caiu de 38% para 18%, evitando um quadro de milhares de óbitos. Antecipação do Brasil, evitou o crescimento exponencial verificado nos EUA.
O engenheiro Marcus Suassuna Santos é autor do levantamento que aponta que as medidas decretadas por governos e prefeituras para achatar a curva da epidemia de coronavírus no Brasil estão sendo efetivas. Ele é mestre em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos pela UFMG e doutor em Tecnologia Ambiental e Recursos Hídricos pela UnB.
Em entrevista ao jornal GGN, Suassuna contou que começou a fazer o levantamento para verificar se o Brasil se comportaria diferente de outros países ou repetiria a curva de expansão da epidemia já conhecida em outros países onde a doença já tinha avançado.
“A ideia era ver se o Brasil também obedeceria esse modelo de crescimento exponencial, o modelo epidemiológico que explica o crescimento da epidemia, para ver até onde a gente podia chegar e qual o quadro que estava sendo desenhado para o futuro”, explica ele.
Os dados utilizados são consolidados pelas secretarias estaduais de saúde que podem ser comparados com dados da epidemia no resto do mundo, disponibilizados no Worldometer. Assim, seria possível comparar a expansão da doença no Brasil com países como EUA e Itália, onde o avanço foi bastante intenso.
Queda brusca
Nos primeiros 24 dias da série analisada, não havia muita informação ou controle sobre a expansão epidêmica, portanto, o vírus pode transitar livremente no país. A partir do 24o. dia, mais precisamente primeiro de março, a alta taxa média de crescimento, que era de 38% ao dia, caiu bruscamente para 14%, num primeiro momento, subindo para 18%, em média.
“Isto revela que houve uma interferência externa, aconteceu algo que mudou o padrão daquela série. Como se tivessem mudado as regras do jogo, entre o antes e o depois”, diz Suassuna, observando que o que mudou foi a entrada em vigor do isolamento pelos governadores e prefeitos nesse momento. “Aqui, em Brasília, há 14 dias, a cidade está muito vazia, com o comércio praticamente parado e os serviços públicos apenas no essencial”.
Vidas salvas
Uma projeção extrema de cenário pode sinalizar quantas vidas foram salvas neste período, se a taxa média exponencial de contaminação, de 33% ao dia, tivesse sido mantida, estaríamos na ordem de 160 mil casos, que são os números registrados nos EUA.
“A diferença numérica entre Brasil e EUA, hoje, é a quantidade de casos que foram evitados. Hoje, estamos entre 12 e 13 mil casos. Se tivéssemos mantido a mesma taxa de mortalidade de 3% em 160 mil casos, poderíamos dizer que evitamos cerca de 4 mil óbitos”, sugere o pesquisador.
Nesta quarta (1/4/2020), o Brasil acordou com 5,8 mil casos de coronavírus, de acordo com a base de dados do site Worldometer. “Não foge muito da projeção”, diz o engenheiro. Pela estimativa dele, se estivéssemos sob a taxa de 38%, o Brasil deveria ter chegado aos 17.600 casos em 30 de março.
Subnotificação
Em termos gerais, a subnotificação de casos por falta de testagem generalizada não afeta os dados da pesquisa, pois o crescimento exponencial de casos se mantem. Ou seja, independente dos casos que vão ficando sem notificação nas estatísticas, o avanço percentual continua o mesmo.
Isso só afetaria os dados, se houvesse um crescimento na subnotificação, em relação ao registro oficial de casos confirmados. Ou seja, se, antes, houvesse cinco subnotificações para cada caso notificado, e, agora, para cada caso confirmado, houvesse 20 casos não notificados. “Não é razoável pensar que o número de casos subnotificados para cada caso notificado tenha aumentado”.
Mas ele admite que as subnotificações impactam nas projeções que fez, já que, para esses 160 mil casos notificados, houve ene casos não notificados. A projeção é feita apenas em torno dos casos notificados. “Não acredito que seja possível trabalhar com dados de subnotificação, pois não sei se alguém estaria indo atrás dessa estatística”.
Explosão paulista
São Paulo revelou um salto no crescimento de casos notificados que deixa uma dúvida no ar. Os números diários que eram de 190 casos, de repente, na última segunda-feira (30 de março), passaram de 822 casos novos, o que representaria um aumento de mais de 50% em um dia, o que foi inesperado para a tendência. Suassuna levanta três hipóteses para explicar isso: (1) que havia um volume retido de exames acumulados; (2) que o número de exames aumentou, diminuindo a subnotificação; e (3), que seria o aumento efetivo da epidemia.
“Resta-nos observar o comportamento da epidemia em São Paulo, nos próximos dias, para entender se este ritmo de crescimento acelerou ou vai voltar aos patamares anteriores”, observa ele.
O destaque para São Paulo se dá pelo fato do Estado acumular 40% dos casos de todo o Brasil; de 5.700 casos no país, São Paulo tem 2.300 casos, o que impacta nos indicadores nacionais da epidemia. O restante dos estados, aparentemente, têm mostrado um ritmo mais homogêneo, na opinião dele, com respeito razoável ao isolamento pedido.
“Com o aumento do número de testagem, será necessário observar as mudanças que podem ocorrer na série, para observarmos em que situação a gente se acomoda”.
Brasil x EUA
No gráfico de comparação entre Brasil e Estados Unidos mostra que os cenários não estão fora da realidade. Dá pra ver que, entre o vigésimo dia de epidemia nos EUA e no Brasil, o comportamento dos dois países é praticamente idêntico, com curvas iguais, com mesma taxa de crescimento e quantidade de casos.
“A partir do 28o. dia para a frente, o Brasil se descola do avanço epidêmico dos EUA, pois tivemos uns dez dias de antecedência no plano de combate à epidemia, em relação a outros países”, diz ele, acreditando que esses dez dias podem ter feito uma enorme diferença entre as curvas comparativas de crescimento.
Pelas projeções de Marcus, se o País tivesse mantido a taxa anterior de crescimento, de 38% ao dia, até o final da primeira semana de abril, haveria algo em torno de 160.000 casos de COVID-19 confirmados. No cenário atual, de 18% de crescimento ao dia, a projeção é de que cheguemos aos 12.000 ou 13.000 casos na primeira semana de abril.
“Houve um consenso enfático entre governadores dos mais diversos espectros partidários de não deixar acontecer no Brasil o que aconteceu na Itália. Sem isso, era muito provável que o que está acontecendo nos EUA, por exemplo, que está com 180 mil casos, acontecesse no Brasil também”.
Sem meio termo
“Essa é a notícia boa: que o isolamento está sendo efetivo para o controle da expansão epidêmica, assim como para salvar vidas. Não conheço um meio termo entre o isolamento social e a manutenção da normalidade que tenha sido aplicada em algum país e tenha sido efetiva. Assim, na ausência desse meio termo, acho muito prudente que a gente continue com essa política que tem sido muito efetiva e evitado muitas mortes”, conclui ele.
Texto em português do Brasil
Exclusivo Editorial PV / Tornado