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Domingo, Dezembro 22, 2024

Por cima dos calabouços dos mestres

Vitor Burity da Silva
Vitor Burity da Silva
Professor Doutor Catedrático, Ph.D em Filosofia das Ciências Políticas Pós-Doutorado em Filosofia, Sociologia e Literatura (UR) Pós-Doutorado em Ciências da Educação e Psicologia (PT) Investigador - Universidade de Évora Membro associação portuguesa de Filosofia Membro da associação portuguesa de Escritores

Via esquecido e olhando pensava, que coisa!, a vida anda, é verdade, e com que pernas nos leva?

O rosto começa a enxugar-se de malhas tresmalhadas e a vontade de dizer olá aos meninos que brincam contra a solidão, serão um dia assim, pensava na minha caminhada ali sentado olhando para a televisão que me incutia o tal rosto tresmalhado com memórias de um futuro escrito nas masmorras molhadas de caminhos ainda por percorrer e pensava ao mesmo tempo que de nada mais me recordava que vontade de nunca me lembrar de nada, mas por conseguir ainda lembrar-me questiono-me mas que chiça!, ainda ontem pensava de forma diferente e hoje já me vejo neste ecrã de televisão com o mesmo ar que tens, calco o ombro a ver se o sinto e sinto-o mas já meio dormente como se de repente fosse eu naquele lugar onde nunca estarei, garanto!, isso de ter que ir à televisão falar das minhas bagunças e das coisas que me chateiam ter de responder fico aqui, assim mesmo como estou e a pensar em quem vejo do outro lado a meu lado em pé contando sei lá que coisas apenas na minha cabeça estás já velho meu amigo e eu como estarei quando não for como sou ainda? A meu lado uns livros que sempre me acompanham mesmo quando vou ao wc apenas para me ver de perto os levo para que nunca te esqueças de mim, olho-os e nada do que aí vejo és aqui onde o teu rosto nunca demonstrou poder ficar como está pelo menos do que vejo naquela caixa de imagens que se mexem para todos os lados enquanto a gente vai pressentindo findar basta não haver luz de repente e tudo fica apenas escuro ou no escuro a gente sentir que sim, chiça!, sem pernas e anda?, que raio és afinal companheira de tantos anos nesta barriga de mãe que te pôs aqui e eu ali e os livros comigo e a luz continuou apenas divaguei para me convencer e afinal que pensar, irei também compensar àqueles que vierem este lugar que largarei sem lágrimas. Onde havia cabelo apenas um brilho que de longe me ensina a lidar com o sol dos tempos e contando as luas que me restam enquanto soletro sílabas que nunca mais acabam e olho ainda assim para o mesmo pensando da mesma maneira quando o programa começou e porque razão me deixei aqui ficar para este fim?, chiça! Ao menos fotos ainda ao menos memória ainda ao menos tempo ainda e que fazer daqui a mil anos? Pesei-me onde me apeteceu e era a balança que controlava a subtileza desses cabelos escorridos deixando ainda na cabeça o brilho dos que já faltam e a memória lá por cima dos calabouços dos mestres que me confinarão resistência para te abraçar. Ainda assim muitos quilos na mente me levam e me deitam no sossego que me cria e anima até que enfim adormeça. Esqueci-me de dizer-te ao menos até amanhã.


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