Durante o Estado Novo e, principalmente, após o 25 de Abril as associações e colectividades proliferavam. A participação nestes grupos, fossem eles grandes ou pequenos, permitiu que os portugueses encontrassem uma forma de resistir à ditadura imposta, de conviverem e partilharem ideias.
Foi do associativismo que saiu a maioria daqueles que, mais tarde, vieram a ocupar funções públicas de relevo na sociedade, já que estes eram também pólos de resistência antifascista, de organização, luta e consciencialização do povo. Ainda antes da liberdade e da democracia, estes eram espaços onde o direito de livre associação, de expressão e de opinião estavam garantidos, mesmo que na clandestinidade.
Tudo isto levou a que, com o 25 de Abril, e após décadas de opressão e falta de liberdade, a sociedade portuguesa assistisse a um boom de associações e da própria participação social. Às associações de moradores, culturais, desportivas ou recreativas, juntaram outras, de novas áreas de intervenção, como a defesa dos direitos da mulher, dos deficientes, dos estudantes ou do ambiente, com especial destaque para o Norte do país, onde apareceu o Grupo Autónomo de Intervenção Ecológica do Porto, a Pirâmide ou o Núcleo Português para o Estudo e Protecção da Vida Selvagem.
Simultaneamente, assistiu-se também a um aumento exponencial das Instituições Particulares de Solidariedade Social e das cooperativas e fundações. De facto, cerca de metade das associações existentes hoje em Portugal decorrem do 25 de Abril de 1974.
Mas este boom, incentivado pelo abrandamento da pressão social e política a que o país estava subjugado, acabaria por se esfumar ao longo dos anos.
Actualmente, a participação dos portugueses em associações ou colectividades é muito reduzida, sendo que a maioria da população nacional não pertence a nenhum movimento ou grupo de cidadãos.
Melo de Carvalho, na sua obra de 2002, “Associativismo, inovação social e desenvolvimento”, explica que Portugal tem mesmo o mais baixo índice de associativismo por habitante de toda a Europa.
Segundo o autor, e apesar deste cenário, as estatísticas demonstram que, desde o 25 de Abril de 1974, “o número de colectividades tem vindo constantemente a aumentar, mantendo um balanço positivo entre as associações que são criadas e as que desaparecem”.
Os dados da Confederação Portuguesa das Colectividades de Cultura, Recreio e Desporto parecem confirmar tal citação ao apontar para a existência, em todo o território nacional, de quase 7 mil associações com um total de um milhão de associados, e de 18 mil clubes e colectividades, com mais de três milhões de associados.
A “crise do associativismo”
Se é certo que o movimento associativo está intrinsecamente ligado à democracia, é também unânime que este desempenha um contributo essencial de apoio à acção do Estado.
Por isso mesmo, a manter-se esta “crise do associativismo”, Sandra Lima, autora do estudo Participação social e associativismo em Portugal, acredita que a sociedade portuguesa poderá ver agravados “muitos dos fenómenos negativos que a caracterizam”.
“O associativismo cultural e social continua a persistir como disposição fundamental para a dinâmica social do presente. O movimento associativo, através das suas diferentes estruturas, desempenha um papel insubstituível no contexto social global, fornecendo um contributo essencial dirigido ao interesse geral”, afirma a autora.