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Terça-feira, Julho 16, 2024

Porque será que Israel não passa ao ato de ocupação do Vale do Jordão?

Beatriz Lamas Oliveira
Beatriz Lamas Oliveira
Médica Especialista em Saúde Publica e Medicina Tropical. Editora na "Escrivaninha". Autora e ilustradora.

Faltando menos de um mês para as eleições, o governo israelita sabe que uma operação militar que o coloque em confronto com o Hamas em Gaza poderia ser uma perigosa e aventureira jogada. Mas nunca o enuncia publicamente, pelo que os israelitas não sabem com que contar, embora se possam mostrar mestres na arte da adivinhação.

Israel vai respondendo ao lançamento de foguetes e balões carregados de explosivos da Faixa de Gaza de alcance limitado para a zona sul. Pelo menos dez foguetes e morteiros foram disparados contra as comunidades fronteiriças de Gaza em seis incidentes diferentes nos últimos dias. Num caso, uma criança de três semanas foi moderadamente ferida quando a mãe correu para um espaço protegido durante um alerta.

Os ataques punitivo-defensivos das Forças de Defesa de Israel, atacam o Hamas junto da cerca de segurança, em resposta a cada foguete lançado, geralmente com tanques. Mas não vão muito mais longe.Também são alvos infraestruturas em túneis, e depósitos de armas são atingidos durante ataques seletivos. Mas isto já nem se pode considerar nada de grave, nem de anormal. E não representa uma subida da tensão arterial nem de israelitas do sul nem de residentes em Gaza.

Foram feitas algumas retaliações económicas: já não se exporta cimento para a Faixa de Gaza. Também meio milhar de trabalhadores e comerciantes palestinianos a quem foram retiradas permissões de entrada para trabalho em Israel pode ir agora alimentar as organizações de resistência palestinianas. Pior de tudo foi a redução da zona de pesca offshore de Gaza de 15 milhas para 10.

As eleições aproximam-se e sem baixas civis em Israel ir meter-se na boca do lobo em Gaza seria uma manobra gratuita que podia render sérios problemas. Benjamin Netanyahu é e sempre foi muito pouco corajoso para considerar fazer ataques sérios a Gaza.

Mas isso não é gritado aos quatro ventos nas sinagogas, nem aos colonos que vivem no sul perto de Gaza ou seja nas comunidades israelitas adjacentes a Gaza. Essas vivem em stress permanente e devem consumir quantidades enormes de ansiolíticos, anti depressivos e medicamentos para dormir, que não devem ser nem chá de tília nem de camomila. Netanyahu não tem falado muito sobre a situação em Gaza ultimamente. Naftali Bennett, Ministro da Defesa, foi visitar o Pentágono há poucos dias. A fazer exigências de boné na mão ou a bater com o sabre na mesa?

Naftali Bennett

O silêncio do governo em relação a futuras operações em Gaza deixa o país muito desassossegado.

Bibi apareceu em vários acontecimentos políticos menores nos últimos dias. Deixou a promessa de um golpe esmagador. Mas estas palavras clamorosas não escondem uma política subterrânea de contenção a quase qualquer preço, uma estratégia oculta, alternadamente, por retórica bélica e silêncio estrondoso ou repetição de medidas que geralmente já foram tomadas antes.

De notar que os chefes dos conselhos regionais israelitas na área em torno de Gaza, sabem que maioria dos seus eleitores tradicionalmente se inclina para o centro ou para a esquerda.

Talvez o primeiro-ministro encontre tempo no futuro para dar algumas lições sobre o assunto aos residentes do sul, mesmo àqueles que não votaram no Likud nas últimas eleições.

Quando a Autoridade Palestiniana ataca Trump, o Hamas não pode ficar para trás. Enquanto isso, o governo israelita sobre nadante, não esquece a futura eleição dentro de um mês, e não tem pressa da fazer soar os tambores da guerra.

Benjamin Netanyahu, parece preferir dar mais visibilidade a um prisioneiro devolvido por Moscovo a Israel, e conseguiu esconder, nas brumas da memória, a Faixa de Gaza. O ministro da Defesa Naftali Bennett, o homem que agrediu impiedosamente o governo por causa dos brandos costumes do governo em relação a Gaza até ter assumido o cargo – ainda não comentou o assunto.

Cerca de um ano e meio atrás, como ministro da Educação e membro do gabinete de segurança, Bennett irritou-se muitíssimo com o chefe militar anterior, Gadi Eisenkot, que não cedeu à exigência de ordenar que o exército abrisse fogo contra os habitantes de Gaza que estavam a enviar balões incendiários. Agora, após um longo período de silêncio, os balões retornaram, desta vez carregando com explosivos mais perigosos. A Bennett bastava ordenar ataques ocasionais a alvos do Hamas e já atuava de acordo com o que anteriormente exigia: ação!

Mas a resposta foi menor: ataques aéreos em alvos específicos. Enquanto isso, a transferência de dinheiro do Qatar para Gaza, que Bennett condenara fortemente quando estava fora do governo, continuou agora sendo Bennett ministro da Defesa. O mesmo Bennett sempre foi a favor da anexação unilateral da Cisjordânia. Bennett opõe-se à criação de um estado palestiniano: “Farei tudo ao meu alcance para garantir que eles nunca obtenham um estado”.

Em resposta à libertação de prisioneiros palestinianos por Israel em 2013, Bennett disse que os terroristas palestinianos deveriam ser mortos, acrescentando: “Eu já matei muitos árabes na minha vida, e não há absolutamente nenhum problema com isso”. Bennett foi amplamente condenado por essas palavras, embora tenha negado tê-las dito, alegando ter dito apenas que “terroristas deveriam ser mortos se representassem uma ameaça imediata à vida de nossos soldados quando em ação”.

Ou seja, Bennett é caça grossa! Ter um Ministro da Defesa deste calibre dá ânimo a qualquer país!

Netanyahu está sob a influência de exigências. A frente com o Irão é muito perigosa, enquanto o duvidoso Negócio do Século parece um barco periclitante no meio do mediterrâneo, mar onde diariamente se afogam esperanças. Nos últimos meses, consta que os líderes do Hamas em Gaza fizeram uma escolha estratégica para a calma a longo prazo.

E até o embaixador dos EUA em Israel David Friedman disse no domingo, 9 de Fevereiro, que qualquer “ação unilateral” de Israel para anexar partes da Cisjordânia antes da conclusão do processo em curso no plano de paz do governo Trump no Oriente Médio resultaria na retirada do apoio americano à soberania de Israel nos colonatos  da Cisjordânia. Está esclarecido porque Netanyahu está manietado.


Por opção do autor, este artigo respeita o AO90


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